24 de dezembro de 2010

PRESÉPIO


Nei Duclós

O nascimento é a inocência entre animações,
o acaso marginalizado pela celebração,
a contenção diante do derramamento,
a devoção antes da fé

Na cidade turística lotada,
até dormir no estábulo custa uma nota.
E não tem serviço de quarto:
se der à luz na madrugada, chame o boi

O sino que tocou para a ordenha
já era o balido do novo tempo,
a primeira articulação da palavra
que se definia depois do ventre

A estrela cadente projeta a sombra
do seu risco no lombo do mar em fúria.
Só os iniciados conseguem ler
o caminho oculto nas ondas

Na casa mais afastada,
onde todos dormem cedo por falta de velas,
e a rosa-dos-ventos sopra em sentido anti-horário,
é lá que nasce o Salvador


RETORNO - Imagem desta edição: a Natividade segundo Boticelli.

Nenhum comentário:

Postar um comentário