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30 de junho de 2010

CREPÚSCULO: A SATANIZAÇÃO DO BEM


A série de filmes de vampiros começou com Twilight (2008), que foi traduzido para Crepúsculo. Não se trata propriamente do entardecer ou da decadência, mas da porta entre os mundos de que fala Don Juan para Castaneda, aquela brecha onde se passa para o Outro Lado, a zona nebulosa da percepção, que perde o referencial e captura o que está oculto.

Baseado em livro de Stephenie Meyer, chega ao terceiro episódio (Eclipse), atrai multidões de jovens e adolescentes aos cinemas. Há uma série de implicâncias que podem explicar o sucesso. A “fome de passado” de que fala a autora por parte das novas gerações é uma delas. A necessidade de encontrar alguma coisa além das aparências é outra. Prefiro focar de maneira diferente. No Twitter, abordei esse assunto e seu entorno e desdobramentos. Comecei com a vampirização feita na televisão, fonte e reflexo da maldade que tomou conta do mundo vestindo pele de cordeiro.

É chupado do filme de Borat, personagem criado por Sacha Baron Cohen, o sarro com os hinos da Copa. O final de Borat é o hino do Cazaquistão

Faltou dizer quem chupou do filme Borat a idéia do sarro com os hinos dos países da Copa, como a Eslováquia: Casseta e Planeta, da Globo

É chupado do filme The Night of the Hunter,de Charles Laughton,a tatuagem nos dedos do assassino na série policial que a Globo chupa dos EUA

No mundo em que bandidos no poder chupam o sangue nas nações, o vampiro cool é um apelo para as novas gerações criadas nesse ambiente

É recorrente a confusão proposital, implantada de cima para baixo,entre bandidagem e virilidade,fonte de ilusões perigosas e de infelicidade

Vestir o Bem com a pele do vampiro é uma forma de atrair e acostumar as gerações emergentes à satanização da vida diária

O vampirismo é incentivado na indústria audiovisual. A série Crepúsculo, que tanto sucesso faz entre a meninada, é a satanização do Bem

O cretino que vive do sangue alheio é apresentado como gente fina, confiável, já que consegue debelar seus instintos.Isca para a ingenuidade

A ruptura pura e simples, sem o parâmetro da tradição a ser superada, leva toda a cultura a um beco sem saída, onde impera a falsa vanguarda

O modernismo foi entronizado em função desse equívoco. E seu desvirtuamento, o trocadilhismo-minuto, é um devorador de verbas públicas

A glamourização do vampirismo começou com Polanski em A Dança dos Vampiros. E a banalização do satanismo com seu O Bebê de Rosemay

Depois de velho,caiu a ficha de Polanski e ele se voltou para os clássicos,se saindo muito bem, pois é um grande cineasta.Mas fez um estrago about hours ago via web

O Mal triunfa quando não há remorso, sentimento humano por excelência. Vemos rimes hediondos gerados pela ausência de remorso about hours ago via web

Defender o Bem tem um complicador, pois o Mal vestiu a pele de cordeiro. Ferozes sentinelas "bonzinhos" monitoram o rebanho desarmado about hours ago via web

A luta do Bem contra o Mal caiu de moda exatamente para fazer a confusão entre os dois opostos e maquiar a maldade para o triunfo da tirania
.
Vi garotas em reportagens fissuradas por bandidinhos, como se ruindade fosse sinônimo de virilidade

Tentei ver até o fim o filme dos vampiros para poder denunciá-lo, mas não aguentei a baixaria. Não deu post, mas tuits

Por isso é bom chutar o pau da barraca e voltar a fazer soneto. É de ver a cara de escândalo dos vanguardeiros, neoparnasianos do século

Ou você age dialeticamente, se livrando das amarras criadas para cristalizar poses "revolucionárias", ou sucumbe ao modismo dos pseudo

Quando enfim tua geração chega ao poder,é hora de queimar os navios e nadar até a praia das crianças perdidas,de que nos falava Lindolf Bell

Nada disso dá dinheiro e um artista vive na corda bamba.Mas é para ele que cantam os corações exaustos e os espíritos livres no dia do Juízo

RETORNO - Imagem desta edição: a atração amorosa entre a vítima e o algoz, que se segura para não devorar a presa. Cena de "Crepúsculo".

29 de junho de 2010

CRIATURAS


Nei Duclós

Nações são criaturas, algumas assustadoras, outras aos farrapos. Por serem vivas, tem chance de morrer. Acontece atualmente conosco. Um país deste tamanho não se segura com tanta divisão interna. Quem prefere fumar foi confinado a salinhas apertadas onde divide espaço com latas de lixo. Quem curte uma carne pede desculpas ao fazer um assado. Quem se dedica aos vegetais é visto como ameba. Quem gosta de bicicleta é caçado no meio fio. Quem não gosta de dirigir não suporta coletivo.

Eleitores que não optaram por nenhum dos candidatos disponíveis estão no mato sem cachorro. Crianças que precisam correr e gritar atormentam paredes. Famílias que se formaram há um par de anos acumulam cicatrizes que parecem de séculos. Quem gosta de petróleo debocha dos verdes. Mulheres seletivas não encontram alguém que preste. Homens solitários são conquistadores seriais imaginários. Multidões se jogam nos ferros retorcidos dos desastres do fim-de-semana. Há uma indignação anti-televisiva, anti-notoriedades, anti-políticos. Tudo está sob suspeita.

Ninguém se entende no miolo da arena em crise. Escasseiam aquelas antigas fogueiras das festas juninas, mas o espírito de quadrilhas, no mau sentido, cresce. Cidadãos desamparados migram para fronteiras remotas. Do interiorzão do país grupos numerosos vão para o deserto entre o México e os Estados Unidos, ou para a neve dos pequenos países ricos. A diáspora atinge proporções alarmantes. Ninguém é mais brasileiro. Multidões lutam por cidadania estrangeira. Há um Cacau em cada seleção gringa ou asiática.

Talvez não sobrevivamos a esse esgarçamento do tecido social, em que tsunamis de rios nordestinos carregam por 200 quilômetros, até o mar, toneladas de entulho. A chuva empoça a paciência humana que se perde e se esfuma como num sonho ruim. Acordamos ainda lúcidos, mas somos bombardeados pela ilusão cevada pela superconcentração de renda, que precisa de truques para se manter.

Nem mesmo a Lua cheia, outrora impassível, escapa dessa roda viva, já que ilumina a noite da nação aos pedaços. Ela deixa, como diz uma criança, um rastro rosa na sua trajetória rumo às altas esferas. Lá, onde nosso sonho deveria alcançar, mas não consegue, porque o voo foi vetado em algum momento da vida nacional, que não conseguimos identificar.

RETORNO - Crônica publicada nesta terça-feira, dia 29/junho/2010 no caderno Variedades do Diário Catarinense. 2. Imagem desta edição: tirei daqui.

28 de junho de 2010

FUTEBOL É LINGUAGEM: A FALA DE DUNGA



Depois de ser execrado, xingado, desacreditado, desprezado por três anos e meio como técnico da seleção brasileira, Dunga sentou-se para dar entrevista coletiva na noite desta segunda-feira, dia 28. Respostas curtas, precisas, objetivas e esclarecedoras formam um texto sobre sua atuação à frente da camisa com cinco estrelas, por enquanto. A fala aconteceu depois dos três a zero contra os chilenos pelas oitavas de final da Copa da África do Sul. Fomos assim classificados para as quartas. Jogaremos contra a Holanda na sexta-feira. Como disse Sócrates, o profeta, ex-Corinthians e que nunca foi campeão do mundo, a não ser como torcedor, “O Brasil poderá ficar fora já na primeira fase”. Depois dizemos que torcem contra e negam.

Contra os delírios apocalípticos, os sofismas, as falsas evidências, as percepções equivocadas, os saudosismos, Dunga mostra-se dialético e brilhante. A estratégia é definida em cada jogo, baseada no trabalho feito na sua gestão. Como o Chile é uma equipe veloz, ele escalou Daniel Alves e Ramires, que tinham pique para acompanhar os adversários.

Contra a Holanda ele vai pensar, já que não adiantaria planejar nada para um jogo que não aconteceria se fôssemos derrotados. Ele definiu a Holanda como um time forte, com bons jogadores, que não limitam apenas a marcar e ir para o contra ataque, mas que contam com um acervo com mais diversidade, com características até de futebol latinoamericano. Essa percepção do adversário é que é decisiva para a escalação e a tática a ser adotada.

No treino do dia anterior, ele colocou alguns jogadores lesionados em campo, como Elano, para ver como se saíam. Como notou que os movimentos ainda estavam presos, decidiu não incluí-los no jogo de hoje. É por isso que ele conta com a confiança em todo o grupo, e não apenas em alguns, para essas eventualidades. Destacou a postura de Daniel Alves reproduzindo um diálogo que teve com o jogador dias atrás. Perguntou e não ficava chateado em ser colocado em outras posições que não a que está acostumado a jogar. “Não me pondo no gol, pode contar comigo em qualquer lugar do campo”, disse Daniel. É isso que vale para Dunga, esse engajamento e disposição.

Dunga estranhou que jogadores técnicos estejam todos pendurados por cartão amarelo, enquanto os que batem estão isentos dessa punição. Lembrou a barra pesada contra a Costa do Marfim, quando, para mim, Elano no mínimo luxou a perna. Aquilo ou é fratura ou véspera de osso quebrado. Saiu mancando, arrastado e não voltou mais ao campo, ele que estava fazendo uma Copa brilhante, com dois gols e uma alegria de jogar que contraria tudo o que disseram dele. E disseram horrores, como falaram mal de todo mundo, inclusive de Luis Fabiano que não marcava gol

Tenho assistido a Copa pela Bandeirantes com o Lucianao do Vale. O pedágio é o Neto, esganiçado, sem a mínima noção do ramo que abraçou tardiamente e que só foi aceito por ter sido jogador de futebol, o que é um equívoco. Precisamos de jornalistas ali, não por uma questão de reserva de mercado, mas por ser uma especialidade difícil, complicada. Luciano do Vale é um cavalheiro e trata bem o tosco Neto, mas está claro que está a mil anos luz em termos de qualidade em relação ao seu parceiro de transmissões.

Porque uma cobertura jornalística de futebol não é futebol, nem deve estar a cargo de ex-árbitros ou ex-jogadores. Cobertura de futebol é jornalismo e a especialidade dos profissionais envolvidos nela é o jornalismo. Luciano pertence a uma linhagem clássica que veio do rádio, narra cada lance, nomeia cada jogador envolvido nele e não fica dizendo bobagem sobre a copa de 70 ou 90. Dunga, na sua fala chamou a atenção para a necessidade de se olhar o presente. Existe a tradição mas ela de nada vale, pois os jogadores são outros, o momento é outro.

A Holanda não é a Holanda, é um time diferente, assim como a atual Alemanha é um time diverso das de outras copas. É preciso trabalhar dialeticamente a realidade e não confundir a percepção, que seleciona os melhore lances do passado para cobrar beleza do futebol no presente. Toda Copa tem lances duros, feios, mas selecionamos o que há de melhor e mais bonito para achar que aquilo sim era futebol. Pois acho o futebol da seleção canarinho capitaneada por Dunga um primor de time focado, atento, talentoso, aguerrido, vencedor.

Com seus pés para dentro, cabelo espigado, anão, tarraco, turrão, mau humorado, Dunga não nasceu para ser amado, mas respeitado. Capitão!

RETORNO - 1. Imagem desta edição: Toshiro Mifune em Yojimbo, de Akira Kurosawa. 2. Esqueci de comentar outro item importante da entrevista de Dunga: sobre a necessidade de o atleta descansar depois do jogo e não ficar de pé dando enrevista. Colocar os pés para cima, se alimentar e dormir direito. Um toque para quem tentou atrapalhar a seleção com exigências imperiais e exclusividades perniciosas. Lembram da época em que a seleção saía do cmapo direto para os estúdios da Poderosa? Pois agora mudou. Tem que sentar bonitinho ao lado dos outros e não fazer gestos de feitor em direção ao Capitão, senão leva troco.

27 de junho de 2010

TERRAÇO


Nei Duclós

Foi um beijo sem futuro
Quase uma despedida
Olhar arisco sobre o muro
Morango antes de colhido

O que era sumo ganhou caldo
E alcançou o céu da língua
Demorou mais que o segundo
Inicial de estranhamento

E foi subindo, como garoto
Em direção às pombas
No terraço cercado e sujo

Até chegar à gávea solta
Do crepúsculo. Urro surdo
De dois corpos se abrindo

RETORNO - Imagem desta edição: Marlon Brando e Eva Marie Saint em "On the Waterfront", de Elia Kazan.

26 de junho de 2010

QUE UM DE NÓS SOBREVIVA


Nei Duclós

Que um de nós sobreviva
e emudeça

Para esse alguém e suas mãos
estamos preparando nossa insônia

Que por fora ele seja de aço
e por dentro de estrelas
Que ninguém desconfie do seu destino
De maneira alguma
sorria
(para isso, se for preciso
mastigue infinitamente
meteoros e planetas)

Pois esse que eu chamo companheiro
deixará que os anjos revistem seus bolsos
e aprendam o que se passou conosco


RETORNO - Imagem deta edição: Arcanjo Rafael. O poema é do livro Outubro.

PRIMEIRO DO GRUPO, INVICTO


O onipresente Datena, que passou o Dia Sem Globo na frente das câmaras, sintetizou bem o paradoxo anti-Dunga. Ele disse que não critica mais o treinador diante dos resultados (demorou). Mas que não mudou nada de opinião em relação ao técnico. Ou seja, não quer dar o braço a torcer. A seleção canarinho está em primeiro lugar no grupo, invicta, e fez um jogo difícil contra um Portugal covarde, retrancado e escoiceante.

Foi só o Brasil não apresentar-se como macaquinho de circo, como querem os neymaristas ganseiros fundamentalistas, para já caírem de pau em cima. A turma escrota do Casseta e Planeta, que há mais de uma década ganha para se fantasiar de mulherzinha na Globo (o humor emasculado da ditadura), tirou o maior toco do Felipe Mello, que teve o tornozelo torcido numa entrada bruta do adversário português. Pois na Band o craque Denilson elogiou Felipe Mello quando estava com a bola no pé e o criticou por ter perdido a paciência e quase foi expulso.

Minha aposta como destaque na copa, Nilmar, se saiu bem, mas não brilhou como esperava. Assim mesmo quase conseguiu o gol num chute dentro da área, no batepronto, que pegou na mão do goleiro e na trave. Procuramos atacar, enquanto os adversários, que por estranha coincidência tiraram o sorrisinho maroto de deboche que usaram tanto contra os pobres dos norte-coreanos, se fechavam ao máximo.

O bobalhão do Cristiano Ronaldo, em vez de reconhecer que não conseguiu nada contra a seleção pentacampeã do mundo, ficou sugerindo que foi um jogo de compadrio, já que todos se conhecem e, deve achar, falam a mesma língua. Não falamos essa língua européia chiada e sem vogais e que por escrito é um deslumbre. Falamos o português brasileiro, que é outra coisa e que por escrito também é um esplendor, na mão dos melhores autores, claro.

O adversário agora será o Chile, uma seleção corajosa, que deu trabalho para a Espanha no apagar das luzes da primeira fase da Copa. Datena (ele, de novo) achincalhou com os chilenos e deu as oitavas de final como galinha morta. Claro, pois se houver problemas ele poderá xingar à vontade e esgrimir o famoso "eu não disse?". Coloca a seleção brasileira na obrigação de vencer o Chile, quando cada jogo é uma epopéia, complicada. Sorte que Elano foi confirmado. isso significa que nosso simpático e eficiente craque está com a perna boa e poderá nos brindar novamente com seu mangnífico futebol, o mesmo que foi execrado no momento da convocação.

Assisti tudo pela Band porque não suporto o baixo astral da Globo, que está ferida de morte com os sucessivos calaboca do Twitter. O olhar de víbora com que brindam as câmaras parece que prepara uma vingança. Por coincidência, hoje não pude mais acessar o Twitter depois do jogo. Assim, dei um tempo nas minha caneladas ao monopólio. Apesar do meu tamanho, me sinto um dos milhões de Davis contra o Golias eterno, o que devora o Brasil e depois vai reportar a miséria.

Revidaram com a Copa Solidária, como se fosse proibido criticá-los. Já que nos unimos contra eles, porque não nos unimos para ajudar o Nordeste flagelado? Uma coisa nada tem a ver com outra. Solidariedade pode conviver com a crítica. Ou criticar é "coisa de pobre" e por isso tanto muxoxo e dar de ombros, manifestações de pouco caso que os imperiais exibem na sua tosca cobertura, que não conta mais com a conivência do técnico da seleção, como acontecia antigamente?

O Dunga enquadrou-os porque é um profissional sério, democrático (recusou-se às exclusiviadaes globais) e competente. E patriota, obrigação de todos. Mas tem gente que torce contra o Brasil e são muitos. São os donos da "democracia". Os que usufruiram das patriotadas da ditadura e agora que foram colocados contra a parede ficam com essa atitude pedante e fria, como focas amestradas perdidas num iceberg.

Calem a boca, que falaram demais. Omitiram pessoas e talentos, devoraram tudo ao redor, impuseram-se na vida nacional da primeira infância à terceira idade. Chega, Globo. O problema é que não existe concorrência. O Neto "é brincandeira" torrou o saco na transmissão. A televisão brasileira é um horror.

RETORNO - Imagem desta edição: quem é grande sempre aparece.

25 de junho de 2010

A ÚLTIMA QUADRA


Nei Duclós

Há sempre uma rua escura
antes da minha casa
um cachorro pula o muro
um gato preto passa
um bêbado pede fogo
e acende os fantasmas

As pernas batem na calçada
movimentando as árvores
Há um lobisomem atrás do poste

Meu coração dispara
mas não tenho a chave
Minha mãe custa a acordar a sala

Fujo de mim, na última quadra
(a lua cheia ilumina
minha sombra afiando a faca
nas costas sujas
de um anônimo guarda)


RETOORNO - Imagem desta edição: foto de Cartier-Bresson.

24 de junho de 2010

DUNGA X GLOBO: LEGITIMIDADE E APARELHAMENTO


Os militantes aproveitaram o repúdio de massa contra o monopólio global, mas isso não tira a legitimidade dos dois calaboca: um para Galvão Bueno, que há décadas se interpõe diante dos telespectadores e todos os eventos esportivos importantes apropriados pela sua rede, outro para Tadeu Schimidt, que caiu na asneira de ler um editorial contra o técnico da seleção. Isso não invalida o protesto. Pela primeira vez dispomos de um veículo forte como o Twitter para somar a indignação contra a manipulação, tanto da mídia da ditadura, quanto da própria ditadura política e econômica.

O dia sem Globo marcado para esta sexta-feira, dia 25, tem essa dupla face: a continuidade da manifestação gerada no ventre da nação apartidária e a carona criada pelo bipartidarismo de araque da atual república do café-com-leite, com a chapa única Dilma-Serra, em que um é o vice do outro e vice-versa. Aqui no ermo onde moro, a TV aberta só pega a Globo e a Band, o resto é chuvisco. Ficar sem Globo é praticamente ficar sem TV, pois o monopólio garante sua audiência maciça por meio da sua infra-estrutura de transmissão e a grande rede de repetidoras e associadas.

A pata de elefante da Globo é tão gigantesca que há um histórico sobre a voragem desse monstro que medrou à sombra da ditadura e hoje enfrenta oposição, algo inédito para seus apresentadores metidos a besta. No JN, o casal 20 faz caras e bocas de desprezo à opinião pública, mandando todos os que se manifestam contra eles prestarem solidariedade ao Nordeste arrasado (como se fôssemos culpados por isso). Já que se unem para o futebol, unam-se por uma causa melhor, sugerem com olhares de fuzil e boquinhas tortas de raiva.

O recado é claro: se você é contra a Globo, é porque não tem nada o que fazer e portando vá carpir um lote, como se diz por aqui. Opinião, transmissão, cobertura são coisas para o Olimpo da mídia, não para a cidadania instrumentada enfim com recursos da tecnologia para peitar o polvo. Tenho debatido com pessoas fingem não entender o problema, pois bastaria “mudar de canal”. Mas se há monopólio, com algumas migalhas sobrando, às vezes, para outras redes, como “mudar de canal”? Se o sujeito fala décadas em todos os grandes acontecimentos esportivos e não tem para ninguém, o que você faz? Desliga o som da TV e põe no rádio, como já me disseram para fazer?

Nesta Copa, há o alívio do Luciano do Vale cobrindo alguns jogos, mas o pedágio que pagamos para boicotar a Globo são comentaristas toscos como Neto ou Edmundo.

A Globo nasceu da voragem. Comeu Excelsior, Tupi, a velha Record, Manchete, SBT. Depois não deixou medrar redes de TV que fossem alternativas ao monopólio, como foi a tentativa da TV Guaíba, da Caldas Junior, que foi praticamente destruída. Ainda existe, mas não segue seu projeto original e há tempos mudou de mãos. Dizem que essa briga foi o motivo da queda da tradicional Caldas Junior.

A seguir, selecionei algumas frases que escrevi para o Twitter (@neiduclos) no debate gerado pela briga entre a Globo e Dunga. Ficamos sabendo em primeira mão que a origem do conflito foi a recusa do técnico em permitir exclusividade da Globo na concentração. Foi no blog Botafogo em Debate num texto de João Ignacio Muller e não no Uol Esporte, que só revelou o motivo dias depois. Na internet também tem capital simbólico querendo imperar, mas estamos atentos. O próprio blog chamou a atenção para o furo.

Vamos às frases:

Se os continuistas concentrados em aparelhar o twitter quiserem um monumento, basta ir hoje a Pernambuco e Alagoas e olhar em torno

A chapa única Dilma-Serra quer aproveitar a força da pressão da cidadania manifestada no twitter. Estão precisando de um bom calaboca

Ninguém pode contra a massa de pressão reunida no espaço livre e democrático das mídias inventadas pela tecnologia. Mudança veio para ficar

Só quando nos submetemos ao chamado comando é que os poderes funcionam. Quando você diz não ele balança. Se disser sim, ele continua

Capital simbólico adquirido em sistemas obsoletos de comunicação foi para o brejo. Acabou o tempo do obedece quem pode e cala quem tem juízo

A tal República, que é de fato uma ditadura, está sob pressão legítima de baixo para cima que ultrapassa o atual engessamento partidário

Negar a legitimidade do repúdio de massa, não partidário, ao poder da Rede Globo, é submeter-se às tentativas de aparelhamento

A revolta nasceu com o twitter, quando foi criado uma mídia, de amplo e livre acesso, sem as hierarquias consolidadas da mídia

A Globo se apodera das transmissões esportivas importantes. Tirar o som e colocar o rádio para evitar o Galvão não basta

Os indices da Globo são fruto do poderio físico da rede, da quantidade de repetidoras e da infra de transmissão.

Para saber o que está acontecendo, não se deve apenas consultar os sites aparelhados, já que existem inúmeras mídias

Nenhum partido teria a força de fazer com que o calaboca atingisse o topo. Foi a massa de gente contra a Globo que fez o serviço

O repúdio foi gigantesco e se impôs.A politicalha foi atrás, tenta manipular.O protesto vale, mesmo com politicalha atrapalhando

Não se trata de competência, mas de jogo bruto político, de distribuição de butim que vem desde o governo Médici

No JN, estão todos com cara de "magoou". Como se tivessem o direito de acampar dentro da concentração para inventar "musa" de seleção

Qual concorrência?A que pega as sobras das verbas publicitárias,a que não possui sistema de difusão tão poderoso quanto a líder?

Qual concorrência? As empresas clones que empregam o rescaldo de quadros formados pela Globo e disputam o segundo lugar?

Quando uma grande massa de telespectadores manda o monopólio calar a boca, é porque quer liberdade. A imprensa se beneficia, não o contrário

Quando um sujeito pega o microfone e fala por décadas sem concorrência nos principais eventos esportivos, o cala a boca é legítimo.
Não adianta fingir: Desde o início da carreira de Dunga como técnico da seleção, o objetivo foi derrubá-lo. Querer que vença a Copa, nunca

Uma vez William Bonner disse que o público alvo do JN é o Homer Simpson. Agora sabe o que acontece quando trata o telespectador como idiota

A Globo recuou e sentiu o baque. Pela ª vez, amargam a planície, o lugar dos mortais

Quem primeiro peitou a rede Globo foi Leonel Brizola, não Dunga. Há uma tendência de achar que o mundo foi feito há cinco minutos

O trabalho de Dunga foi cercado de hostilidade e incompreensão, mas ele ganhou tudo até agora. Ele reagiu às

Mauro Naves da Globo diz que o grupo está fechado com Dunga. Claro, queriam que estivessem fechados com o monopólio da informação global?

Mauro Naves, da Globo, diz que "não tem a mesma liberdade de outras Copas". Sim, quando deitavam e rolavam. Agora precisam se enquadrar.

Jornalista da Uol Esporte diz que "apurou" os motivos da briga DungaxGlobo, mas o furo é de João ignacio Muller, do blog Botafogo em Debate

Li a ª vez sobre o verdadeiro motivo da briga DungaxGlobo no texto de João Ignacio Muller tuitado por @feliperdoval http://bit.ly/hrMF

Chama-se aparelhar o Twitter colocar o dia sem Globo na campanha contra o Serra. A luta é contra o monopólio, não contra candidatos

Quem adquire notoriedade ascende socialmente e começa a ver as críticas como fruto do ressentimento. Para eles, dizer não é "coisa de pobre"

Postos momentaneamente no tatame, as estrelas da mídia fingem desprezo e deboche contra as críticas e reivindicam o papel de democratas

Chutados nas canelas e postos momentaneamento no tatame, as estrelas da mídia fingem desprezo e deboche e reivindicam o papel de democratas
Quando a crítica cresce e repercute lá fora, os hegemônicos sentem o baque e assumem a postura dos civilizados horrorizados com a "barbárie"

Quando leio celebridades da comunicação noto que elas pouco acrescentam.O melhor está nos indívduos de mídias quase anônimas.Fim do reinado

Pensata não é bastidor. Especulação não é informação privilegiada. Opinião não é fato. Notoriedade não garante qualidade da informação

JN de hoje: onde está o Dunga que estava aqui? A "cobertura" da seleção brasileira sem o técnico. A mágica de fazer desaparecer pessoas

O objetivo da Globo não é ajudar, é faturar os tubos monopolizando tudo e colocando todo mundo embaixo de sua grande

Globo vai comprar o Twitter. De manhã, Tuitinho. O dia todo, Tuitnovela. No sábado, Tuitorra Geral. E no domingo, Tuitão e Tuintástico.

É que são os reis da cocaada preta, costumam ter todo mundo na mão. Só que com o Dunga, não in reply to IsiaSaen

Compatibilidade de comportamento não é o forte da Rede Globo, que cresceu à sombra da ditadura

Então, tá. Primeiro, o fato de criticar foi acusado de pessimismo. Agora, de "inveje". No país do sim senhor,oposição é encarada como doença

A Globo quis dominar a concentração com exclusividades e o Dunga não deixou. A briga vem daí. http://bit.ly/

Entenda a briga: Dunga não permite matéria exclusiva da Globo e é fritado depois da vitória ontem RT @feliperdoval http://bit.ly/hrMF

Não, a imprensa não expressa todos os brasileiros, as uma parte deles.E não deve usar seu pdoer para destuir um profissional in reply to carmenluciarda
.

Não sejamos ingênuos. A TV mostrou o xingamento para queimar Dunga, não para veicular a crítica.

A má vontade contra Dunga vem desde a seleção de , que perdeu a Copa. Mesmo com a vitória em , não o perdoaram in reply to carmenluciarda

O problema não é a critica, ser questionado. Mas a critica infundada e repetitiva, o questionamento por puro preconceito

O time foi montado pelo Dunga:a seleção é dos brasileiros, mas o técnico é o responsável. Se fracassar, ele será cobrado in reply to carmenluciarda

Os jornalistas também são pessoas públicas. Existe ombudsman na televisão? Eles veiculam críticas a eles? Jamais

Não se pode exigir elegância de alguém que você está chutando a canela! No mínimo espere uma reação à altura.

Ele foi submetido a severas críticas, a maioria infundadas,desde as eliminatórias, a Copa América, a Concacaf. Venceu todas
.
Receber criticas o dia todo,a maioria injustas,faz com que a pessoa se defenda.E se jogam pesado,como evitar a contundência?

O calabocagalvao serve para toda a imprensa monopolista. Acabou o reinado.

O fato é que a cobertura da imprensa é unifocal, chata, repetitiva e superficial. E viciada,como sugerem várias denúncias sobre a atividade

Grosseiros são seus críticos que caem de pau o tempo todo. Ele reage porque é humano e não precisa aturar tudo.

Admiram Nelson Rodrigues mas não entendem que a miopia representava o assunto que dominava:a percepção e não o próprio jogo, visto desfocado

A TV é tão tosca que para comentar futebol convoca ex-jogadores, para arbitragem, ex-árbitro. A especialidade é jornalismo, não futebol

A Globo é a favor de si mesma. Usa a seleção enquanto lhe der dinheiro e prestígio. Basta uma dificuldade para cair matando. Chega de Globo

Agora que a seleção está vencendo, contra todas as pragas e prognósticos,querem deslocar o time do seu técnico.Tarde demais.Dunga é o Brasil

E qual é o óbvio que precisa ser entendido?Que o assunto não é futebol, é linguagem. E na linguagem são o que criticam:toscos e mal educados

Pois calem a boca e deixem de envenenar uma campanha vitoriosa só porque querem provar que "entendem" de futebol. Não entendem o óbvio

A maior frustação de muitos jornalistas que cobrem esportes é errar sempre e ter de conviver com a vitória do que tanto critica.

O ódio ao Dunga é anterior ao tudo o que ele faz ou diz. Não o aceitam e despejam sobre seus ombros vitoriosos as próprias frustrações

Quando, em , o Brasil foi declassificado por x nas quartas de final, a Globo caiu matando em cima da seleção e babou o ovo do Zizou

São todos inteligentes, educados e sabichões. Só o técnico da seleção é tosco, horrendo e de baixo nível. Mil urubus rodeando a carniça

Há exceções e muitos jornalistas bons, alguns excelentes. Mas o espírito corporativo fala mais alto quando Dunga reage às pressões

O fato é que não entendem do assunto que cobrem e só estão lá sentados no trono graças a um esquema milionário e sem concorrência

Só a reação de Dunga é alardeada, mas tudo o que é feito contra ele nos bastidores não aparece. São todos inocentes e só Dunga culpado

A rede que imagina deter o monopólio da opinião pública caiu em cima de Dunga no momento em que a seleção calou a boca dos seus críticos

Dunga de novo não apareceu no JN. Em plena Copa, o técnico não existe mais. É assim que somem pessoas no império da mídia monopolista


RETORNO - Imagem desta edição: foto do site oficial da CBF em que Dunga apaarece no treino em Soweto.

22 de junho de 2010

MARACANAZO



Nei Duclós (*)


Sem talento para o drible, fui afastado para a função de goleiro, onde permaneci até ficar taludo o suficiente para descobrir que não conseguiria peitar a carga dos atacantes daqueles tempos, em que os marmanjos eram criados a leite com nata e carne recém abatida.

Quando o antibiótico ainda era novidade e a vacina causava revolta, não existia todo esse aparato de salvar petizes sem condições de sobrevivência. A seleção natural colocava no pedregulho a brutalidade das chuteiras. Diante de um tropel de cavalaria, o arqueiro em dúvida sobre sua vocação para o esporte só tinha mesmo que tirar o time de campo.

Antes disso, quando ainda éramos franzinos, era possível exibir-se em lances favoritos, como catar no ângulo ou interceptar o chute vindo da ponta, encaixando no ar o vôo arisco que iria cair na cabeça de alguém postado para matar. Mas a concorrência, principalmente nos torneios oficiais do colégio, não permitia que saíssemos da reserva, onde amargávamos tardes inteiras vendo os outros jogar. Duplamente excluídos, só nos restava o exílio absoluto: o futebol de salão, desprezado pelos mais fortes.

Não sei por que chamam esse jogo hoje de futsal, que parece nome de purgante. Na época foi uma solução honrosa, pois aos poucos os reflexos treinados na velocidade da pequena cancha chamavam a atenção das platéias, atraídas pelos craques que surgiam na nova modalidade. Sobrou então para mim a honrosa posição de defensor da seleção do colégio, já que devíamos levar as cores nacionais para território estrangeiro, no outro lado do rio Uruguai.

Lá, los hermanos exerciam o chamado futebol suíço, ou society, que tinha em comum o espaço limitado e o número reduzido de jogadores. A diferença estava no piso: o deles era gramado, o nosso de cimento. E também, na bola: em vez da pesada, fofa e clássica que tinha formatado nossa arte, tínhamos uma espécie de jabulani de couro, pequena, leve , arisca e traiçoeira, que nos foi apresentada só no torneio, no momento decisivo.

O resultado foi o desastre. Como acontece hoje na África, a desgraçada batia no meu peito e voltava para o pé argentino ou escapava das mãos, caindo no fundo do gol. Fui substituído de maneira humilhante. Tinha experimentado o meu maracanazo, aquele momento em que nossa vaidade pré-vitoriosa se transforma numa derrota indefensável.

RETORNO - 1.(*) Crônica publicada nesta teça-feira, dia 22 de junho de 2010, no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. Imagem desta edição: Barbosa tomando gol em 1950. Só isso ficou na memória. As grandes goleadas daquela Copa sumiram. Quando eu jogava futebol, naqueles idos, Barbosa era sinônimo de goleiro. Aliás, era o apelido do grande goleirão de futebol de campo do Colégio Santana. Quem sabe algo sobre aquele Barbosa? Cartas para a redação.

21 de junho de 2010

O BRASIL NÃO FICA NA ÁFRICA


Vejo entrevistas de “afro-brasileiros” dizendo que vão ficar em dúvida se houver uma final entre nós e um time de país africano. Imagino que o espetáculo de brutalidades exposto pelo time da Costa de Marfim neste domingo tenha deixado claro, para quem ainda acredita em “sangue” como definidora de povos, e não em nacionalidade, que o Brasil não é da nem fica na África e nem em outro lugar remoto. E sim onde se situa, geográfica, social e politicamente, em berço esplêndido, isto é, para sempre, graças à sua soberania consolidada. Não é feito de caucasianos ou asiáticos e também não faz parte da Latinoamérica, “a pátria grande”, como dizem os pseudo, essa ilusão de fala hispânica de poncho e conga.

Da mesma forma deve ter ficado claro para jogadores de países africanos que eles não nasceram pelés, só pela cor da pele, já que Pelé não é de país africano, é brasileiro, assim como Obama veio de Harvard e não do Quênia. Perdendo, com algumas exceções, jogos sem parar, devem ter acordado mais uma vez para a realidade: que futebol não é direito adquirido nem serve para fazer uma espécie de justiça social. Não significa que o jogo seja “uma caixinha de surpresas”, como quer a crônica esportiva recorrente e viciada na mesmice, mas um jogo exercido por espíritos livres e, portanto, sujeito aos princípios humanos e não aos preconceitos, análises supérfluas, ódios em geral e soberba, principalmente da mídia, de algumas estrelas e dos organizadores desta copa de desastres.

O Brasil mostrou a que veio no primeiro minuto do jogo contra a Costa do Marfim, tido como um dos bicho papões da chave, assim como a eterna Fúria espanhola, sempre dando com os burros nágua e voltando em cada Copa com a mesma pose. Todos se quebram pelas quebradas da vida, mas chegam campeones del mundo nas Copas, como é o caso dos argentinos, que se classificaram de calça na mão e como sempre posam com a mão na taça antes de provarem o gosto da grama no céu da boca. Nossos jogadores avançaram sobre os adversários com aquela aparente facilidade que confunde tanto os críticos, pois a idéia é que não precisamos fazer esforço para ganhar e por isso somos eternamente condenados às vitórias e só o Dunga não deixa, ou não deixava.

Chegou a hora de virar a biruta das críticas. Depois de achincalharem o capitão e lançarem todo tipo de praga para que ele se desse mal, eis que o time que ele montou em quatro anos continua vencendo e joga o fino, se superando diante de tantas burrices impostas no torneio internacional, como a bola americana fabricada na China e com nome africano, que foi feita para destruir o futebol e transformar todo mundo em peladeiro. Enquanto a seleção francesa se esgarça em derrotas e brigas, o selecionado canarinho se firma na competição e nos deslumbra com um jogo limpo, objetivo, forte, expressando a arte renascentista no futebol por parte de um país com vocação para a grandeza.

Não canso de ver confirmado na prática o que digo ao longo dos confrontos. Enquanto berravam por Neymar ou Ganso, enquanto sofriam pela ausência de Ronaldinho Gaúcho, a seleção de Elano e cia. chegou para enfrentar a barra pesada dos adversários que não se conformam em perder quando enfrentam o pentacampeão do mundo. Já disse aqui que a seleção não pertence ao Dunga ou à CBF, mas à nação e à sua luta secular para ser o que é, o impávido colosso. Há um pânico generalizado diante do amor pelo Brasil, porque essa ojeriza foi implantada de maneira torpe em quase 50 anos de ditadura, desde 1964.

As patriotadas e o cinismo dos falsos patriotas tentaram roubar do povo o amor à camisa, mas não conseguiram. Amamos o Brasil não por motivos condoreiros ou bateções inúteis no peito, mas porque esta nação é nossa única chance de sobrevivência. Não queremos ser palestinos nem curdos, povos sem país. Queremos ser o que somos: brasileiros com cinco estrelas no peito.

Cinco, por enquanto. Se não for na África, em outro lugar será. Ninguém impede o gigante de cumprir o seu destino.

RETORNO - Dunga não permite que Fátima Bernardes e equipe façam matéria exclusiva na concentração. Ontem, fechou o tempo. Entenda a briga Dunga x Rede Globo. O motivo está aqui Atualização: tem mais detalhes aqui.

19 de junho de 2010

AMOR É MORAR NA PALAVRA


Nei Duclós

Amor é morar na palavra
Branco de ator
discurso gago
Trêmula mão na sessão
das quatro

Amor é teto de tesão
Declaração tingida
pela chuva
Busca sob o lampião
no verniz mofado

Amor é mudar-se
para a curva da
estação
e cutucar o verbo
majestático

Amor é dizer calado
o que provoca dor
no coração da frase
Carta na sarjeta
resto de embalagem


RETORNO- Imagem desta edição: obra de Ricky Bols.

17 de junho de 2010

PROBLEMAS DA EMPRESA FAMILIAR


Este é um texto para uma boa seção de Negócios aqui no Diário da Fonte. Trabalhei nesse nicho do jornalismo por vinte anos, tanto na imprensa quanto nas assessorias. Entrevistei mais de 300 empresários, sem falar nos grandalhões, de Luiz Furlan a José Ermírio de Moraes. Editei matérias sobre o assunto em inúmeros veículos e fiz também muitas reportagens a respeito. Uma infinidade de textos que escrevi depois de entrevistar empresários foi assinada por eles. Nada a estranhar. Sou ghost-writer da humanidade.

Gosto de comércio e indústria, não de especulação financeira. Gosto de fábrica e balcão, não de fusões. Gosto de lucro, não de juros. Gosto de livro-caixa, não de entesouramento ilícito. Não gosto de demagogia, por isso vou falar quais são os problemas da empresa familiar. O principal deles é o conceito de família. “Somos uma família” é a coisa mais mentirosa dentro de uma empresa. Família é outra coisa. Serve para a proteção e a sobrevivência. Empresa serve para o lucro. O atendimento preferencial ao cliente não existe porque a empresa é humana, mas porque visa o lucro. Isso não é uma maldade, é fato.

O patrimônio de uma família são os bens, a poupança, a educação dos filhos, a segurança de todos. O patrimônio de uma empresa não é a marca, a sede, o estoque, os colaboradores. Tudo isso pertence aos clientes. O patrimônio de uma empresa é o lucro. Sem o lucro, não há nada. Não adianta investir para “realizar um sonho”. Você investe para ter de volta mais do que gastou. Simples assim. Então vamos parar de frescura e ao mesmo tempo vamos deixar de ser cretinos. Porque nada mais cretino do que dizer que a missão da empresa é salvar o mico leão dourado e ao mesmo tempo jogar esgoto na sanga.

O que mais incomoda um cliente quando entra numa empresa familiar? Exatamente o conceito, o grude, a postura, os laços da família. Você se sente constrangido em entrar em casa alheia. Agora, se você sente que a empresa lhe pertence, ou seja, lá você vai encontrar o que procura e gosta, então é diferente. Você não precisa cumprimentar o idoso sentado na porta do estabelecimento, nem se apresentar, sem ser alvo de olhares. Você vai direto ao que precisa e é atendido com eficiência, sem nenhum laço “humano”, principalmente esse saco de perguntarem teu nome para repetirem à exaustão enquanto você tenta provar a roupa que quer comprar.

“Está bem assim José, gostou Aristides, ficou muio bem em você, Matilde!” Parem com isso. O cliente não seu parente ou amigo, ele simplesmente é o cliente, uma criatura do mundo dos negócios que precisa ser respeitada mas não “amada”, amado. Tmbém para isso não precisa mostrar frieza ou ameaçá-lo coma expressão “fique à vontade”. Empresas que deixam o cliente à vontade não tem atendente dizendo esse tipo de coisa, seria redundância. Agora, empresa que constrange quem entra faz questão de repetir jargões pentelhos como esse.

Não trate mal, não levante o queixo para a pessoa, não faça cara de estranheza.. O cliente não é o estranho, como acontece com as visitas na sua casa. Ele é o dono! Ele também tem lucro: é ser atendido à altura da sua necessidade. Não se importe se ele é o protagonista e você, empresário, coadjuvante. Você terá no banco o resultado do seu esforço. Isso parece chocante, mas não deveria ser. Indústria e comércio são atividades anteriores ao capitalismo.

E o capitalismo nada mais é do que um sistema que intensificou ações milenares pela sobrevivência. Ao mesmo tempo, desamarrou velhos sistemas coloniais que engessavam todo esse esforço. Essa dupla face do capitalismo, a que desencadeou as forças produtivas e ao mesmo tempo as distorceu, é o grande desafio dos últimos 200 anos. Não pode ser tratado, portanto, com a visão bocó do socialismo de galinheiro ou do reacionarismo aparelhado. Precisamos de luzes, de estadistas, de pessoas que enxerguem longe, que libertem as empresas de suas amarras, que pulverizem a indústria, o comércio e o consumo, para que haja riqueza para todos, dinheiro sem que as notas entrem em trabalho de parto para mais dinheiro sem que haja realidade no meio, suor, batalha, lucidez e coragem.

Precisamos de inteligência no comando do país e não algozes do discurso, bobalhões partidários, devotos do dizque-dizque. A nação tem fome de grandeza e a grandeza, de transcendência.

RETORNO - Imagem desta edição: a infantilização da clientela quando dizem "fique à vontade". Tirei daqui.

16 de junho de 2010

TWITTER ESQUENTA A GELADA ÁFRICA DO SUL


Fiquei assustado: tuitei (@neiduclos no http://twitter.com) tanto neste mês de junho que o número de de caracteres extrapolou o tamanho de um Guerra e Paz. Selecionei alguma coisa sobre a Copa sul-africana. Começo com duas frases, depois dividi em temas:

A vida é como a Copa Uma rotina só, sem nenhum lance que valha a pena De repente, um time entra em campo e arrasa E tudo faz sentido

Quase tudo da nossa época passará, mas Mandela fica


CALABOCAGALVÃO (http://to/lQ)


Calabocagalvão foi um grande evento político da livre expressão Contra o monopólio da Globo e um deboche ao onguismo militante e milionário

O video do calabocagalvão alerta que os galvoes são mortos no carnaval Só falta essa: o Galvão Bueno narrar o desfile das escolas de samba

Calabocagalvao deu certo porque o desplante do porta-voz do monopolio da Globo ultrapassou qualquer limite.Não funciona com outro personagem

Calabocagalvão transcendeu o protesto político e atingiu status de anti-publicidade de nível profissional, arte emergente que vai incomodar

Não se deve insistir para o Galvão calar a boca, porque isso apenas vai inflá-lo Mas sim exigir mais vozes para narrar o futebol da seleçã

O riso global do calabocagalvão lembra a cena em que o Poderoso Chefão dá dinheiro e passagens para o irmão e depois manda matar Cuidado

Se houvesse concorrência,Galvão sumiria diante de outras vozes mais qualificadas Estas não surgem porque o monopólio não deixa

Ao sair no El pais e no NYT, Galvão teve de mostrar a cara Não pôde mais moitar, sentar em cima da livre expressão brasileira

Acho que ele balançou Virou piada na imprensa internacional Agora quer tirar de letra

Ele, para variar, está manipulando Cala boca não é porque fale muito ou seja um papagaioÉ porque impõe sua presença via monopólio cacildanc

Ele está se fazendo de tonto, dando uma de joão sem braço Ele sabe que cala boca é acabar com o monopólio da Globo nos esportes cacildanc

Se o Galvão diz que "está na campanha" e está "sério na campanha" então será que ele vai calar a boca? cacildanc

"Cala a boca Galvao" é a resposta da livre expressão ao monopólio e à ditadura Mas é uma reposta fácil de ser manipulada

O rosto da torcedora toma conta de toda a tela, em câmara lenta Galvão Bueno, definitivo: "Veja esta imagem!" Não fosse ele, ninguém veria

Olha essa imagem, dito por Galvão Bueno, significa: você só vê aquilo que eu disser para você ver; se eu não disser, você não está vendo

Antonio Callado dizia que o Brasil é um colégio interno, onde o recreio é a democracia O twitter é a democracia, a política é o internato

Será uma pena se no futuro nossos netos perguntarem: é verdade que vocês tinham liberdade de expressão numa coisa chamada Twitter?

Se for verdade que estão sumindo tuits e a Globo conseguiu sufocar o Calabocagalvao com uma liminar, então voltamos à vaca fria

Galvão Bueno é porta-voz de um monopólio, mas acha que está abafano/bafano

Galvãobuenês: os jogadores não jogam, insistem; fazer frio é quando a temperatura "mergulha"

Galvão Bueno pronuncia os nomes dos sul-africanos como se estivesse vocalizando o refrão de um cha cha cha

A próxima vez que Galvão Bueno disser bafana bafana será confinado numa solitária


PRIMEIRA FASE DA COPA

Sou Celeste uruguaia, a seleção que nos ensinou a humildade Temos uma dívida eterna com os irmãos do lado certo do Prata

Favorito é o time que gera pautas óbvias, favorece anunciantes e serve para entronizar os "que entendem de fú-tê-ból"Aí vem a Suíça e pimba

Comparando com o resto, o Brasil só fica atrás da Alemanha e empata com mais dois. Toda Copa é sofrida A memória seletiva gera ilusões

Toda Copa recebe a Furia como grande promessa A Espanha perde, mas volta com a mesma pose Só o pentacampeão é tratado como timinho

A falta de gols nos últimos jogos pesou no comportamento de Luis Fabiano, que estava muito ansioso e por isso cometeu um monte de faltas

Nilmar é um jogador de dois toques Ele mata a bola e chuta certeiro no gol Se tiver mais oportunidades, vai acontecer nesta Copa

Só porque é a Coreia do Norte não significa que iríamos golearÉ mole definir a galinha morta e cobrar como se a seleção fosse nossa escrava

Todo time é perigoso, mesmo aquele que não tem tradição ou talento Os coreanos estavam bem fisicamente, fechados e rápidos no contra-ataque

A seleção não achou seu caminho nem seu espaço a maior parte do jogo Custou a ter um mínimo de entrosamento Faz parte da estréia

Dunga foi marcado na paleta Lembro do Felipão em ou mesmo Parreira em Disseram horrores. Fomos campeões

Só a Alemanha brilhou até agora O resto rastejou, mesmo a Argentina Bastou o Brasil fazer o mesmo para ser demolido Pois vamos ganhar

Tudo é penoso no inverno Levantar, vestir-se, sair, ganhar da Coréia

O escasso a serviu para xingamentos ao longo da partida, mas o balanço deve ser a favor da seleção, que acabou ganhando.Ainda é o começo

Jogo complicado O Brasil pegou no tranco só no segundo tempo Gostei das substituições Facilitamos no gol coreano Ganhamos no sufoco


MEMÓRIAS DAS COPAS


Assim passei o tempo que me foi dado viver sobre a terra: num país que exerce a arte do futebol como se fosse um mestre renascentista

Em 2002, o Brasil se impôs perante todos os bicho papões O gol de Ronaldinho Gaúcho, chutado a km de distância, foi o esplendor da Copa

A Copa mais dolorosa foi a de 82. A mais surpreendente, a de 94. Foi quando enxerguei Parreira, até então invisível para mim

Em 70, vi o quanto cabia de gente numa cidade A multidão, compacta, avançava sobre as ruas e calçadas tomada por um poder sem limites

Assisti a Copa de70 em tvs nas ruas de Porto Alegre O mais sofrido foi o jogo com a Inglaterra A multidão pulava com Pelé para cabecear

Em 62,aos 14,já éramos quase adultos Sintonizamos a Cadeia Verde-Amarela Norte-Sul do PaísOndas curtas:Pelé machucado,Garrincha é expulso

58 lavou a alma da naçãoNaquele momento, nos compensamos pela perda do título em e da decepção em O país renascia e tinha rei

Mais tarde, vimos no mesmo cinema o documentário sobre a Copa na Suécia Já sabíamos de cór todos os jogadores Entrávamos também em campo

O carnaval nos anos era jogo bruto Ainda imperava o entrudo,festa colonial violenta onde valia tudoMas em foi um abraço geral

A praça em frente ao cinema estava cheia de fumaça e serpentinaHavia cheiro de lança-perfume Milhares de garrafas vazias Berreiro geral

O futebol jogado na várzea,de repente,ganhou o mundoPara a gurizada, a Copa não passava de um torneio qualquerMais importante era a matiné

Vi pessoas sérias rolando pela sarjeta,ensandecidas com o campeonato mundial Éramos habitantes do Brasil profundo, que naquele ano, emergiu

Em 58, com 9 anos, na hora da final com a Suécia,fui ao cinema Interrompiam a sessão para gritar golNa saída,todos tinham enlouquecido


COBERTURA ESPORTIVA


Os olhos do telespectador são bóias num mar revolto, vivem passeando pelo teto e paredes Por isso o narrador, a cada 5 segs, diz: "Olha lá!"

Contra-ataque e jogada ensaiada tomam conta de metade da narração do futebol.Ditas sempre em tom de novidade

A TV transmite uma representação do jogo É por isso que todo o lance é polêmico, pois depende da percepção e da análise de cada um

Se deixarmos a História a cargo da Rede Globo, então, como diria Tarso de Castro, devemos pedir nossa cidadania de cachorro paraguaio

O protagonista da História não é o fato, a fonte ou as suas representações Mas sim a análise, a abordagem,a costura que se faz desse acervo

Então vamos parar com isso de testemunha ocular da História ou que estamos presenciando um momento histórico História é outra coisa

A História não pode ser vista a olho nu O que vemos são representações, que alimentam uma ciência humana de inúmeras abordagens

Glossário da Copa "Consciente" é o lance em que o narrador reconhece o fato de o jogador dispor de um cérebro

Futebol não é volei nem basquete Romário, baixinho, fazia gol entre gringos altos O jogo é outro marisascruz

O atacante se abaixou para cabecear Mas o narrador lembrou que ele é grandalhão, chamou a atenção para sua altura, como se isso importasse

Depois de mais um extraordinário zero a zero, aparece a Cissa Guimarães louca para fazer gol

O gesto mais cretino do futebol é levantar os braços reivindicando inocência depois de chutar ferozmente o adversário Tem a toda hora

Glossário da Copa "Tentou o lance individual" é drible Se der certo é "futebol brasileiro" Se der errado é "fazer graça"

Não importa se o jogador tem , ou , m O jogo não depende da altura, como volei ou basquete

Onde os narradores aprendem a dizer asneiras como a importância da altura dos jogadores de futebol? Existe auto-ajuda da idiotia no esporte?

Não adianta Eles ficam medindo a altura dos jogadore, como se fosse importanteEsquecem o b aixinho Romário fazendo gol entre gringos altos

O narrador ficou pasmo: a bola passou "por cima dos grandalhões" da zaga e caiu na cabeça do atacanteFutebol não é vôlei,altura não importa

Num jogo Dinamarca X Holanda por que tem gente soprando corneta sem parar? O atordoamento gera ansiedade entre os jogadores e torcedores

Idiotias da Copa O atacante se abaixa para cabecear "O gigante de um metro e nem precisou pular", diz o narrador Futebol ñ é basquete

Futebol não é vôlei nem basquete, altura não conta Mas a equipe da Globo está sempre medindo a altura de quem está na área

Glossário da Copa para quem adota futebol nesta época Sentir é estar machucado, não apaixonado Partir para o abraço é gol, não namoro

Coitada das latinhas, não, coitado de quem precisa aturar essa frase repetida a cada cinco segundos

A seleção alemã pintou, como sempre, com o perfil de campeã É a primeira seleção que conseguiu dominar a bola chinesa Jabulani

Casagrande não é um mau comentarista, mas peca por algumas obsessões Sua fidelidade ao que chama de características o leva a cometer erros

Achar que a seleção alemã,por não ser travada e mostrar-se ofensiva,não tem a "característica" alemã e sim brasileira é erro do Casagrande

Time coeso, ofensivo, integrado, que aproveita todos os espaços e cria várias soluções Com x,se impôs à boa Austrália,que nada pôde fazer

Deve ser os astros Dilma e Serra também está dando empate

Admiro a seleção alemã, pela sua passagem nas Copas Perigosa, determinada, vitoriosa Alemanha, a Extraordinária http://bitly/pctK

Nossa articulação dos nomes de jogadores chega até a velha Cortina de Ferro, no máximo Além desse limite, nem com sotaque

A fragmentação acabou com potências do futebol como Tchecoslováquia e Yugoslávia Agora parece a seleção da Patagônia x Terra do Fogo


“QUEM É A BOLA?”

A pergunta "Quem é a bola?" daquela personagem do Nelson Rodrigues é a mesma que os jogadores fazem hoje

Antigamente, os eucaliptos rodeavam os estádios Dificilmente a bola ia lá Com a Jabulani, eucalipto hoje é gol

Quem se acostumava com as de capotão aprendia o ofício e tinha o comando da bola Hoje o biroço assumiu o poder l

Os empates extraordinários da primeira fase da Copa são ótimos para várias ocupações paralelas, como cozinhar ou dormir

Os frangos gerados pela Jabulani servem para as práticas de sacrifícios

A Jabulani é a nova encarnação do Espírito Que Anda Reina absoluta sobre os jogadores, transformados em pigmeus


Essas bolas de supermercado feitas de plástico,com vida própria, não existiam no tempo da bola de couroPelo menos não no futebol de campo

Mão na bola só vale para atacante, como provam Maradona e Henry O jogador da Sérvia precisa saber que zagueiro não pode

Ninguém consegue dominar a bola "africana" da Adidas fabricada na China com mão-de-obra escrava e agora em greve Por isso sai pouco gol

Cobertura fresca Jogador vai às compras, manda recado amoroso, nega que brigou Agora, perdi o gol da Argentina e só vi no dia seguinte

"Você relatou muito bem a situação" disse o comentarista para o narrador Agora, informar qual time está de camisa branca, isso nunca

Primeira fase é assim mesmo: não é um mata-mata Todo mundo devagar E a bola chinesa é um fracasso: nem sai mais gols, como previsto

A Coreia do Norte vai surpreender Os jogadores virão com tudo, senão serão amarrados a mísseis em direção a Okinawa

A seleção de Aspen teve de voltar Os esquis não passavam na roleta do aeroporto

Obra, hoje tem mais Copa do Mundo Pólo Sul X Ilhas Seychelles, imperdível!

Futebol é linguagem e os jogadores são seus autores Querer desmoralizar os craques fazendo pose de intelectual é pura patifaria

Confluência de linguagens: Foucault nos pés de Robinho http://bitly/cJHi Um texto respeitoso sobre cultura e futebol

O deboche contra a incultura dos jogadores brasileiros é preconceito de um perna de pau metido a besta O pior é que retuitam essa patifaria


LOS HERMANOS DE CÁ E LÁ

A Argentina chegou na Africa campeona del mundo Qualquer obstáculo contra essa evidência é tratado como crime de lesa-majestade

Como assim a Argentina está em "jejum" de título de Copa há anos? Por acaso há um destino manifesto de serem campeões? Pura pose

O jogo estava tão monótono que Henry lamentou não ter trazido seus tacos de golf

Jogo da França sem gol de mão não tem graça

O futebol argentino é uma correria com precisão de relógio cuco

Maradona tentou mas não conseguiu ser visto como melhor do que Pelé, eleito o maior atleta de todos os tempos Agora quer tentar com o Messi

A Argentina não é aquela seleção que se classificou no último minuto com as calças na mão? Quem compraria um Rolls-Royce usado do Maradona? : PM

Alguém precisa avisar ao bestalhão do Verón que samba, sorriso e amizade não definem o Brasil O que define são as cinco estrelas na camisa : PM

Dos Santos é mexicano Filho de brasileiro, mas mexicano "Sangue" não conta Quantos filhos de brasileiros nascidos do México são craques?

Aquele inglês do presidente da Fifa eu também falo!

Se sangue valesse na Copa, então as seleções seriam de caucasianos, asiáticos, hispânicos, afro e não da Coréia, Brasil, EUA, Mexico etc

Se o Brasil for eliminado, não saia correndo para vestir outra camisa de seleção classificada "Sangue" não vale, só nacionalidade

O problema não são as cornetas lá, são as cornetas aqui Supermercado perto de casa está distribuindo Parece buzina de fenemê


RETORNO - Imagem desta edição: tirei daqui.

LUZ DE LONGE



Nei Duclós

O homem lúcido sabe
que vai morrer
É só uma questão
de tempo
Essa clareza é seu único
sentimento

Não que seja escuro
o seu pensamento
Ou jogue pesado
contra a esperança
Ou pense o pior dos seus
semelhantes

Ou que seja só
porque se atormenta
Ou viva pelos cantos
como um doente
Ou seja alvo de crianças
por ser insano

Mas porque senta ao sol
e se aquece como plumas
que secam ao vento
E vê montanhas onde
impera grutas
de silêncio

O homem lúcido não pede
esmolas frente ao templo
Nem arrasta as garras
afiadas pela guerra
Ou se afasta do amor
Ou dos sonhos extremos

Conhece apenas os limites
do entardecer, e o vôo
escasso de seus espantos
Sabe com os pés, e o rosto
que passa depressa
e não deixa herança

A não ser alguns versos
batidos no cais do porto
Que alimentam o fogo
de mendigos roucos
Lá onde amanhece, e a dor
se esquece por um instante

RETORNO - Imagem desta edição: tirei daqui.

15 de junho de 2010

A NÚMERO CINCO


Nei Duclós (*)

A bola de couro número 5 era o Rolls-royce das pelejas esportivas dos tempos idos. Tinha o tamanho e o peso certo, toda costurada a mão, peça de artesanato que servia de parâmetro para campeonatos, torneios e amistosos. Era preciso reformular um campo inteiro para abrigar jogos com aquele objeto caro, raro e só acessível aos endinheirados, filhinhos de papai ou obsessivos em geral. Era como passar no vestibular: quem aplicasse um chute certeiro no biroço de ouro já era considerado craque do selecionado.

O grosso solado de sua curvatura exibia a resistência dos produtos intermináveis daquela época, quando carro, geladeira, pulôver, casaco ou sapato eram para toda a vida. Menos para nós, petizes em fase de crescimento ostensivo, que tornavam obsoleto todo esforço de perenidade. A única coisa que permanecia para sempre era a bola número cinco, que exibia o carisma dos Stradivarius ou dos licores clássicos.

Era uma obra renascentista a ser exibida para olhos arregalados de garotos de rua aos molambos, os que ainda estavam na fase de bola de meia e no máximo ganhavam algo intermediário, uma número três, por exemplo, que não exigia respeito. Quando uma número cinco aparecia nas redondezas, havia a suspensão imediata de toda atividade para uma sessão de admirações exclamativas.

O grande perigo era alguém muito ruim no drible ou no gol ganhar de presente, de modo imerecido, o que era desejado pelos bambas de todos quadrantes. O ritual então era sempre o mesmo: o jogador medíocre, mas abonado, era paparicado até afrouxar a guarda e soltar a belezura no meio do gado. Era o batismo de fogo, que tinha por objetivo estraçalhar, por vingança, o presente tão ansiado. Só quando todo o couro estava esfolado e os gomos se soltando nas costuras é que devolviam, quase murcha, aquilo que outrora tinha conquistado o olhar guloso da turma.

Era quando, em choro desatado, o chambão corria para debaixo da cama, a acariciar o que imaginara ser seu passaporte para a inclusão. Mas tudo não passava de uma tarde de ilusões. Porque a vocação e o destino eram coisas que escapavam de qualquer numeração e pertenciam a quem nascia para isso. Para quem dispunha daquele espírito soberbo de um centroavante diante do goleiro em pânico. Isso não se comprava na loja da esquina.

RETORNO - 1. (*) Crônica publicada nesta terça-feira, dia 15 de junho de 2010, no caderno Variedades, do Diário Catarinense. 2. Repito aqui a fantástica foto do nosso time da segunda série ginasial do Colégio Santana. O goleirão ao centro agachado sou eu. Lá estão Chitoca, Julio Lhamby, Rubens Guez, Zeí Pons e o irmão Gotardo, entre outros amigos dos melhores tempos.

14 de junho de 2010

COPA 2010: ADIDAS E FIFA MUDAM O FUTEBOL


Conseguiram enfim. Não bastou jogar todo o poder no futebol no colo da publicidade, que coloca marca até na bunda dos jogadores no Brasileirão. Não bastou implantar uma política extrativista de recursos naturais sugando craques prontos ou em potencial de todo mundo para abastecer os shows milionários na Europa. Não bastou transformar o amor à camisa em fidelização de produtos ou inflar o valor dos craques dentro da lógica da especulação financeira pirata e predatória. Também não bastou abafar escândalos sucessivos de arbitragem, eternidade de cartolas nos cargos e monopolização total do jogo sob as ordens da Fifa. Precisou fazer mais. Precisou iniciar a desconstrução definitiva do futebol por meio da bola Jabulani.

A Adidas fabrica a bola Jabulani na China (o nome africano é só marketing), com mão-de-obra escrava. Por custarem quase nada, os operários chineses mantêm o enriquecimento crescente de maganos como os donos da Nike, Adidas e outras multinacionais (não há corrupção na China? Toda essa bufunfa não azeita cargos importantes na ditadura chinesa?). Agora começa a haver greve no império das quinquilharias e produtos fajutos.

É a maior tralha, porqueira, ou o que se diga dessa bola de plástico de supermercado ou de praia que caiu como um petardo no miolo da mais importante competição de futebol do mundo. Vejam os frangos, o gol contra, a bola disparando miseravelmente com qualquer toque, voando para fora dos limites, atingindo arquibancadas, cruzando o campo com facilidade. Lembram como Pelé deslumbrou a todos chutando a gol da linha intermediária? Era difícil fazer um lance desses com uma bola decente. Com a Jabulani, virou brincadeira.

Adidas e Fifa querem que o futebol seja só show e não mais um jogo tradicional, com fundas raízes no imaginário e identidade das nações, que é a maior riqueza desse esporte e, paradoxalmente, está sendo jogado no lixo. Mudaram o peso, fizeram a bola com oito gomos e não 32 para mudar o itinerário dos chutes. Todo mundo vai ter que se adaptar. O tiro está saindo pela culatra: como ninguém consegue dominar o troço, são poucos os gols. Por enquanto, a atual geração de jogadores virou um bando de peladeiros, errando tudo, porque a porcaria escapa, por ser outra coisa, menos uma bola oficial de futebol. Mas notem o desprezo que vai atingir a formação dos craques. Crianças crescerão com a merda da bola e só saberão jogar com ela. Que tipo de jogadores serão? Facilmente manipuláveis, já que o futebol vai virar loteria, ganha quem tiver mais sorte tocando na quinquilharia.

O desplante com que colocaram o principal objeto do jogo, a bola, numa Copa sem avisar ninguém, sem que ninguém soubesse o que aconteceria, é um escândalo sem precedentes. Não adiantou os jogadores chiarem. Foram acusados de serem empregados da Nike, daí a reclamação. Não foi levado em conta que nosso goleiro Julio César tinha razão ao reclamar primeiro, Robinho sabia o que estava falando ao dizer que ela não prestava. Vemos o resultado nos jogos. A bola faz o que quer e todo mundo faz papel de palhaço. Ok, o goleiro inglês Green já tinha tomado frango antes. Mas vejam como ele foi com segurança na bola e acabou sendo traído por ela.

A Copa do Mundo é um confronto entre nacionalidades. O que se usa nas arquibancadas e nas comemorações são as imagens que os países fazem de si mesmo e uns dos outros. Mas em campo vemos pessoas idênticas de qualquer país, com algumas variações raciais, mas nem tanto, já que tem pele diferente em quase todos os times (com exceção das eugenias asiáticas). A Copa, além de ser um up-grade, uma atualização sobre o esporte, é também a prova de que não há mais diferenças significativas. Tudo foi reduzido ao mesmo estilo de vida, apesar de serem nacionalidades bem marcadas, ditadas por fronteiras consolidadas, o que nos salva da barbárie, por enquanto.

Os povos diferem nas suas identidades nacionais, mas não no estilo de vida. Leis, bandeiras, hábitos, geografias de um lado. Fast-food, internet, roupas esportivas de outro. No futebol as coisas se misturam. A modernidade mantém tudo sob o mesmo jugo, repetindo inclusive as diversidades internas (populações com várias etnias, por exemplo). Mas a cultura, a memória e a vivência em espaços diferentes trabalham uma outra diversidade. É complicado. Nas seleções, existem equipes que são legiões estrangeiras. Isso diminui ainda mais as diferenças dentro de campo.

Mas a crônica esportiva, sem ter por onde pegar, e agarra a conceitos equivocados como característica e detalhe. É uma avalanche de características e detalhes nas narrações e comentários. Os estilos de jogar se parecem, mas a percepção da mídia força a barra de que existem diferenças gritantes. Para mim a base do que se joga hoje é uma só: prudência, um só toque por jogador, sintonia radical nos passes, chuveirinho na área, contra-ataques. O que diferencia não é o detalhe da jogada, mas o talento e a individualidade dos craques, que podem surgir em qualquer lugar. Mas não se pode centrar muito em determinadas estrelas. Ronaldinho Gaúcho não aconteceu em 2006, nem Eto´o estreou bem contra o Japão. Messi se saiu bem, mas não foi essa coisa toda que se esperou dele, por enquanto.

Talvez nem Kaká ou Robinho se destaquem. Minha aposta é num reseva. Nilmar, mas isso é só um palpite. O que me invoca é a insistência dos jornalistas em ficar medindo altura dos jogadores, como se futebol fosse basquete ou vôlei. Um deles chegou a dizer que o atacante alto nem precisou saltar para o cabeceio contra o gol. O cara se abaixou para cabecear! Esqueceram do Romário, baixinho entre gringos altos, que levava a melhor.

A Copa vai rolando. É sempre bom ver, apesar do cornetismo militante, uma falsa tradição na África do Sul, pois a moda da vuvuzuela foi inventada em 2001. Para mim, é espírito de porco ficar soprando o troço durante o jogo todo, atordoando geral. Muitos sul-africanos são contra, não apenas os estrangeiros.

RETORNO - 1. Imagem desta edição: Julio Cesar às voltas com a quinquilharia chinesa. Tirei daqui. 2. Saiba como a manifestação de massa contra o porta-voz do monopólio da Globo se transformou num case internacional hilário. Conheça o fenômeno #CalabocaGalvao

13 de junho de 2010

ESPERA



Nei Duclós

Não és um continente
Para ser descoberto
Outros não são naus
Sonho não é império

O tempo não são velas
Na tua direção
Só a solidão é real
Vida é esquecimento

Nenhum rei enviou
Esquadras ao teu porto
Barras do batismo
Não te registram

És clandestino
De um mundo absorto
Cruzas o mar oceano
Com diário de bordo

Lá está escrito
O itinerário imprevisto
Momentos de deslumbre
Eras de sufoco

Há memórias dessa rota
De um cruzeiro incerto
Mas não servem de insumo
Para a indústria da espera

Ah, poema que bate
Nas bordas do destino
Mapa ainda em branco
E já com linhas tortas

Diga o que não fui
Fale o que não vejo
Sou marujo de um amor
Ainda na costa

RETORNO - 1. Poemas fazem fila e chegam à superfície com tudo. Quem poderá com essa força? 2. Imagem de hoje: Cisne Branco, da Marinha do Brasil.

12 de junho de 2010

AVISO



Nei Duclós

Tudo contra o qual
Luto
Permanece intacto

Tempo que perdeu
O prumo
Tardia safra

Voz soterrada
Pelo grito
Front de facas

Tudo pelo qual
caminho
navega ao largo

Sonho repartido
Em junho
Beijos de março

Lenços de repente
unidos
convés de garças

Tudo por onde vou
sozinho
Causa um estrago

Caminhos pelo sol
A pino
Dentes de sabre

Cargas do caçador
exímio
troco de bala


RETORNO - Imagem desta edição: foto de Regina Agrella.

INGLESES ROUBARAM A JULES RIMET



Custou a cair a ficha: os ingleses jamais perdoaram o fato de o Brasil ter ficado com a taça Jules Rimet para sempre. Por isso, subornaram cartolas para deixar o texsouro bem à mostra sem segurança na sede da CBD e contrataram um argentino para fazer o roubo. Depois, foi só contra-informação: bastou dizer que a taça foi derretida para todo mundo acreditar. Ninguém desconhecia o imenso valor da taça. Um bandido que a possuísse pediria milhões por ela. Derreter pelo ouro é asneira, não cola. Mas colou. Ninguém contestou nada.

Mas eu soube que o argentino ladrão, que fingia ser músico amador, contrabandeou a taça num bandoneón. Hoje a Jules Rimet está no porão de um clube fechado inglês, guardada num cofre indevassável, feita do mais duro aço do mundo. É retirado de lá todos os anos para uma seleta platéia de nobres devassos, que acariciam o mimo vestindo saiotes, não porque sejam da Escócia (alguns são), mas para expressar seu domínio sobre os escoceses, como faz o Príncipe Charles.

Acredito que a taça Jules Rimet seja um dos segredos mais bem guardados do império britânico. Era uma questão de honra, prestígio e justiça, lá na visão deles, pois foram os ingleses que inventaram o futebol e nada mais lógico que eles ficassem com o galardão. Ainda mais que tinham conseguido já roubá-la em 1966, quando ganharam a final com a Alemanha com um gol suspeito. Sem falar que os brasileiros foram caçados em campo de maneira torpe e violenta, como mostrou o melhor documentário sobre futebol, Gol, dos próprios britânicos, que ninguém nunca mais fala e nem nunca mais foi exibido. Claro, denuncia claramente a sacanagem contra Pelé e o Brasil.

Os portugueses fizeram o jogo sujo, quebrando o Rei em campo, principalmente aquele Eusébio, ídolo lá deles, e natural da Angola, lugar onde a colonização do açúcar com mão de obra escrava africana foi formatada e depois exportada para o Brasil, como revelam os historiadores. A conexão Portugal-Inglaterra é antiga, vem do tempo das guerras napoleônicas Já havia tradição de conluios e conchavos entre eles. Foi um pulo bolar a estratégia para tirar o Brasil da reta. Já éramos bicampeões naquela altura. Já imaginaram se o Brasil fosse tri na Inglaterra? Seria um escândalo e uma humilhação. Acabou sendo no México, na cucaracholândia. Aí podia. O Brasil está proibido de ser campeão na Europa de novo, por isso ficou imobilizado na final de 1998. Ameaçaram, compraram, mas que teve treta ali, teve, está na cara.

Roubar em Copa é algo recorrente. Os argentinos nos acusam de nos conluiar com a Fifa para ganhar sucessivos campeonatos (jamais admitirão a superioridade verde-amarela no futebol), como aconteceu em 1994, quando eles foram eliminados porque o Maradona já gostava do riscado na época e rodou no anti-doping. Mas os argentinos pagaram, comprovadamente, 50 milhões de dólares para os peruanos afrouxarem o jogo, perderem de seis a zero e assim eliminarem o Brasil na Copa de 1978, realizada exatamente na Argentina. De novo a humilhação nacional: não poderíamos ser campeões em Buenos Aires. Isso, jamais. Só o Brasil teve a grandeza de perder em casa. Perdeu por excesso de confiança e não fez nenhum esquema paralelo para se garantir. Eis a prova definitiva da nossa honestidade: o fato de termos perdido em 1950, em casa, com um timaço que conseguiu golear ao longo da competição.

Nesta Copa africana, o roubo mais notório foi a eliminação da Irlanda pela França com um gol de mão de Henry. Um escândalo que só se compara ao gol de mão de Maradona, quando a Argentina foi de novo campeã em 1986. No caso das eliminatórias recentes, houve óbvia conivência da arbitragem e também da Fifa. A França deveria ser eliminada em favor da Irlanda. Não se devolvem medalhas olímpicas quando se descobre uma falcatrua? A França, que levou goleada de nós em 1958, está precisando de um corretivo para que aquele sorriso sacana do Platini se desmanche no seu rosto pateta. Tua hora vai chegar, palhaço.

Xenofobia minha? Picas. Gosto de futebol e admiro um monte de craques e times do estrangeiro. Não gosto é que fiquem babando ovo para o Messi ou o Zizou, que isso pega muito mal. Como se o modelo estrangeiro sempre fosse o melhor. Acho os uruguaios fantásticos, em qualquer época e com qualquer time. Os caras que nos venceram nas fuças de 200 mil pessoas merecem respeito. Acho que os africanos levam jeito, só implico com o fato de eles se acharem todos Pelés, só pela cor da pele. Pelé é brasileiro, não africano, ponto.

Ainda está no começo. A Copa é um up-grade, uma atualização no mundo do futebol. Fico conhecendo gente que nunca vi jogar . O que não pode é ficar falando mal da Copa como se fosse loteria ou um torneio tosco em que só dá jogo pífio. É porque está no início, calma. Essa mania de esculachar a Copa é para preparar o terreno: se a seleção de Dunga ganhar, será uma vitória de espirro, como diria aquele grande estadista de estádio.

Ah, como é bom ser implicante. Se me pedirem provas sobre o roubo da Jules Rimet pelos ingleses direi que foi dedução lógica, a la Sherlock Holmes. Se ele pode, por que não eu?

10 de junho de 2010

ÁFRICA, ADEUS


O que emociona na África do Sul é a luta pela formação da nacionalidade, expressa nas manifestações do povo nas ruas e nas figuras do bispo Tutu e Mandela. Os cantos que estimularam e ilustram essa saga são como os blues americanos, a ação em busca da sobrevivência e da superação. Pena que no lugar deles o show de apresentação da Copa destacou o rapismo pop global e a celebração fake de uma África que não existe mais. O que há não é a hegemonia de etnias, mas a convivência entre os aparentemente desiguais, os que não podem mais se dividir pela aparência, já que compartilham a mesma essência. Não é nem a evocação da ancestralidade, mas a explícita apresentação da modernidade em território outrora mítico.

O título que escolhi para esta edição é o mesmo de um documentário sobre o fim da era colonialista da África, quando as potências européias se retiraram de lá. Mas agora ele significa outra coisa: esta Copa marca o fim da África como a percebíamos, a do Continente uno e indivisível, com um só rosto. O que existem agora são países, com cidadãos de todas as raças e não tribos. O bispo Desmond Tutu disse no seu discurso na inauguração da Copa que somos todos africanos. Simpático e uma quase verdade. Nem ele é “africano” no sentido antigo, mas sim sul-africano. Pertence a um país multiétnico, consolidado depois de longo sofrimento e pelas mãos do seu grande líder Mandela, que tem nesta Copa seu emocionante canto de cisne.

Nos despedimos da África dos safáris, dos elefantes, leões e hipopótamos, das tribos e tarzans, nos despedimos de uma imaginário obsoleto e mergulhamos nesse enigma de países como o da sede da Copa, além da Tanzânia, Zimbabwe, Egito, Gana, Nigéria e tudo o mais. Lá tem negro, mestiço, branco, asiático. O negro predomina e continuará assim, definindo muita coisa, mas não da mesma forma. O que importa agora são as fronteiras e aquilo que emocionou nosso Professor Parreira, quando a multidão saiu às ruas na quarta-feira, dia 9 de junho, para celebrar a Copa: o sentimento de pertença, o orgulho da nacionalidade, insumo principal da sobrevivência de um povo como nação.

Adeus África dos rifles e lanças, dos dentes de sabre, dos marfins e savanas. Ainda sobrevivem as guerras intermináveis, de guerreiros que desrespeitam acordos, mas tudo isso está condenado ao passado. Olá África das grandes avenidas e metrópoles, da misturas de raças e credos, dos automóveis e das cornetas. Adeus África que servia para tudo, para dizer que nossas raízes estão lá, quando nossas raízes estão em outro lugar, na criação das nações em que nos dividimos e nos abrigamos, como tendas de um infinito deserto. Mais do que no fundo do ermo, nascemos dessa mesma luta de construir um país. Adeus olhares formatados apenas em tambores, olá abraço nesse espaço que se mostra ao mundo com toda sua complexidade.

Esse banzo de uma utopia africana não faz mais sentido, pois o que existe é esse monte de gente invadindo sua tela, essa nação também verde e amarela, a África do Sul, que da Africa antiga tem muita coisa, mas é algo novo que nos traz de carona uma percepção fora dos preconceitos e vícios. É com ela que teremos de lidar durante um mês e daqui para frente. África do Sul gelada, barulhenta, urbana. Nós, os brasileiros, com nossos Robinhos e Kakás, Maicons e Gomes, com nosso perfil e forte sentimento de pertença, que desenvolvemos ao logo do tempo para evitar a fragmentação do país continente.

África, adeus. Olá, África do Sul, Tanzânia, Gana, Nigéria. Nações, e não etnias. Culturas e não gens. Comportamentos e não destinos traçados. Aqui, o Brasil, território e convívio, é, como esses países que entram em campo no nosso imaginário, o começo de um outro mundo. Pertencemos a um país e não a um continente. Somos nações e vestimos a camisa para que nos identifiquem. Queremos o mesmo para os palestinos, os curdos, todos os povos que perderam seus países. Queremos que todos tenham esse privilégio e esse direito: fronteiras, paz na diferença.

TORNEI-ME PASSOS


Nei Duclós

Tornei-me passos
em busca da aurora

Belo como geada
acordei enrolado num cobertor
que o sol dourava
nos terrenos baldios
da minha estrada

As cidades construíram
muros à sua volta
mas com cordas
escalei pedras
e penetrei nas entranhas
de concreto e praças

RETORNO - 1.Imagem desta edição: "Caminho do jardim em Giverny", de Monet. 2. "Tornei-me passos" é um dos poemas inaugurais do livro Outubro, publicvado em 1975. Exposto nas praças em 1969.