24 de abril de 2020

FUNDO DE GAVETA

Nei Duclós


Fui treinado para o silêncio
Abro a boca só quando bocejo
De vingança não escuto mesmo
Sou invisível nos lugares que frequento
Como neutrino que não deixa marcas
Todo espaço é propriedade alheia

Sou como na história dos homens de preto
Que não são vistos tocando a boiada
Pois viraram sombras em cavalos negros
Seus olhos brilham como boitatás no ermo

Quando digo eu é de você que falo
Sou o personagem que evito conhecer
Atribuo tudo ao Outro para ficar à parte
Porque fui treinado para ficar em silêncio
Até quando os trabalhos de ser excludente
São repassados para alguém que nem desconfia
Das intenções que escondo em fundo de gaveta



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