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7 de julho de 2012

FORÇA


Nei Duclós

Fale-nos do amor, disse o aprendiz. O mestre ficou em silêncio. Entendi, disse o aprendiz. A força do amor está no segredo.

Quando devo ter certeza do amor? perguntou o aprendiz. Pergunte para o teu despertar de que material é feito a manhã, disse o mestre.

Quando posso saber se alguém mentiu sobre seus sentimentos? perguntou o aprendiz. O coração não fala pela boca, disse o mestre. Mas pelo gesto. Preste atenção no andar e no desenho riscado pelo corpo.

Não conte a ninguém para onde seu coração foi ontem à noite. Ele se sentirá traído.

Diga que não a vê mais. Depois se despeça e volte para a cama que ela forrou com sua pele melada.

Disfarce o amor da tua vida. Vão achá-la horrível. Preserve sua imagem no cofre do teu sonho.

Não apresente seu amor aos desafetos, nem aos chegados. Eles vão devorá-lo. Diga que é alguém que você conheceu na praia e depois perdeu a pista.

Tem para viagem? perguntou o noivo. Ela só se emociona com poesia. Tem, disse, o poeta. Leve esses que eu tinha guardado para a minha musa.

Deus não é vinho, não precisa ser provado. A mosca não decide nada sobre a criatura onde pousa.

A Lua é boa confidente. Ela escuta os sussurros do casal e sonha com alguém do próximo milênio.

Levaste o poema para a tua musa. Sinal que a amas, perigoso.

O amor tem fôlego, é persistente, resiste. Mas se parte ao primeiro arrulho ferido numa noite densa. A doçura é seu ponto fraco.

Te conhecer é um jato de luz vindo do teu rosto pleno. O poema se recolhe diante do impacto.E avisa: cuidado!

Existires sem mim é um mistério. Onde eu estava nesse tempo todo?

Você desiste de mim e some para sempre. Depois volta, atraída pelo poema, minha armadilha luminosa na escuridão do tempo.


RETORNO – Imagem desta edição: Diane Kruger.