2 de maio de 2003

O JURAMENTO

O JURAMENTO

Nei Duclós

O título do terceiro filme de Sean Penn foi traduzido para A Promessa, mas o mais adequado é O Juramento. O detetive interpretado por Jack Nicholson jura pela salvação da sua alma que vai encontrar o assassino de uma menina. A mãe o obriga a isso colocando nos seus olhos a cruz feita pela vítima. O juramento é a garantia de que uma possibilidade, a justa punição, seja concretizada. O jogo perigoso entre ficção e realidade costura o filme e surpreende o espectador, pois esta narrativa clássica da investigação de um crime, apesar de manter intactos todos os detalhes tradicionais, fustra todas as expectativas com um happy end pelo avesso.

O que é considerado realidade – a versão policial do crime – revela-se ficção. E o que é considerado fantasia – as pistas deixadas pela menina e a lógica do detetive – é a realidade que jamais emerge para a credibilidade. Enquanto a verdade é desviada do seu caminho, atropelada, incendidada e esfaqueada, a ficção goza de boa saúde. A fantasia – a verdade sobre o assassinato e as histórias infantis – estão confinadas no mundo dos velhos e das crianças. A exclusão pela faixa etária permite o acesso à impunidade. A verdadeira punição só é feita pelo Acaso, mas esse detalhe ofusca para sempre a verdade.

O resultado é a insanidade de quem apostou sua vida na investigação correta. Por isso o filme não faz brincadeira com ninguém. Baseado em Fury, filme de 1936 de Fritz Lang sobre linchamento, Penn recria a cena das galinhas – que no filme de Lang remete à reproução em massa da versão errada – colocando no lugar uma criação de perus – que além de um resgate visual da homenagem revela a disponibilidae das criaturas para o abate.

O detetive jura reverter esse quadro, impor a verdade como antídoto à injustiça – já que o suspeito é praticamente linchado na delegacia. Mas a ficção enraizada na certeza cômoda das instituições exclui investigador e vítimas para o limbo da falta de juízo.

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