Blog de Nei Duclós. Jornalismo. Poesia. Literatura. Televisão. Cinema. Crítica. Livros. Cultura. Política. Esportes. História.
28 de julho de 2025
OLHAR
26 de julho de 2025
VÍCIO
NA GUERRA
ACONTECE
21 de julho de 2025
Sesta
20 de julho de 2025
SÓTÃO
Nei Duclós
Deveria cuidar melhor
Do acervo da poesia
Acumulado no sótão
Das casas que abandonei
Melhorar as aparências
Para as visitas do rei
E assim receber os prêmios
Da glória reconhecida
Mas digo não tenho tempo
De passar lustre na vida
Ainda estou na ativa
Do esforço em duro caminho
Moro na noite e no dia
E não no limbo impecável
Do aplauso em terreno limpo
Pareço até vagabundo
Mas sou apenas soldado
E quem luta corpo a corpo
Tem a solidão mais funda
Cumprindo o roto destino
De ser último na fila
E Deus vê quem não se aplica
Em ceder sem compromisso
Com o valor sob medida
Do sótão desarrumado
Nei Duclós
19 de julho de 2025
SEM SOSSEGO
Nei Duclós
Sou um entre milhares
Teu anônimo pretendente
Já não sei se o sentimento
Virou lei de algum decreto
Ele não dá vencimento
E não cede nem compreendo
Mas a lógica persiste
Na palavra recorrente
Que revisita teu rosto
Entre tantos monumentos
Percorro estrofes, teu corpo
Com a fúria dos elementos
Esse é um amor sem sossego
Releve meu sonho, me esqueça
Que eu volto, bruto e ardente
Nao pense que serei manso
Depois de sofrer um tempo
Nei Duclós
17 de julho de 2025
DE MANHÃ
Nei Duclós
Eu enfrentaria um exército para te defender
Eu te daria mil beijos antes de morrer
Eu estaria ao teu lado mesmo sem saber
Se eu sobreviveria, estrela da manhã
15 de julho de 2025
ENIGMA
Nei Duclós
Eu estava dormindo no quarto de cima
Perto do meu irmão
Que há tempo não via
Quando veio a mãe de maneira aflita
Queria que um de nós atendesse a visita
Que batia no portão da casa vazia
Por que sonhamos coisas tão estranhas
Que ao acordar não sabemos ao certo
Quem somos nós em noite tão fria?
Acho que era dia mas não havia clima
Corria uma visão de hora tardia
Nenhuma explicação apenas enigma
Quem afinal a tantas horas insistia
Seria um sinal de que tudo está no fim?
Onde então, Providência divina
Devo me segurar no sono mais simples
Se vou despertar com a mãe que já se foi
Perto do irmão que há tempo não via?
Nei Duclós
14 de julho de 2025
POR ACASO
Nei Duclós
Amor é pensar em ti o tempo todo
Um lugar de onde não quero me retirar
Te chamam porque estás comigo há horas
Mas tu também não consegue ir embora
Esse convívio que é um momento sem igual
Em que, medrosos, matamos o tempo da estação
Até que deixamos escapar uma palavra
Conversa séria sobre o que será de nós
O clima não se desfaz, mas atingimos outro nível
Agora que decidimos não brincar
E embarcamos em direção ao mar
Posso dizer enfim que és minha mulher
No sonho que por acaso brotou só por brotar
Sou o mesmo cara que não te merecia
Fui escolhido pela beleza do destino
Nei Duclós
10 de julho de 2025
PALAVRA
Nei Duclós
Na longevidade Tolstoi descobriu que tudo era inútil
Suas posses, seus títulos, sua obra
Brigou em casa pois queria se desfazer de tudo
Tirar as vestes da sua glória
Por isso fugiu no inverno e morreu de pneumonia numa estação de trem
Rimbaud foi mais precoce
Descobriu a mesma coisa aos 20 anos e não aos 82, como Tolstoi
O autor é só uma ferramenta dos anjos que sopram a literatura
na redação das nuvens
É deixado de lado depois da missão cumprida
É esquecido mesmo com homenagens
Fica a palavra, única criação do Paraíso
Nei Duclós
REGRESSO
Nei Duclós
Remorso por não ter feito
Agora não tem mais jeito
Não conserto meus defeitos
Fico torto para sempre
Livrei-me dos compromissos
Varri a porta da frente
Lembro da mãe esperando
Na calçada o seu rebento
Que desistiu dos estudos
Depois de tanto tormento
Ela diz que não aguenta
A traição do estudante
Mas eu tinha outros planos
Abrir mão sem mais nem menos
Das ilusões da carreira
Comigo me desavim
Como dizem num poema
O pai achou muito estranho
O guri está variando
De tudo eu me arrependo
De estudioso a vagabundo
Rolando pela sarjeta
Saindo da classe média
Tudo passou, me convenço
Menos o amargo regresso
Ao sonho daquele tempo
Nei Duclós
JANGADAS
Nei Duclós
Posto demais. Mais pelo registro do que pela leitura.
Porque ninguém atura tanta produção.
É a longevidade que conduz ao excesso. Ou à falta de compostura.
Não há futuro quando a literatura no lugar de fonte vira mar.
Palavras salgadas vindas de Portugal. Que aportam no Brasil depois de Cabral.
Cais da perdição. Jangadas de não voltar.
Nei Duclós
ENFIM
Nei Duclós
O ser é o nada
O verbo ser
O nada a ver
Dizer não sou
Quando és
Nada aos pés
Surta solidão
Corso de ilusão
Andor de procissão
Um poema é o mínimo
Para sobreviver
Enfim criar amor
Nei Duclós
7 de julho de 2025
OUVIDORIA
Nei Duclós
Acho que Deus se aborrece
De ouvir sempre a mesma ladainha
Tantas vezes repetida
Sem que a reza revele
O poder de uma oração
Preciso encontrar as palavras
Que me aproximem do Seu ouvido
Onde buscá-las
Cercadas pelo cotidiano entulho?
Peço socorro a Maria
Que todo santo dia
Nos assiste
Com paciência infinita
Basta escutar os anjos, ela me diz
Os que chamam de inspiração
E são emissários do Espírito
Deus escuta
Mas poesia Ele presta mais atenção
Nei Duclós
6 de julho de 2025
AURORA
Nei Duclós
Por ter escrito tudo
Amargo esta noite o abandono do poema
Cruzei a linha de chegada
E revisito o já dito com reservas
Exagerei na dose da vocação precoce
Que na tardia idade revelou as sobras
Do verso de improviso, do texto sem retoque
Muitos não concordam e selecionam estrofes
Que cometi jovem no calor da hora
Deveria, no capricho, me aprofundar no ofício
Mas tudo veio fácil como um vento forte
Agora não sei o que dizer, em plena aurora
Talvez o sol, gigantesco sábio
Queime o remorso e revele a obra
Tudo o que fiz com sangue nas mãos e água nos olhos
Pobre coração ainda intacto
Nei Duclós
NOBREZA
Nei Duclós
Meu luxo é sobreviver
Chegar bem no fim do mês
Para então recomeçar
Sustentado pelo ar
Muitas contas para pagar
Eu dependo de você
Sem força de levantar
Rima pobre popular
Ainda tudo por fazer
O livro parei de ler
Amor que é bom só virtual
Um vizinho põe o som
Meu luxo é teu respirar
Janelas de par em par
Futuro ficou para trás
Eu não tenho mais lugar
O país caiu de vez
Mas a nobreza é ter voz
Canto para não morrer
Nei Duclós
4 de julho de 2025
SOMBRA
Nei Duclós
Este que você vê não sou mais eu
O que fui sempre serei
Guarde o que o tempo não comeu
Esqueça no que me transformei
Essa sombra de mim, que já fui rei
Prefiro preservar dias de amor
Quando fui teu
Nei Duclós
UMA FLOR
Nei Duclós
Que haja calor no inverno
para suportarmos o ar polar
E vento sul antes do sufoco do verão
E o friozinho do outono adoce os frutos da estação
E a primavera traga teu perfume
Feminino amor
Nei Duclós
CONJUGAÇÃO
Nei Duclós
Não adianta querer se você não é
Não adianta ser se você não quer
Não adianta ver se não tiver fé
Não adianta ter se nada houver
Só tem que nadar quando não dá pé
Quando for rezar pense no amanhã
Cada verso faz o teu navegar
Caia se essa força não te socorrer
Volte a levantar todo amanhecer
Nei Duclós
3 de julho de 2025
PERDIDA
Nei Duclós
Eu não preciso de tempo
Eu não preciso de amor
Podem dizer que sou lento
Não mais importa o que sou
A não ser que marques encontro
Um café ou apartamento
Que me apresse e nunca te perca
Desta vez, perdida para sempre
Nei Duclós
1 de julho de 2025
ABERTA
Nei Duclós
Estrelas da minha fantasia
Fazem rodízio no paraíso
onde vivo
Dispondo as peças do xadrez de sonhos
Sou o peão e o rei é o tempo
Que escorre pelos dedos longos
Poderia tocar piano minha flor aberta
Debaixo das cobertas
Cabem todas as teclas
Fique perto
Nei Duclós