9 de agosto de 2013

QUANDO VENTO



Nei Duclós

Quando vento, empurro tuas velas para o meu porto.

Milhões de plumas flutuam diante dos meus olhos. Mas só as tuas brilham, susto de tormenta.

Esqueceste de apagar teu rastro. Descobri tudo quando acordei.

Ficas com todos os versos. E me jogas pela janela.

Submerso, em pânico te enxergo. Estás pronta para subir à superfície.

É intransponível a montanha do nosso convívio. Não chegas no outro lado para ficar livre. Perdes o fôlego na subida, pálida passarinha.

Tua doçura me impede de te chamar de bandida. Mas merecia.

Deus te inventou para o tormento. É o preço que pago por um dia seres para mim tanto.

Jogas comigo inutilmente. Sabe que sou criatura das cavernas e não cedo à mestra de marionetes. Mas se diverte se equilibrando no arame vestida só com tua graça.

Ser tão bela contrai dívidas. Pague em beijos.

Basta você surgir para eu rolar no abismo.

Você pousou por um segundo. E sumiu no mesmo instante para evitar o que o teu coração já decidiu.

Volta, nem que seja para dizer bom dia.

Pouse, nem que seja quando imagino.

Goste de mim, disse ela. Já falei que gosto, disse ele. Não precisa falar, disse ela.

Verso de amor, quando o amor acaba, é vidro vazio sem transparência. Sufoca toda luz que tinha dentro.

Mil poemas não são suficientes. Faça então um arabesco.

Sou suspeito. Sempre falo em código aberto. Jamais te surpreendo. Repito o que me faz humano.

O caminho fica escasso e acabará em neblina. Chovo para que fiques comigo.

Hoje não faço mais versos. Aprendi a solfejar estrelas.

Escrevo para que me esqueças. Um dia lembrarás, açucena.

Desenho a letra no joelho. Recitas quando te dou colo.

Você deu um tempo. Depois pegou de volta.

Ninguém te entende, amor intraduzível.

Ficamos esperando um sinal de mudanças e só ouvimos o gargalhar digital dos relógios.

Deixaste o poema de lado. Quando partiste, ele levantou e seguiu teu ônibus, latindo.


DANÇAR É DEUS

Estrela de dia passeia com sol a pino. É uma boemia pelo avesso.

Adicionei você ao meu círculo. Agora roda.

Quando disserem que você deve estar louco, peça para mandar por email.

As redes sociais só pegam peixes pequenos

As bobagens não fazem bem aos currículos. Mas por motivos misteriosos costumam fazer parte deles

Sou o meu próprio irmão, disse o filho único.

Melhor esquecer o que você acaba de lembrar. Não tem importância mesmo.

Na outra encarnação fomos água.

As bobagens eram muito apreciadas na Idade do Bronze. Serviam para temperar metais ferruginosos em altas temperaturas.

Amamos porque não temos mais nada importante para fazer.

Se você ainda não dormiu, é porque está acordado.

Pronto, o mundo parou. Agora desce.

Marte não tem plantas porque lá não tem Terra

Madrugada é quando a Lua se esconde, mergulhada em lagoa.

Quando aqui é meia noite na China é 1,99.



RETORNO - Imagem desta edição: obra de Degas.