Nei Duclós
Devore o que sou de fonte,
preserve o que és de espanto,
adoce o risco do choque,
liberte o que nunca entrego,
me diga o que não suporto,
me salve antes que acabe.
Na dúvida me costure
na certeza mesmo longe
mande o gesto que me varre
para os confins do teu beijo
me queira sem um motivo
não me explique, só me narre
Quando se for eu vou junto
quando cantar sou teu coro
teu choro pousa no ombro
de um lenço seco nos olhos
nem por acaso meu corpo
é feito do teu estrago
Mas se errarmos na escolha
e desistirmos do espólio
que esse amor acumula
em desencontros de chuva
pode deixar que eu me lembro
dos teus tesouros de musa
RETORNO – Imagem desta edição: Jane Russel.