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19 de junho de 2014

PROTEGIDOS



Nei Duclós

Agora que nos dissemos tudo, protegidos pela parede luminosa de vidro, podemos nos encontrar ao vivo para ficarmos mudos.

Revelaremos então os gestos escondidos, os rostos que escaparam dos flagrantes, os silêncios da memória, os suados apertos de mão em breves despedidas, e os reencontros, onde faremos o relatório por meio de enigmas registrados em guardanapos de bar acumulados em bolsos e depositados nos pisos  dos hotéis do subúrbio.  

Não iremos nos reconhecer, como sempre. Nossa identidade comum está perdida. Jamais alcançaremos o que ficou além da conta, à margem das faturas, nas ruínas. Faremos ponto final nesta sintonia, com a esperança de que um dia ela floresça em algo maior, um voo sugerido, uma fuga.

Reencontraremos a realidade, perfil de um universo ainda em formação, como se o big bang ainda não tivesse explodido. Somos o limbo de um futuro, quando enfim nos tocaremos de verdade, na funda superfície da vida que teimamos em adiar, mas que no fim vinga.  


 RETORNO - Imagem desta edição: obra de Edward Hopper.