13 de julho de 2008

AS APARÊNCIAS ENGANAM



Daniel Dantas é um banqueiro emergente, que ascendeu com a entrega, de mão beijada (mas sob gorda comissão), do patrimônio público criado e desenvolvido na Era Vargas. O banco que dirige é, no nome, uma flor lombrosiana: Opportunity. É a entronização do oportunismo, é a esperteza institucionalizada. Banqueiros como ele fazem parte do grande sucateamento da soberania promovido pelo tucanato, quando FHC recebeu, em troca, todas as honrarias com as quais sempre sonhou. Intelectual medíocre e alpinista social, FHC viu nas chamadas jóias da coroa, as estatais brasileiras, a chance de realizar o velho projeto da direita, o de destruir a obra da revolução de 1930.

Dantas é a bola da vez, mas não o sistema que representa. O sistema especulativo das máfias financeiras continuará em vigor, impondo sua ditadura por todos os meios. Dantas poderá até ficar na prisão ou fugir, mas o esquema continuará agindo. Pois tanto faz no sul como no norte. É só ver o que fez o petismo logo depois do tucanato: envolveu-se com um esquema de corrupção escancarado, denunciado pela Procuradoria Geral da República. Qual a fonte desse poder? Ele se consolidou por imposição externa e conivência interna.

Ficamos sabendo que ferrovia no Amapá liga jazidas riquíssimas ao Exterior, sem passar pela alfândega (sou um homem da fronteira, sou do tempo da Alfândega, da Aduana). Quem é o proprietário? Uma multinacional. Quem faz a intermediação? Políticos regionais. Estamos entregando o ouro? Nããããão. Estamos sendo globalizados. Parece aquele jogo de denúncias do bom e velho Carlos Estevão, na revista O Cruzeiro, “As aparências enganam”. Ele desenhava apenas as sombras de uma cena e levantava alguma hipótese sinistra. No quadrinho seguinte, com o título de “Não, apenas isso...” aparecia um candente e inocente flagra de cidadãos bem intencionados.

O sinal mais explícito de que o sistema está sendo desmascarado é a grita geral contra atos anti-democráticos. A ditadura, por não ser oficial, precisa ser reiterada todos os dias, em todos os estamentos. Por isso o juizão do Supremo solta o banqueiro duas vezes, o jornalista dos grotões é assassinado, a censura à imprensa se instala por várias medidas, tudo num varejão explícito para mascarar a essência do regime. E não adianta alguns jornalistas se acharem muito éticos e autênticos, pois apenas participam do jogo de rodízio de assalto ao butim.

A ditadura civil é como a economia informal: não é reconhecida, mas existe e dá as cartas. Também não adiante os ídolos da falsa redemocratização vir agora a público reclamar do Judiciário. Colhem o que plantaram. Criaram um arcabouço fajuto em que a repressão e o arrocho convivem com o discurso do Estado de Direito. Você pode colocar o que quiser na Constituição Cidadã, o que conta é a força bruta. Poderosos malfeitores tentam derrubar a democracia ainda nascente, destruindo assim vinte anos de bom-mocismo? Não, apenas isso: pacatos cidadãos brincam de democracia enquanto o pau continua correndo solto em todos os estamentos.

E vai denunciar isso para ver onde você vai parar. Todos debocham e acham que você está delirando. É uma espécie de Matrix. A democracia é a realidade virtual criada pelos bandidos, enquanto eles sugam até o osso a energia que acumulamos nesta vida impossível.

RETORNO - Imagens de hoje: Carlos Estevão sabia das coisas.

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