13 de julho de 2005

ALGUMAS FORMAS DE SOLIDÃO




O marketing pessoal é uma forma aguda de solidão. É quando substituímos o Outro, o interlocutor, por nós mesmos. Falamos, ou o que é pior, escrevemos, para nosso deleite, para nos convencer que somos tudo aquilo mesmo. Claro que ninguém daria ouvidos a semelhante asneira, então nos postamos diante de nós com os ouvidos atentos e os olhos abertos, prontos para receber a carga de mensagens absolutamente verdadeiras que vem dos fatos sem contestação. Assim mesmo, desconfiamos que o truque não dará certo. Então pintamos o elefante de amarelo canário, escolhemos o mais brilhante couchê 150 gramas, fazemos um travelling em close-up na nossa fuça e colocamos ao fundo uma peça magistral de Villa Lobos (ou algum sucesso do hip-hop, tanto faz). Ficamos então na medida certa para o consumo.

A amizade verdadeira, ou sua divindade, o amor, passa ao largo do marketing pessoal. São sentimentos alheios à perfeição e por isso se alimentam dos erros, exatamente pelo poder que possui o próximo: errar é a única coisa suportavelmente humana quando admiramos ou amamos alguém.

Outra forma de solidão é ser escritor no Brasil. As feiras literárias atraem mais gente pelo carisma das celebridades do que pelo interesse nos conteúdos. Poderão contra-argumentar: isso é "normal". Acho tudo anormal. O não-livro toma espaço das estantes e de todos os corredores, onde sobram palhaços e engolidores de fogo. Outra figura carimbada nas rodas literárias é o arrivista que vai conquistando espaço na medida em se inscreve nos vários fóruns disponíveis, da universidade aos cargos públicos. Escrever é secundário e muitas vezes perigoso. O importante é parecer ser e ter costa quente.

Costumo dizer que ser poeta e ao mesmo tempo editor de cultura é redundância. Como sou contra os vícios de linguagem, prefiro o jornalismo de negócios, onde não há esse tipo de ilusão. Quando estava na Ilustrada, na Folha de S. Paulo, alguém me falou que seria triste passar a vida toda entrevistando as mesmas pessoas. Ou pessoas com o mesmo tipo de ocupação. Mas isso existe em qualquer nicho do jornalismo. O ideal é assumir a natureza da profissão, que é não se restringir a tipos de conteúdos, mas à excelência do ofício.

Conheci pessoalmente Rodrigo Schwarz, que neste dia 12 lançou aqui em Floripa, na Livraria Catarinense, seu romance de estréia, A Ilha dos Cães. Fez uma belíssima dedicatória, exagerada, que me encheu de alegria. Rolou conversa e vinho, ideal para encontros entre pessoas, o que ameniza a solidão dos escritores, criaturas dedicadas a inventar coisas em salas minúsculas, sótãos, escritórios atulhados de papéis. Gosto de lançamento em livraria, o lugar certo para difundir a existência de um livro. Já lancei também em bar, mas não acho apropriado. Pode até ir mais gente, mas aglomeração artificial diz pouco sobre a natureza do evento.

Quatro escritores agradeceram a inclusão na minha lista dos mais importantes: Rodrigo, Urariano, Tailor e Japiassu. A seleção que fiz inclui Pernambuco, Paraíba, Minas Gerais, São Paulo, Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul. É a revolução de 30 da literatura brasileira.

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