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4 de novembro de 2015

MIGUEL DUCLÓS ABORDA A LITERATURA




Na Universidade Federal de Santa Catarina, Miguel Lobato Duclós (1978-2015) cursou um ano de Letras, onde desenvolveu alguns trabalhos sobre literatura. O pensador aborda o gênero conto com a profundidade que trouxe de sua formação filosófica, uma superposição conceitural com grande poder de síntese. Um aspecto precioso do seu texto é a luz que lança sobre os mecanismos usados na sua análise, numa permanente revelação de como engendra pensamento a partir de vários autores e recursos teóricos.


“O CONTO: DIFICULDADE DE DEFINIÇÃO DO GÊNERO

E ABORDAGEM DE ALGUNS TEÓRICOS.”

Miguel Duclós             



Originalmente apresentado no CCE/UFSC



Seminário escrito baseado na leitura do texto “O conto: uma narrativa”, capítulo 2. do livro Teoria do Conto de Nádia Gotlib.

“ O conto é notoriamente um gênero literário de difícil definição, e as teorizações por parte de escritores e críticos acerca desse tema atingem grande número e diferentes graus de complexidade, principalmente se considerarmos o problema em diferentes contextos – a evolução da concepção do conto no tempo e nas diferentes culturas e países, por exemplo.

Qualquer tentativa de abordar a questão, portanto, poderá fracassar se não considerar a diversidade e as diferentes possibilidades de abordar a problemática. Esta abordagem é não raro feita de forma pessoal e autoral, e talvez por isso parcial ou idissiocrática, e isto nos traz algumas frases bem humoradas, como a do escritor paulista Mário de Andrade, que afirmou "conto é tudo aquilo que o autor quiser chamar de conto"[1]. O escritor argentino Júlio Cortázar, porém, adota uma abordagem mais cautelosa já no título de seu escrito “Alguns aspectos do conto”, onde afirma:

“É preciso chegar à idéia viva do que é o conto, e isso é sempre difícil na medida em que as idéias tendem ao abstrato, a desvitalizar seu conteúdo, ao passo que a vida rejeita angustiada o laço que a conceituação quer lhe colocar para fixá-la e categorizá-la. Mas, se não possuirmos uma idéia viva do que é o conto, teremos perdido nosso tempo, pois um conto, em última instância, se desloca no plano humano em que a vida e a expressão escrita dessa vida travam uma batalha fraternal, se me permitem o termo; e o resultado desta batalha é o próprio conto, uma síntese viva e ao mesmo tempo uma vida sintetizada, algo como o tremor de água dentro de um cristal, a fugacidade numa permanência.” [2]

A questão da definição do conto como gênero literário passa ainda pela própria evolução da forma de narrar que o gênero sofreu. Nosso objetivo neste trabalho limita-se somente a apontar a dificuldade desta definição – e não tentar abarcar o problema em uma visão geral. Alguns subterfúgios podem ser úteis para trafegarmos por esta via de difícil acesso. Um deles é o de perseguir a perspectiva dos grandes autores que, como afirmamos, não raro fizeram reflexões e assertivas sobre suas obras e o caráter geral do gênero conto. Nesse escrito de Cortázar, por exemplo, é ele próprio quem, a partir de sua experiência como contista, postula alguns princípios que julga como fundamentais para a configuração do conto como gênero literário. Apesar desta perspectiva que parte de uma experiência particular, Cortázar preocupa-se em destacar os aspectos constantes que caracterizam o gênero na sua manifestação realizada por diversos autores. Notável é a influência do poeta e contista estadunidense Edgar Allan Poe (1809-1849) na literatura de Cortázar, e isto é um indicativo de como a presença da produção literária de grandes autores, como Poe, Tchecov, Tolstói, Guy de Maupassant, Voltaire etc., ajudou a fixar o gênero literário conto na sua forma contemporânea e em diferentes correntes. [3]” (Miguel Lobato Duclós, continua no link)




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