Nei Duclós
Poema é zipado,ou seja, concentra uma série de vetores em
poucas palavras, mesmo quando é esparramado. O esparramo do poema é diferente
da prosa, pois esta leva a algum lugar enquanto a poesia é o lugar em si. Mas o
mais comum no verso é sua síntese e sua sonoridade. São meus critérios quando
faço oficina com pessoas que querem exercitar a linguagem junto comigo.
Sonoridade não significa apenas rima, pois rima lembra rima pobre, sintonias em
“ar” ou em “ão”, clonagem de sílabas finais. Sonoridade é a complexidade da sinfonia,
são sons afins que se combinam ou se excluem num jogo infinito de vozes.
Quando proponho mudança num poema alheio (sempre a pedido)
cuido para que não haja pontas soltas, ou seja, estrofes que acabam em falso,
sem fechar o círculo, deixando o leitor com uma sensação de desconforto. A
escolha de palavras também precisa ter sonoridades que se cruzam no início ou
fim dos versos. Consonâncias que criam encanto ou geram rupturas .Isso dá
grande riqueza ao poema.
Evitar as repetições significa deixar de usar palavras
diferentes para dizer exatamente a mesma coisa. Não quer dizer que a repetição
seja proibida, desde que ela se justifique. Quando funciona como um estribilho
ou um bordão, por exemplo, que serve para resgatar a ideia original do poema e
levá-lo adiante até o desfecho. Quando você pega a embocadura, as soluções se
multiplicam e você evita usar sempre as mesmas palavras para tentar criar
coisas diversas.
É possível , com um vocabulário reduzido, fazer grande
poesia. Mas é impossível, com uma poesia reduzida, usar qualquer vocabulário.
As palavras servem ao poema e são seu corpo ao mesmo tempo. É partícula e onda
simultaneamente, como a natureza da luz na mecânica quântica. Você usa a
palavra que por sua vez é o próprio poema.
Parece complicado, mas o exercício literário fecundo nos
impregna desses insights que se tornam parte de nós.
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RETORNO - Imagem desta edição: eu fotografado por Ida Duclós.