Nei Duclós
Mostramos nossos interiores, tão
iguais aos de todos. A nação é a soma de corredores.
Já que não me dás amor, me venda,
disse o mendigo. Minha moeda são as metades de um coração partido.
Fantasia é o que silenciamos
enquanto o esforço da conversa nos cansa.
Me dizes adeus no teu bom dia. Meu
aceno morre sozinho. Melhor assim, doce planície
Mais que bonita. Além do limite. No
círculo do amor que se expressa em signos, jamais decifrados em sua origem.
Encerro o expediente, fecho o
estabelecimento. Se quiser atenção, sorria enquanto é tempo. Posso fazer serão,
noturno encanto.
Já vai longe o tempo que te quero.
Subo a ladeira do meu sonho.
Não te convenço, exigência plena.
Guardo para mais tarde o beijo. Uma hora terei vez.
Bela em todos os sentidos, me
sintonizas.
Fugiste de mim no Carnaval.
Inauguraste as Cinzas precoces.
Curto médio tua dança cheia de
graça, só de ciúmes.
Ofertaria flores se você existisse.
Enviei meu último sinal. Se
voltares, notarás que ele ganhou a cor sépia dos documentos antigos.
Ninguém nos responde. O tempo ficou
mudo. Ou foi o coração que ficou surdo?
O amor é uma chave que liga ao
eterno, um clic na parede branca do apartamento solitário.
Voltamos sempre aos mesmos lugares,
banco do primeiro beijo, passeio de eternos olhares.
Te perdoo por não ter te conhecido.
Mas não me perdoo.
Poemas ao portador. Não dou indireta
em versos. Pode ser que sirva. Pura linguagem de fontes generosas.
COBIÇA
Minha poesia já nasce antiga.
Tem conforto de praça
em tarde sem chuva.
Não faz maratona, nem conflitos.
Não enterra o já dito por outros,
bem mais explícitos.
Escorre, mel selvagem,
atraindo tua cobiça
em forma de mariposas.
Minha poesia já nasce antiga.
Tem conforto de praça
em tarde sem chuva.
Não faz maratona, nem conflitos.
Não enterra o já dito por outros,
bem mais explícitos.
Escorre, mel selvagem,
atraindo tua cobiça
em forma de mariposas.
CACIMBA
Gota na cacimba, a palavra banha o
dia
com pingo minimalista. Ela pira tua sede
e refresca a esquecida esperança
com pingo minimalista. Ela pira tua sede
e refresca a esquecida esperança
ESCUTE
Escute seu poema
antes de lançá-lo ao ar.
Sintonize o som, prove o ruído,
note onde flui e onde se quebra.
Encontre o ritmo, como o pássaro
antes de se atirar, menino,
na perigosa rota sobre o oceano.
antes de lançá-lo ao ar.
Sintonize o som, prove o ruído,
note onde flui e onde se quebra.
Encontre o ritmo, como o pássaro
antes de se atirar, menino,
na perigosa rota sobre o oceano.
ALÉM
Estrela, que transcende palavras.
A mais bela, muito além
da cota de admiração
que nosso coração suporta.
A mais bela, muito além
da cota de admiração
que nosso coração suporta.
PUNHAL
Lembro do poema, mas esqueço
cada verso é um punhal no peito
cada verso é um punhal no peito
RETORNO - Imagem desta edição: Romy Schneider