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2 de novembro de 2015

MIGUEL LOBATO DUCLÓS E AS UTOPIAS



Percorro o vasto cabedal de conhecimento de filosofia comparada e comentada no site criado, desenvolvido e mantido pelo meu filho Miguel Lobato Duclós. E o que era admiração vira assombro, pois em tudo ele extrapola com seu trabalho de infinita capacidade de estudo e ensino.

No site Consciencia o visitante fica sabendo não apenas o básico sobre Maquiavel, Rousseau, Nietzsche, Thomas More, Aristóteles, Platão, entre centenas de outros gênios, mas tem acesso à produção de pensamento que cruza conceitos e cria janelas para uma percepção mais ampla do que existe nos livros. O autor do site e seus inúmeros colaboradores ousam pensar sobre os temas mais relevantes. Nenhum assunto é estranho ao Consciencia, que tem ainda on line uma biblioteca de apoio, com textos completos de filósofos antigos e contemporâneos, e de autores de outras áreas, que funcionam como um impressionante mural do que se escreve no universo da cultura. O link da biblioteca do Consciencia é este: http://www.consciencia.org/biblioteca.shtml

Nestes posts logo depois de sua passagem para o Outro Lado, seleciono alguns textos que ele apresentou em sua graduação. O menino brilhante que não teve acesso a títulos, hoje tão disseminados, de mestrado e doutorado, deixa o legado precioso do saber sem nada ter pedido em troca.

Paz, meu amado filho.

(A imagem é de René Magritte, que Miguel colocou no seu espaço aqui no face.)

"CERTAS SEMELHANÇAS ENTRE UTOPIAS"

Miguel Duclós

Trabalho originalmente apresentado para a cadeira de Filosofia Geral III – FFLCH-USP

" Embora a palavra Utopia só tenha sido cunhada a partir da junção do advérbio grego ou com o substantivo topos por Thomas More em dezembro de 1516, na ocasião da publicação de seu livro, o tema a que se refere sempre foi rico de construções e alimenta a imaginação humana da antiguidade até hoje. Na Antiguidade, há algumas obras sobre as quais passarei a vista, tentando extrair semelhanças em conjunto com os três grandes clássicos da Renascença. Quem se detém neste estudo logo percebe que a utopia é um tema recorrente tanto no campo da filosofia – na esfera da crítica e teoria política e social – quanto no campo da história, literatura e outros. O subterfúgio para propor a existência de um estado ideal parte de dois motes principais: o primeiro é a consciência do autor acerca de algumas injustiças, iniqüidades e imperfeições de sua própria sociedade, o segundo é o desconhecido ou o estranho, que existe em outro espaço indeterminado – como a Atlântida, a cidade de Utopia, a cidade do Sol, a Nova Atlântida de Bacon – ou em algum tempo diferente, assumindo assim a forma de lenda ou de profecia – como também é o caso de Atlântida ou dos mitos milenaristas cristãos.

Os conhecimentos geográficos dos gregos eram limitados, como sabemos, e isso possibilitou imaginar Atlântida além do Grande Oceano, das duas colunas de Hércules do estreito de Gibraltar. Com as grandes navegações na Renascença, o mundo volta a existir em sua vastidão indeterminada de outrora. As façanhas e os relatos dos viajantes, e a descoberta de terras e povos desconhecidos fermentam de novo a imaginação dos europeus, em particular dos nossos três filósofos, More, Bacon e Campanella. Aliás, tais relatos continuaram alimentando as gerações dos escritores nos séculos seguintes, como se observa em parte do Cândido, de Voltaire, que conta a utopia de El Dourado; ou nas Viagens de Gulliver; de Charles Swift, ou no Discurso sobre a origem da desigualdade entre os homens de Rousseau; ou na utopia brasileira A cidade Perdida, de Jerônimo Monteiro.

Porém, temos em tais obras e romances que contam relatos de viagens duas vertentes distintas. No gênero utópico, o viajante chega, freqüentemente saído das garras da morte, e é muitíssimo bem recebido pelo estranho povo, não cessando então de admirar a nova forma de organização social. Assim é Nova Atlântida de Bacon, onde o sentimento de inferioridade dos europeus é extremo, e onde sua admiração pela magnitude do povo de Bensalém se mostra em vários pontos. Na outra vertente, temos a figura do colonizador. O colonizador traz consigo as virtudes de sua própria civilização, e impõe aos povos bárbaros sua superioridade e valores. Tal é o caso, por exemplo, de Lord Jim de Joseph Conrad ou de tantos outros, mais próximos da realidade." (Miguel Lobato Duclós, continua no link)

http://www.consciencia.org/utopia.shtmlutopia.shtml

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