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23 de dezembro de 2011

PECO PELO EXCESSO


Nei Duclós

Peco pelo excesso: não te conheço.
Mas isso não me impede de querer-te

Peco pelo excesso: sou tua sombra.
Puna-me com teu sol esplêndido

Peco pelo excesso: tenho medo.
Seja minha coragem, que eu navego

Peco pelo excesso: só para mim escreves.
Guardo na gaveta e finjo que não leio

Peco pelo excesso: caio morto
quando desces do pedestal absurdo

Peco pelo excesso: quero arreglo.
Mesmo que eu não tenha mais sossego

Peco pelo excessso: toco banjo,
enquanto és solista das bachianas

Peco pelo excesso: sou tua dança
quando te atiras para o vôo

Peco pelo excesso só para ter vez
no teu confessionário

Peco pelo excesso: compro a platéia
na tua ópera para dominar o gargarejo

Peco pelo excesso: descarrego
um caminhão de flor a teu critério

Peco pelo excesso: sou teu servo
mas essa escravidão é meu tempero

Peco pelo excesso: em vez de jóias
cumulo de amor teu lado esquerdo

Peco pelo excesso: não me meto
a te esquecer mesmo que queiras

Peco pelo excesso: em teu seio
pousa a solidão que já não tenho

Peco pelo excesso: não há teto
quando viajo nas nuvens do poema


RETORNO – Imagem desta edição: Natalie Wood em West Side Story

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