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7 de outubro de 2012

VERSO FEITO DE MAR



Nei Duclós

Nem cheguei perto. Só te toquei com um verso, feito de mar.

Ponho a mão na água e encontro a pérola que tua delícia gerou esperando o momento do bruto desamparo.

Não posso dizer tudo, só o suficiente para achares motivo de ficar à mercê do desassossego.

Quando o poema era a caneta a tinta te atingia provocando expressões extremas. Agora é no teclado, produção industrial de estrago

Vê se guarda teus cuidados para quando eu aparecer inteiro, assim como cabe num livro uma caneta tinteiro.

Tudo em ti se desmancha menos essas ilhas de rígido arrepio onde mora a vontade explícita de me dizer o que ninguém escuta.

Não basta querer, precisa colar a bainha do que for teu escasso linho para se esgarçar o fio que permita o impacto.

São apenas suspiros que a natureza chia quando lembras de mim, criatura.

Estavas quietinha com tua defesa mínima cobrindo o que me queria quando pulei na mesa com gestos de mel puro.

Busque além do caminho, onde o mato cobre as intenções mais fundas, as que sobrevivem no anônimo espaço do teu espírito.

Me olhas, gulosa, na fantasia que nasce da irresistível gana. Mas disfarças, cordata, esquecendo a blusa aberta.

Estávamos bem quando entramos juntos na festa, mas não foi isso que deslumbrou os convivas. Foi nossa cara transtornada pelo amor.

O universo congelou e ia morrer. Mas no último minuto reagiu. O que aconteceu? perguntaram os anjos. Cheiro de mulher, disse o cosmo em chamas.

Quem me sopra tanto poema? O movimento que fazes com os cabelos quando te viras para me olhar, matadora.

Amor é a obra da palavra que leva o coração embora.


FRONTEIRA

Há sempre um motivo para regar o espinho e nenhum para plantar a flor.

Esnobas o que te ofereço. É o que temos, já me convenci, se convença. Esqueça de levantar o braço em sinal de defesa. Abra a guarda na fronteira.

Não posso avançar que te recolhes. Nem falar que retalias. Nem te querer que te desvencilhas. Nem te queimar na água fria. Não tens jeito para o amor que nos abraça. Perdi o fôlego de tee trazer para perto.


RETORNO – Imagem desta edição: Leslie Caron.