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8 de outubro de 2012

AGORA SE CONCENTRE


Nei Duclós

Agora se concentre. Estou dentro de ti, magnífica.

Atravessei teu corpo marítimo. Sou o navio que te faz espuma.

Não queres conversa comigo. Te mal acostumei a sentir o que imagino.

Por seres tão bonita, te deixarei de castigo. Vou te amarrar com lenços de seda na beira da nossa alegria.

Diga que é minha, porque é verdade. Diga que não quer outra vida.

Que festa, tua presença. Me deixas trêmulo, doce enredo.

Agora deixe que o sonho escorregue pelo abismo. Não vá dizer que não gosta, meu segredo.

Vou te por no colo antes que te dês conta. Farei cara de paisagem quando o encaixe começar a tocar música.

Pressionado por teu medo, só por acaso te chamarei do que és de fato. Esse portento de delicia suprema.

Prometo que não comento mais o quanto nos queremos. Faz de conta que o assunto é o tempo.

Concordo porque desisto. Melhor teu amor do que minha lógica com tanto lixo.

Haverá ressaca deste desejo. Melhor assim, flor que se cheire.

Chegaste agora, te-amo-tanto. Quero teu perdão senão continuo morto.

Agora se entregue antes que seja tarde. Voe comigo, prazer aos pedaços.

Me cercaste até a derradeira conquista. Agora não se queixe, compromisso.

Fique atenta, tesão sem limites. Senão te arrasto até os confins do teu capricho.

Concordo, contigo sou mais exigente. É que me tiras do sério, amor distante.

Quando fizerem o balanço do improvável abraço entre duas almas perdidas, estaremos na primeira linha, cheirando a mel amanhecido.

Sou teu confidente, por isso me esqueço, às vezes, que és o amor que eu tenho.

Não me pões na cela, mas sob tuas cobertas. Jugo prazeroso de quem não se esconde.

Querias ser única, mas és muitas. Sentes ciúme do que és sob a chuva

Volte, fugitiva. O campo molhou-se na espera. A noite trouxe o sereno da dúvida. Beije meu corpo sob a tenda.

Amor singular, alvo plural. Todas, você, me tiram para dançar.

A poesia virou teu espelho. Ninguém é mais bela, princesa.

As palavras tem esse dom. Parece que são ditas agora, mas são de outro mundo, o que nos inventa.

Inventamos nossa nuvem. Úmido olhar, teu corpo flutua em meu espanto.

Não há compartimentos. O amor é um grande vestíbulo onde dançamos ao som do coro de aleluia.

Beijo o que verterás na tarde, essa onda que vem do lago quando adivinhas a pedra que desliza em mil pipocos de ternura.


RETORNO – Imagem desta edição: Isabelle Adjani .