2 de maio de 2008

SIM, SIM, SEGURO


O Brasil sobe ao pódio dos países considerados seguros para os investimentos. É manchete em jornais do mundo todo. Ou seja, a bufunfa estrangeira pode aportar aqui que não levará cambau. Sairá maior do que entrou, nessa mágica estapafúrdia da ditadura global. Mas pergunto: como pode o Brasil ser considerado seguro se só em Pernambuco este ano foram assassinadas 1.500 pessoas?

Se agora somos donos do próprio nariz, como alardeou o presidente Lula, por que o Banco Mundial ofereceu 7 bilhões de dólares para obras de infra-estrutura (que garantirão o escoamento mais eficiente das riquezas nacionais para o bucho estrangeiro)? Se somos tão independentes, por que precisamos dessa grana vinda de fora para fazer o que precisamos aqui dentro?

A China inaugurou a maior ponte do mundo sobre o mar. Levou quatro anos e gastou um bilhão e meio de dólares, que é uma soma comum dos escândalos de desvio de verbas no Brasil. Sete bilhões desaparecerão no ralo de coisas como modernização dos portos (assunto de décadas), ferrovias (ah, sim), estradas (então, tá).

“Mientras tanto”, como dizem os argentinos, o governo abriu mão de impostos para manter a gasolina sem aumento, enquanto liberou o preço do diesel, o que se reflete no transporte público e no de alimentos. O importante é manter o suborno da classe média, velho expediente do regime de 64, implantado pelo seu grande prócer, Delfim Netto, atual e eterno guru das finanças nacionais (que portento!).

Alguma coisa está errada. Se celebram tanto o fim da ditadura, fazem tantos eventos exibindo caras de bois compungidos, falam tanto em tortura, por que o Delfim Neto, tzar da economia da era Médici, continua solto? Ficam enchendo o saco com maio de 68 enquanto em maio de 2008 continuamos na mesma lenga-lenga, uma economia voltada para fora num país à deriva.

O noticiário televisivo é um desplante só. Aparece o rosto do grande e emérito cientista dizendo que a cana é uma graça divina e está no seu esplendor produtivo. Aí vem outro tubarão e garante que o canavial ocupa apenas um por cento das terras aráveis brasileiras. Não diz que a área coberta pela cana avançou cidades adentro, invade a Amazônia etc. As figuras lombrosianas que dominam os processos produtivos, distribuição e tudo o mais, dos insumos básicos da economia brasileira, são de amedrontar rinoceronte na savana.

Como pode ser seguro o país da bala perdida? Dos escândalos sem solução? Das crianças assassinadas por todo o canto? Das extorsões policiais contra bandidos, como deu no Jornal Nacional? Como pode ser seguro se aparece em pleno horário nobre a figurinha de um duende cabeludinho de pancake no rosto, que se apresenta como um dos líderes de um partidinho de aluguel?

Como pode ser seguro um país que mata jornalistas, como cansa de noticiar o Comunique-se? Como pode ser seguro se o presidente em segundo mandato diz que oito anos é pouco e assim engrossa o coro do golpe de estado do terceiro mandato? A não ser que o golpe de estado seja a segurança que eles tanto professam. Vai ver é isso mesmo. Seguro, sim, seguro. Mais cem anos de ditadura.

RETORNO - Imagem de hoje: manifestantes lembram os assassinatos no Brasil.

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