Nei Duclós
Te dediquei um acróstico em código morse. SOS diziam os
sinais luminosos. Na neblina eles formava as iniciais do teu nome.
Deus é poeta, mas não suporta a gozação. Por isso usa
pseudônimo.
Reúna as pessoas ao redor do poema. Deus assiste. Ele gosta
da palavra plena.
Te ignoro, por enquanto. Para acumular demanda. Quando
voltar a mim, sai da frente.
Aproveitaste meu sono para vir espiar a oficina. Mexeste nos
versos proibidos. Acordei com o barulho. Flagrei teu rosto vermelho.
Nos jogamos gelo logo que irrompe a semana. Nenhum álibi se
justifica para esse crime. Desperte o vulcão extinto há milênios.
Não interrompa a vontade que nasceu no sábado e cruzou o
domingo como um meteoro que se incendeia. Segunda é sexta, no novo calendário.
Acabou o fim de semana, me avsiaram. Decretei feriado para o
amor, respondi.
Fomos para baixo das árvores. Os pássaros riram da minha
dificuldade. Me atrapalhei com teus elásticos.
Ficaste de tocaia a noite inteira. Me pegaste no pulo, logo
que o sol deu as caras.
Desceste poucas camadas. Vá mais fundo, para encontrar o que
fará tudo.
Não é fôlego curto. É a falta de oxigênio no ar sugado pela
saudade.
Voltarás à superfície, mergulhadora insaciável, e trarás nos
pulsos a pele ardente da nossa estranha coragem.
Tudo o que é mulher nos diz respeito. Esse gesto de
consertar o salto quando nos abaixamos, tirar o espinho do calcanhar direito e
depois olhar para o rosto deslumbrado diante do cavalheiro.
Concordo, contigo sou mais exigente. É que me tiras do
sério, amor distante.
Haverá ressaca deste desejo. Melhor assim, flor que se
cheire.
Você gosta e me repete isso a toda hora. Gosto de ouvir e
pergunto de novo. Gosto, você diz, tentando se equilibrar sobre as águas.
Não me deixe só, sou minha pior companhia.
RETORNO - Imagem desta edição: Marceline Day.