3 de julho de 2010

FUTEBOL PARA INICIANTES


Sou veterano em futebol. Ajudei a fundar um time há 50 anos, que está vivo até hoje, o E.C. Guarani, de Uruguaiana. Fui goleiro da minha rua, da minha classe, do meu colégio. Fiz gol no ângulo numa aula de educação física e outro por cobertura, chutando do canto, que bateu na trave e entrou. Fechei o gol em inúmeras ocasiões, defendendo vários pênalties num único torneio. Vi gol de Pelé ao vivo, no estádio Olímpico de Porto Alegre. Vi a seleção de 70 jogar antes de ir para o México ser tricampeã.

Sou gremista e corintiano sem nenhum fanatismo, até mesmo com algumas desistências cíclicas, quando torcer me enche a paciência. Escrevo razoavelmente sobre esporte há vários anos. Acompanho a Copa do Mundo desde 1962. Vejo os principais jogos dos campeonatos estaduais e federais. Não sou, portanto, iniciante. E posso pontificar sobre futebol para mostrar alguns caminhos para os iniciantes. Não me refiro aos torcedores, que são profissionais do ramo. Mas aos falsos entendidos em futebol, que vivem dizendo coisas na mídia, que erram todos os prognósticos e sentem raiva de técnico da seleção. Vou dizer como a coisa funciona.

Não existe futebol alegre. O que é alegre é a cena que você compõe na memória. Você junta as melhores lances na cabecinha e acha que esse é o futebol brasileiro. Como o paradigma não funciona na prática, porque futebol dá trabalho, você vive se decepcionando, dizendo que este não é o futebol brasileiro, e imediatamente migra para o Cristiano Ronaldo, o Drogba, o Messi e quem mais for surgindo na tua frente

O futebol é triste como um blues. É um jogo que se joga com os pés, porra, e não com beija-flores no cocuruto ou borboletas na lapela. Isso não quer dizer que seja obrigatoriamente bruto. Só é bruto quando o Tevez faz gol impedido no México ou o Messi dá um totozinho, desses que o Ronaldo vive acertando no gol e erra. Não é bruto quando o capitão Lucio ganha a parada, ou Zito e Vavá rompem na área, mas quando um cavalo como o Felipe Mello pisoteia o jogador holandês. Ou seja, há tristeza no futebol, há brutalidade, mas como num blues rascante, há melodia, graça, leveza e grandeza. Há chapéu na área e folha seca. Isso é blues, não lambada.

Para você provar o que te digo, quebre a rotina e pense um pouco. Todos os seus prognósticos da Copa furaram, porque a realidade no futebol, jogo dialético por excelência, que vive imerso em paradoxos, não é para o teu bico. Você apostou na França, na Inglaterra e que sei eu mais e pronto, foram todos embora. Por que? Porque você é um iniciante e acha que é entendido. Estava na cara que os farsantes que ludibriaram a Irlanda nas eliminatórias, como fizeram os jogadores franceses, tinham perna curta. E que aquele bronco do Rooney nunca foi craque pois isso é uma invenção de vocês, que não enxergam as evidências.

Craque é o Elano, que ninguém dava nada e fez mais gols que o fenômeno Messi, que não fez nenhum. É o Maicon, que fez gol sem ângulo. É o Robinho, herdeiro de Pelé, é o Juan, o Lúcio, não o Verón, o Cagón e o Bostión. Entenda, ser estrangeiro é uma merda, por isso foi inventado o Brasil, para os estrangeiros se livrarem dessa sina. O mundo inteiro veste a camisa canarinho pentacampeã do mundo, só vocês que não. Por que? Por que são idênticos ao Maradona, usam óculos escuros com diamantes e confundem a faísca da jóia com a própria identidade. Vão carpir um lote.

Quando o Brasil é eliminado nas quartas de final, não baixem a calças para o Zizou ou o Robben. É feio baixar as calças. Deixem as calças postas, as botas postas, o cinto apertado e carreguem a cartucheira que lá vem bala. E se perguntem porque milhares de paraguaios celebraram suas conquistas no Mato Grosso. Não existe mais fronteira por lá? Outra coisa: toda vez que você ouvir falar de um homem integro, digno, corajoso, como Dunga, não abra a matraca numa risada estertórica. Ponha-se de pé em sinal de respeito.

Porque o capitão da seleção canarinho pentacampeã do mundo está passando na sua frente. Um patriota lutador é raro hoje em dia. Aprenda com ele e não diga tanta asneira. Vai chutar uma bola de meia para ver que a jabulani é pinto perto de uma resma de papel amassado no terreno baldio esburacado e íngreme. Vai esfolar o dedão, como eu fiz na infância para aprender a respeitar os jogadores, aqueles que se quebram em campo defendendo as cores nacionais. Não os chame de comerciantes. Alguns são, mas a maioria não.

Goste do seu país, seu coisa, que o país existe para a nossa sobrevivência e por ele somos capazes de pegar em armas, que dirá formar uma equipe e enfrentar os coxas brancas e os coices de todas as cores em territórios ermos de Brasil, lá onde a coruja pia e Deus está na arquibancada vendo como você vai se sair dessa.

Aprenda enquanto estou vivo.

RETORNO - Imagem desta edição: tirei daqui.

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