Nei Duclós
És invisível. Mas um pó de poemas acaba impregnando teu
perfil e apareces pelo brilho. É quando pulo em ti, fugitiva.
A palavra é tua, que te devolvo. Se te emociona, é porque
ela vem embalado no sonho.
Entre nós há uma fruta que compartilhamos. O sumo nos
emociona, água de beijos que duram, perfume que nos navega longe.
Vais descendo a rua da minha cidade poema. Sonho exposto nas
vitrines. Corações amantes.
Você não presta, ela disse. Preciso de uma segunda opinião,
disse ele.
Na janela do trem, esperas que o vidro revele a mensagem que
deixei para ti, enquanto a paisagem, nosso sonho, passa.
A poesia vê a realidade com teus olhos. Eu anoto o movimento
da íris, quando apertas as pálpebras fazendo charme.
No fundo são poucos versos em rodízio. Como num carrossel,
quando passo cavalgando orgulhoso diante de ti.
Minha bagagem é pequena, cabe embaixo do braço. Durmo ao
relento, só para ver-te perto, passageira.
Percorreste o mundo e isso de nada te serviu. Mas quando
contaste a saga, emergiste com vida.
Conversa jogada fora não faz falta. O que faz falta é o que
ela substituiu.
Tente ganhar o jogo hoje. Mas não me aposte. Ninguém vai
pagar para ver.
Guarde um pouquinho de Lua para quando eu voltar.
O infinito aprendeu tudo com o amor.
Todos cumpriram seus destinos e conquistaram o mundo, menos
eu, que fiquei brincando com meu revólver de mocinho, a poesia.
A mais linda, de pézinhos juntos, tímida, casaco na mão
olhando para quem a espera de coração aos pulos.
Estive ocupado. Fui colher poemas. Prefiro os mais
esquecidos, que assim adquirem cor te imaginando.
Queria que você repensasse. Fica difícil não existires
quando te invento tanto.
Não tem mistério. Quando toca o telefone, é porque eu te
quero. Quando fica mudo, é porque estou na porta.
Me imaginaste apenas palavra. Não contavas com a pele de
urso forçando a aldrava.
Gostei da mensagem. Teu rosto aberto como carruagem que
surge de surpresa em noite de chuva.
És enigma. Não te decifro, mas faço de conta. Concordas
comigo porque também imaginas. Somos linguagens cifradas no exílio.
Viro pássaro que bate o bico na tua janela. Ouves as
cortinas ruflando com o vento? São minhas asas.
Até quando deixarás de ser minha? Prazo vencido, te carimbo.
Onde fica teu corpo? No próximo sopro.
Até quando deixarás de ser minha? Prazo vencido, te carimbo.
O que eu digo não faz sentido. Mas pelo menos escutas e
sacodes a cabeça, rindo. Linda.
Não preciso dizer o que me excita. Isso é bastidor do que
sorrimos. O importante é comentar a maravilha de estar contigo.
A margem que me dás é o único motivo que me mantém vivo. Sem
isso não respiro.
RETORNO – Imagem desta edição: Veronika Lake .