14 de março de 2016

13 DE MARÇO de 2016: FORA DA MOLDURA



Nei Duclós

1. A manifestação megamonstro em 22 estados extrapola as limitações da gavetinhas políticas e ideológicas. A dimensão do evento é inédita no país.

2. Milhões de pessoas nas ruas não podem ser enquadradas como golpistas nem fascistas. A diversidade natural abriga tudo que é tendência, mas majoritariamente a insubordinação é pela ética e a sobrevivência nacional.

3. O alvo foi o governo e os protagonistas da corrupção: políticos de vários partidos, empreiteiros, autoridades em cargos importantes etc.

4. O alvo está fora, portanto, da moldura deste ou daquele adversário: a indignação é ampla e atinge todos os suspeitos e acusados, de qualquer posição.

5. Tanto o ex-presidente foi citado nas ruas quanto seus adversários políticos foram vaiados. A insubordinação não se conforma com qualquer lado da ideologia.

6; O que está em cheque não é o cargo de presidente, mas o sistema político todo.

7. O atual sistema é estuário dos equívocos herdados da ditadura, de uma transição mal costurada numa democracia de cartas marcadas, com votações suspeitas de fraude e tráfico de influência.

8. O atual sistema começou com um vice eleito em votação indireta que nem tinha assumido o cargo ainda, uma solução ilegítima encampada pelos caciques.Urge construir uma solução que não se esvazie no engessamento atual.

9. Assim como os acusados de corrupção não são de esquerda, os que tentam usufruir das denúncias não são de direita. Conceitos estão num nível muito sofisticado diante da barbárie. O que há são oportunistas, que criminalizaram a política.

10. Enquanto a população se acusa mutuamente de bandido ou golpista, os maganos usurpam o poder das urnas desviando os recursos da nação, que arrosta a violência crescente, a crise econômica e a falta de perspectivas.


MUDANÇA RADICAL

O repúdio às falsas lideranças que medraram na estufa da tirania é o sinal mais explícito da mudança de postura da política brasileira, que tem agora como protagonista a população mobilizada e em alerta permanente. Não são os bolsonaros, os felicianos, os alckmins, os aecios, os lulas e fhcs que podem se aproveitar das indignação nacional para fazer carreira com a mentalidade tosca do obscurantismo. São as instituições fortalecidas pelo exercício legal de suas funções que cumprem o papel decisivo da transformação do Brasil. A isenção e a responsabilidade do Judiciário, da Segurança e, no futuro, do Legislativo e do Executivo, deverão pautar a nação expropriada de suas chances de sobrevivência. É questão de vida ou morte. A massa de brasileiros não cabe em Miami nem na Europa conflagrada. Ou resolvemos aqui ou vamos perecer.

Depois do 13 de março, em que a monumental multidão assombrou as telas do país para dizer chega, a burrice bem posta aliada à roubalheira desenfreada deve encerrar seu capítulo de misérias. Fora da moldura, o radical evento põe no chinelo as picuinhas ideológicas, o tititi pseudo filosófico, os articulistas do óbvio, os mentirosos de sempre. Nas ruas, praças e avenidas a nação peita seu maior desafio e readquire a grandeza perdida.,

A arenga aparelhada do anacronismo dos pretensos produtores de pensamento, que tomam conta dos espaços da mídia fazendo água com a revolução digital, é o sintoma da ultrapassagem que a História faz de quem usa a própria biografia para compartilhar o butim disputado pelos facínoras. O discurso em ruínas, que acusa de ideologias desmoralizadas a maioria de imagem distorcida, não cola mais. Quem se insurge contra o descalabro nacional nem quer a volta de ditaduras nem compactuar com fascismos de esquerda, centro ou direita. Há quem queira, mas não são significativos. A diversidade comporta todo tipo de posição, mas o que conta é a lucidez aliada á coragem da massa mobilizada.

Descambou a argumentação fajuta que tenta enquadrar a reação coletiva contra a destruição do país. Desse caldo em fogo e vivo em que governadores e candidatos a presidentes são escorraçados pela massa com acesso à informação disseminada em rede, forja-se a nova síntese que não mais depositará todos os ovos na mesma cesta de indivíduos que acabam tomado rumos suspeitos. O próprio processo seletivo da contundência da oposição fora da moldura vai definir quem sobrevive para manter o país em pé. Certamente nenhum desses coniventes com o vampirismo dos recursos públicos, em que todos os impostos vão para o bolso dos espertalhões, tanto no sistema “legal” de farta remuneração quanto pelo crime organizado que avançou em tudo, do petróleo à merenda escolar.

E não adianta transformar juízes corretos em heróis nacionais. O heroísmo aqui é da vida de cada um que transcende o arrocho das rotinas sem esperança para criar soluções acima da besteirada hegemônica. Não escaparão nem as grandes empresas de comunicação, as megaempreiteiras, as corporações monopolistas, o sistema de arrocho fiscal e financeiro, o roubo puro e simples. A punição é mais embaixo. E ela deve permanecer como uma instituição nacional, permanente, que elimina o veneno para instaurar a medicina eficaz. O confronto não é entre vermelhos e verde-amarelos. É entre o massacre do país e a sua salvação.

RETORNO - Imagem desta edição: foto do El País.

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