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17 de maio de 2007

UMA SEMANA EM SÃO PAULO


Depois de três longos anos ausente, estive em São Paulo por uma semana, como se fosse pela primeira vez. Senti o mesmo impacto quando aportei na grande cidade para trabalhar. O massacre visual, a indiferença e a agressividade nas relações sociais e humanas, o trânsito brutalizador, as obras que transformam a geografia urbana um clone de Metrópolis, de Fritz Lang. Quem vive lá não sente tanto, como já aconteceu comigo.

Morando em Florianópolis, apesar de tantos problemas por aqui, vejo que ainda estou me civilizando, retornando ao que me formou: o espírito comunitário, o reconhecimento do Outro, o prazer de estar no mundo. São Paulo não dá colher de chá. Você precisa entrar no jogo. Não é como aqui, em que você pode se esconder (sei de diversas personalidades vindas das capitais maiores que estão fechadas em vários cantos da ilha).

Negócios pessoais me impediram de rever todos os meus queridos amigos e amigas da cidade que me recebeu e onde fiz minha vida. Peço desculpas, mas foi impossível. Na próxima vez, irei como visitante, não mais como morador. Mas terei de conviver com algumas coisas. Levar horas para chegar a um lugar que não passa de três quilômetros de distância. Ceder diante do comerciário que se ofende com um pedido que fiz e quer mudar a encomenda, porque ele sempre tem razão. Aguardar que o caixa atenda ao celular e olhe para o vazio enquanto você espera o momento de pagar pelo que comprou. Ver como viram a cara mesmo que te conheçam de vista há décadas, como ocorre com a vizinhança.

E suportar a esperteza assassina dos motoristas de todos os tipos, um fenômeno nacional (mas não tão intenso quanto lá) que retrata o quanto estamos no fundo do poço. Ninguém cede um milímetro. Nos serviços públicos privatizados, você implora para religar o fornecimento já pago. É que na ponta do varejo há sempre um tirano que sabe da sua necessidade e se vinga por você não ter cumprido determinando trâmite burocrático. Você chama um encanador e ele olha o defeito e te cobra um milhão de dólares. E ainda ameça subir para dois, se a coisa ficar mais feia ainda.

Mergulhei fundo no meu arquivo e na biblioteca que agora está em trânsito para a ilha. São mais de dois mil livros da melhor qualidade. Voltarei a ler meus clássicos favoritos e assim me "desasnarei", para usar um verbo de Monteiro Lobato, pois apesar de ter lido razoavelmente por aqui, me falta algo maior, que só a biblioteca, acumulada ao longo de 40 anos, poderá resolver. Quero agradecer publicamente a força que meu filho Daniel e sua esposa Carla deram a mim e minha esposa na semana em que fiquei em São Paulo, quando meus músculos ficaram todos doídos de tanto trabalho de mudancista militante.

Mas ficam impressões mais fortes da cidade amada. A solidez de seus equipamentos urbanos, pelo menos na parte onde tenho casa. O saneamento básico, as ofertas de todo tipo de produtos variados e de qualidade, coisas difíceis de achar em outras partes do Brasil. O Sul (aquele país imaginário inventado pelos paulistas, que mistura norte do Paraná com Gramado) tem muita fama, mas São Paulo é imbatível em vários aspectos. A cidade é séria, de uma seriedade que falta à maioria do território nacional.

Esses sentimentos contraditórios conviveram comigo ao longo da minha estadia. Não tenho mais forças para viver em São Paulo. Preciso ficar onde estou, ao lado da montanha e do mar. Aqui a vida financeira é mais escassa, mas há mais clima para escrever e continuar em frente. Torço por todos aqueles que se aventuram em São Paulo, terra de verdadeiras oportunidades, onde é possível criar filhos com relativo conforto e fazer uma carreira profissional gratificante.

Agadeço a paciência dos fiéis leitores do Diário da Fonte, que ficaram sem atualizações por oito dias. Um caso raro no DF, que sempre está presente. É bom lembrar que cheguei junto com o Papa, eu em Congonhas, ele uma hora mais tarde em Guarulhos. Segui sua visita pela imprensa. Só tenho a adiantar o seguinte: você faz o que quer, você sabe da sua vida. A Igreja, por sua vez, tem obrigação de definir parâmetros. Não podemos exigir da Igreja o mesmo pensamento que rege, sabemos, tantos equívocos. Teremos sempre a Igreja como baliza, com sua granítica vontade e seus dogmas. Faz parte da vida, a diversidade do pensamento. E celebro a canonização de Frei Galvão (foto deste post), santo milagreiro e popular.

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