26 de julho de 2005

LICENÇA PARA MATAR




Os noticiários de TV são úteis pelo que nos mostram sem querer. A passeata por Jean Charles Menezes em Gonzaga, interior de Minas, apresentada antes de uma matéria sobre a exportação de carne brasileira para Rússia, Hong Kong e China, mostrava uma população desnutrida, precocemente envelhecida em sua dignidade e pobreza. Seu Matosinho, pai do eletricista morto, é o retrato dessa situação: abatido não apenas pelo assassinato torpe do filho, pela perda, pela dor, mas também pela falta de proteína, que exportamos alegremente, com o apoio incondicional disso que chamam jornalismo, mas é apenas marketing. Enquanto isso, o chanceler de um governo crivado de corrupção e que, provam os documentos, segundo a deputada Denise Frossard, estava cercado por uma organização criminosa que desviava recursos públicos, vai a Londres de chapéu na mão. Ou seja, quer que o governo britânico, que deu licença para matar, depois se arrependeu e depois voltou atrás do seu arrependimento, indenize a família da vítima. Pois devia mandar os britânicos socar o dinheiro deles. Não há libra que pague o assassinato com oito tiros da nuca (segundo a mais recente versão) de um cidadão honesto que, se fugiu, foi para se defender dos algozes à paisana que o perseguiam de pistola na mão (sobre o evento tem um texto ótimo no La Insígnia, de autoria de Alberto Piris).

FUINHA - Com sua insuportável cara de fuinha, Tony Blair, esse assassino confesso, que mata diariamente no Iraque em nome da democracia que eles não têm, veio na maior cara de pau pedir desculpas, mas ao mesmo tempo justificar a ação terrorista da polícia psicótica, tão incompetente que sua falta de eficiência já faz parte da literatura há mais de um século, como provam os livros de Sherlock Holmes, que foi inventado exatamente para provar que os policiais de lá são umas bestas ambulantes. Segundo denúncia, foi a polícia britânica que, formada na repressão à Irlanda, ensinou a torturar presos em todo o mundo, inclusive no Brasil. Esses são os paladinos da democracia, que matam por vocação e que têm como herói o agente secreto de pastinha suspeita, o cara que pode assassinar enquanto come as fêmeas disponíveis no sistema da pirataria internacional. Quem está reagindo a esse evento, que é culminante na atual situação de poder da direita mundial, porque a desmascara completamente, é a imprensa livre e o povo brasileiro. As autoridades estão fazendo o seu papel, o de se expressar por meio de gentinha sem escrúpulos.

ORNITORRINCO - A canalha que empalmou o poder no mundo todo precisa ser imediatamente apeada do poder.Eles são uma ameaça à sobrevivência do gênero humano. Querem manter o império nas mesmas condições em que formataram no passado. Estão apoiados no sistema financeiro expropriador de riquezas e invasivo de territórios e na força militar escuadada no poder das armas de exterminação em massa. Desmascaram-se na sua natureza punitiva, que não reconhece a existência de outros países. No Brasil, confirmam-se as teorias de Roberto Schwarz (a sobrevivência de práticas ultrapassadas convivendo com a contrafação de mentalidades modernas, o que só serve para confirmar nosso atraso e justificar o avanço do imperialismo) e Francisco de Oliveira, que nos coloca como um monstrengo social, o ornitorrinco: "O ornitorrinco é isso: não há possibilidade de permanecer como subdesenvolvido e aproveitar as brechas que a Segunda Revolução Industrial propiciava; não há possibilidade de avançar, no sentido da acumulação digital-molecular: as bases internas da acumulação são insuficientes, estão aquém das necessidades para uma ruptura desse porte. Restam apenas as acumulações primitivas, tais como as privatizações propiciaram: mas agora com o domínio do capital financeiro, elas são apenas transferências de patrimônio, não são, propriamente falando, acumulação. O ornitorrinco está condenado a submeter tudo à voragem da financeirização, uma espécie de buraco negro: agora será a previdência social, mas isso o privará exatamente de redistribuir a renda e criar um novo mercado que sentaria as bases para a acumulação digital-molecular. O ornitorrinco capitalista é uma acumulação truncada e uma sociedade desigualitária sem remissão". Por isso exportamos escravos para o Primeiro Mundo. Quando alguém tenta sair da vala comum, é fuzilado pela paranóia. E por isso Francisco de Oliveira se recusou a falar sobre o governo Lula. "Não tenho nada a ver com esse sujeito" disse ele, que um dia embarcou no sonho furado do PT e teve a dignidade de sair a tempo.

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