15 de fevereiro de 2006

EXCLUSÃO E SEGUNDA CHANCE NA AMÉRICA




Lost é soma, assim como Married with children era confronto e Seinfeld desconstrução. Depois que Al Bundy e família destruíram a América babaca e Jerry e seus três amigos (um deles é mulher) jogaram fora os cacos do que sobrou, o doutor Jack e sua turma chegaram para trazer de volta o que mais a América precisa: seus fundamentos, princípios.

O que é um faroeste senão um personagem excluído por ter desperdiçado sua primeira chance, que chega sozinho na cidade para enfrentar seu destino? Shane, Django, Os Imperdoáveis. Exclusão e segunda chance são os temas recorrentes de Lost. Um grupo está excluído da civilização. Cada personagem é um outsider: a ex-presidiária, o golpista, o filho de pai alcoólatra, o filho de pai separado, a mãe solteira, o guitarrista fracassado, o caçador burocrata, o ex-soldado iraquiano. Este, Sayid, encontra Danielle, a francesa que está há 16 anos na ilha, também só e excluída. Ela não terá a segunda chance? A mulher que Sayid torturou e era sua colega de infância ainda está viva? Há esperança no caos?

Sim, e ela se chama espírito de grupo. E o grupo é feito do que há de mais diverso na América: negros, asiáticos, hispânicos, caucasianos, segundo a definição deles de povo, baseados na etnia do cavalo árabe. Todos precisam abrir mão de sua identidade em nome de algo maior, a sobrevivência (chama-se Estados Unidos) . Mas há uma armadilha: para romper a exclusão e ter direito a uma segunda chance, é preciso abrir mão da liberdade, do individualismo. Assim como Al Band não conseguia se desvencilhar da mulher, ou Seinfeld dos amigos, o grupo de Lost não tem outra alternativa do que compartilhar o mesmo espaço. É o retrato da era Bush, com soldado torturador iraquiano e tudo. Sabemos, pelas fotos, quem são os torturadores do Iraque, mas deixa para lá.

RETORNO - A imagem é do clássico Shane, de George Stevens, o faroeste inesquecível.

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