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19 de junho de 2013

SEM FÔLEGO



Nei Duclós

Tenho cá meus sentimentos, como papéis na mesa. Ponho o peso do amor para que não os leve o vento.

Mandas um bilhete sem endereço. Não queres que chegue. Mas o Destino, mensageiro, corre para entregar, sem fôlego.

Disponho as palavras em bom comportamento. Penso nos pósteros, não propensos a charadas.

Às vezes o amor não é a delicadeza. Mas o tombo que esfola a pele e negas o curativo.

Não respondes o que escrevo em meu coração vermelho. Fechas a janela sem motivo.
Alguém te deu um mau conselho.

É você que me sopra no ouvido. Enxergo poesia.

Amor é quando a flecha de Cupido inflama. E pulsa em febre, pedindo cama.

Poema tardio que te pega dormindo. Fica ao relento, como serenata colhida pela tempestade.

Te faço companhia. Ouço quando sonhas com a minha poesia.

És flor em meu caminho. Mais do que amigo, sintonia.

Driblas o assédio com tua argumentação de rede. Mas às vezes te enrolas de propósito.

Vi do acampamento: todas as bóias do espinhel afundaram. Eras tu no mergulho, puxando os anzóis do desejo.

Foges para respirar, sou a falta de oxigênio. Use o amor, máscara contra o sufoco.

Cumpri a cota diária de dizer-te. Peço que venhas, mesmo que não leias.

Tropeças no verbo, ficando sem defesa. É quando me jogo, tobogã de versos.

Tudo pela tua boca de pêssego. O perigo por tua pele sumarenta. Qualquer risco diante de tua imagem entre flores.


RETORNO - Imagem desta edição: Ava Gardner.