23 de maio de 2006

O HÁBITO E A ESPERTEZA





Depois da confronto entre o exército organizado do crime e a polícia descosturada e dividida em São Paulo, qualquer chance de voto do sr. Alckmin terá de ir forçosamente por água abaixo. Não se sustenta também qualquer simpatia para os desabafos do sr. Cláudio Lembo, que usou a velha artimanha de atacar as elites, como se à elite não pertencesse, juntos com os veículos que celebraram sua falsa autenticidade. Votar em Pedro Simon ainda é uma impossibilidade, pois os caciques horrorosos do PMDB é que mandam no pedaço e tudo farão para fechar com Lula. E votar novamente em Lula, depois da seqüência de erros do seu governo, é insistir no mesmo crime e fechar com suas traições. Esse é o balanço. Ontem conversei com alguém que vai cometer de novo o voto ao atual presidente. O hábito imprime o raciocínio: quem é culpado pela corrupção é o José Dirceu; o governo precisava fazer caixa para a campanha; o que há com a Bolívia e a Venezuela é pura esperteza política do Lula; o Brasil está crescendo!; existem menos pobres no país! Meu Deus, somos em política o que somos em cultura. Estamos fritos.

PALAVRAS - Há um travo amargo de campanha na nossa conversa. É o momento de fazermos inimigos. As amizades somem, os ressentimentos afloram. O que levas a vida inteira para construir é demolido em poucos meses. Há, ao mesmo tempo, obsessões e preguiça nas mentes e corpos. Por que se meter nessa arapuca? No momento em que recebemos ligações de criminosos querendo levantar nossos dados, em que a violência se espalha por todas as relações humanas, em que todos empinam o peito como se fossem infalíveis e corretíssimos; em que obrigam a mentir no trabalho porque é assim e sempre será; em que vês a enormidade dessa armadilha, então pensamos em cair de banda, nos encerrar em casa e calar-se para sempre. Será um alívio para todos, seu grande boquirroto. Vê se te fecha, como diziam os adultos para a gurizada da minha geração. Essa proibição nos levou às ruas para berrar palavras de ordem. Abaixo a ditadura e fora o imperialismo era a melhor delas. Ainda está valendo.

IDIOTIA - Existe uma espécie de loucura permanente no país que se expressa nos programas de televisão aberta. A qualquer hora do dia ou da noite há um monte de imbecis, normalmente seminus ou de roupinhas coladas, dançando a berrando freneticamente e agitando lenços. Há também especialistas em inutilidades a proferir sua oratória nauseabunda em todos os programas. Quem elegeu essa súcia como porta-vozes da correção? Quem disse que a população suporta a livre expressão da bandalheira explícita em cima de palcos de idiotia? Vejam o Gilberto Barros. Numa demonstração de uma banda cover do Credence (o Brasil adora macaquear, já avisou Sergio Buarque de Holanda há quase um século), lá estava ele com seu terno marronzinho, seu bigode, seu bem fornido entusiasmo, dizendo que um dia ele foi assim, livre, mas agora... Ou seja, quem desistiu assumiu o posto chave de ensinar idiotices para o povo, demonstrar que somos um bando de macacos, impedir que o Brasil se manifeste em toda a sua grandeza.

BARBIE - Vejam a carinha pó de arroz do Gugu Liberato, com sua pretensa seriedade, ele que é um apelador-mór; tentem suportar o Faustão berrando horas em horário nobre, justificando tudo o que sua emissora faz, chamando o telespectador de galera, como se as galés fosse nosso único destino; tentem entender o sofá mofado de Hebe Camargo; e o qwue fazer com a vontade que existe de excluir aquela cara de porquinho do Luciano Huck, oferecendo mulheres peladas para a audiência? E a porção mulher das posições corretas, a Angélica, enchendo o saco de todo mundo com seu perfil de Barbie temporã? Vamos confrontar essas pessoas, denunciar quem os patrocina, impedir que venham à tona. Vamos derrubá-los dos seus fétidos pedestais.

RETORNO - A foto de Marcelo Min no largo São Bento entra aqui pela excelência do trabalho do Olhar Absoluto. Mas é um abuso de minha parte, pois Min achou corajosa a entrevista de Lembo a Monica Bergamo. Vejam tudo no Fotogarrafa.

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