Nei Duclós
Promovo a palavra fora da sua
espécie. Cruzo com crepúsculos. Ponho no amanhecer.
O pote no fim do arco-íris é o beijo
mais esperado.
Rodei o mundo sem sair do lugar.
Viajei fora do mapa. Pousei sem teto. Tirei férias quando todos voltavam do
mar. Andei de costas para a aurora boreal. Comprei passagem para onde não há.
Alterno tédio e assombro, euforia e
cinzas. Assim distraio tua atenção, musa. Te capturo na armadilha.
No momento em que você ama o mundo
corrige o rumo.
Não tens defeito. Eu é que me
estraguei em outro tempo. Hoje reaprendo com a perfeição de tuas linhas
modernas, desenhadas no vão livre das renascidas florestas.
Toda vez
que voltas, eu ressuscito.
Dei-te o mel que estava escasso. Me devolveste o sonho, que
me abandonara
Joguei neblina na noite que começa. Fechaste os olhos por
alguns instantes. Havia estrelas em teu rosto habitado pela luz que
despertamos.
Falo aos poucos, de respiração aos
trancos. Ando a cavalo, te carregando.
És obra intensa e eu leitor desatento.
Folheio gibi enquanto enfrentas gigantes.
Use o poema para conquistas. Uma
linguagem terna, um novo mundo. E um coração perdido que peça socorro.
Você é tão densa que rio achando que
me assustas.
Atração é como futebol. Pode dar
briga no final. Mas compensa mesmo que não haja gol.
Gostas dessa falta de frescura que
há nos poemas escritos pelos ursos.
Enfim lembras de mim. Pena que já
morri de saudade.
Você me surpreendeu e aceitei mesmo
desconfiando que não haveria fôlego. Mas me acostumei e agora chuto lata na via
Lactea.
Há diferença demais entre nós. Isso
inviabiliza a relação. Tive pressa em nascer.
Alguém te aconselhou contra mim. O
que me pira não é a acusação, que tem fundamento. O que pega é saber que
acreditaste.
Voltei ao mundo real, bem agora que
tinham se acostumado com minha ausência. Estou normal, com exceção de alguns
peixes de aquário na cabeça.
PLANADOR
Voo, planando, contigo
não ha abismo
quando consolidamos o voo
ÓCULOS DE ARAME
Revisitei a poesia abandonada pelas
rupturas obrigatórias.
Foi como voltar às salas antigas com cheiro de livros.
O Tempo, professor do Primário, usa óculos de arame.
Ele lê em voz alta algo de Bilac ou Gonzaga.
Lá fora ruge Maiakóvski.
Foi como voltar às salas antigas com cheiro de livros.
O Tempo, professor do Primário, usa óculos de arame.
Ele lê em voz alta algo de Bilac ou Gonzaga.
Lá fora ruge Maiakóvski.
ANEXO
Mandei em dezembro
uma carta pelo correio.
Rastreei o endereço.
Não tinha chegado
nem em fevereiro.
Talvez no próximo inverno recebas.
Diz: te espero até o fim dos tempos.
Anexo, uma flor viva de pessegueiro.
Mandei em dezembro
uma carta pelo correio.
Rastreei o endereço.
Não tinha chegado
nem em fevereiro.
Talvez no próximo inverno recebas.
Diz: te espero até o fim dos tempos.
Anexo, uma flor viva de pessegueiro.
OUTRO MUNDO
No fundo, e oculto,
tens o núcleo do desmanche.
Onde ninguém chega,
a não ser que uma lua de outro mundo
ilumine o contorno do amor que não inventas.
tens o núcleo do desmanche.
Onde ninguém chega,
a não ser que uma lua de outro mundo
ilumine o contorno do amor que não inventas.
ELA, ELE
- Preciso conquistar uma garota, disse o rapaz.
- Desista. Só assim você terá chance, disse o veterano.
- Não posso dizer que gosto, disse ela. Sou comprometida.
- Diga e saia disparando, disse ele.
- Gostaria que você parasse com os sonetos, disse ela.
- Difícil, ele falou. Me acostumei a dizer que te amo.
- Esse poema não é para mim, disse ela. Não sou rainha nem
faço parte da monarquia.
- Sei disso, disse ele. Mas enquanto houver súditos da tua
beleza, haverá absolutismo.
- Você insiste com cinderelas e sapatinhos, disse ela. Dá um
tempo.
- Procuro um pé que sirva, disse ele.