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4 de março de 2014

NA CIDADE SITIADA



Nei Duclós

Na cidade sitiada uma rua semeada de mortos
gente de fora enviada pelo governo em 1924
e que viera engrossar as forças de Bernardes
junto à metralha e ao canhoneio generalizado

No front a luta era cara a cara, de arma branca
a munição escasseava nos bairros desertos
civis e milicos economizavam a cartucheira
mas desta feita a descarga colheu a tropa

E lá estavam os corpos dando certeza ao inimigo
que se aproximava sem cuidado, já a descoberto
pois nenhum dos atingidos pelos balaços se mexia
ao lado do muro que inaugurou um cemitério

Os rebeldes precisavam da vitória nessa batalha
e contavam dezenas de baixas em trajes à paisana
um destacamento inteiro de meganhas sulistas
pisoteados pelos mosquetões da Primeira Guerra

Quando avançavam sofreram o primeiro embate
um dos mortos empunhava um facão num salto
e talhou o soldado experiente em fazer revolução
que desconhecia as manhas dos maulas do charque

Naquela hora todos pularam como numa coreografia
e fizeram um estrago nos novos donos de São Paulo
abriram os olhos como se viessem do fundo da terra
Caronte, o traidor da barca, lhes deu passagem de volta