Blog de Nei Duclós. Jornalismo. Poesia. Literatura. Televisão. Cinema. Crítica. Livros. Cultura. Política. Esportes. História.
Páginas
▼
23 de dezembro de 2011
ÍNTIMA MÚSICA
Nei Duclós
Refaço o rumo, ou esclareço a trilha quando acendes a luz. A que trazes de ti, íntima música
Agora que me tens e brincas com minhas palavras, posso dizer a mim mesmo que posso ter esperança? Ou continuarei no limbo do começo?
Conversamos normalmente como se não houvesse nada entre nós. Mas de longe as pessoas notam a delicadeza do teu toque no meu braço
No primeiro dia em que enfim nos encontramos,dissemos coisas banais sobre o ambiente e o clima. De repente teu olhar me abate como um míssil
Vamos nos falando, disse ela há cem anos
Tens tantas histórias, me disse ela antes de partir. Sim, a melhor é a contigo, falei para a estação vazia
Cansei de te sussurrar segredos. Agora falo alto para você ouvir.
Aguarde a próxima mensagem, disseste nas entrelinhas. Quem sabe meu coração sente saudade
Não quero mais que me abrace, ela falou. Melhor ficarmos distantes, neste banco apertado de praça, meu amor
Não se preocupe, isso passa, falei. Já estive assim antes. Em outra encarnação, em outra eternidade. O amor de hoje também fará parte das estrelas
Você é bonita, falaram para a palavra. O importante é o meu significado, disse ela
Romantismo é um bom nicho de mercado, disse o pragmático. Não tenho valor se ela não me quer, disse o coração
Gostou da minha coleção de palavras? perguntou o beletrista. São comportadas porque estão na cela, falei. Solte que elas te mordem
Tenha cuidado com as palavras, disse o censor. Ah, são suas? perguntei
Coloquei alguns poemas na cabeceira da cama, meu amor. Para estarem lá no teu despertar
Talvez amanhã ela me convoque. Há tanto o que fazer. Uma conversa sobre tudo. Um passeio na tarde. E um até logo interminável, daqueles que melam calçada
O sentimento é o verdadeiro amor, independente de quem for o alvo
Não devemos implorar carinho, a não ser que sua paixão esteja fazendo parte da indiferença da paisagem
Jogaste fora as coisas inúteis que se acumularam no ano: chocalhos, porta-retratos, versos esparsos de amor, sapatinhos de cristal
Entramos em recesso, disse ela. Fique aqui, colecionando estrelas. Depois me dê, quando eu voltar do exílio, vazia como um trem abandonado
RETORNO – Imagem desta edição: obra de François Gall
Nenhum comentário:
Postar um comentário