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2 de dezembro de 2005
VOZES E IMAGENS DA FRONTEIRA
Quando vejo o Bill Bonner, o bonequinho de luxo do Jornal Nacional, o release do poder, abordar cinicamente o fato de uma nova penitenciária ser obrigada a dar comida decente para os presos de alta periculosidade, ou seja, debochar dos direitos humanos (queria ele que servissem comida pôdre para quem está sob a guarda do Estado?), fazendo com a voz tons pseudo inteligentes e justiceiros, acompanhados por sobrancelhas que se arqueiam significativamente, ficamos imaginando se não existe mais liberdade de imprensa no Brasil, se a televisão e rádio estão totalmente à mercê da canalha que nos impõe a ditadura civil. Pois não é bem assim. O Brasil soberano tem modos diferentes de se manter vivo. Nunca da forma ideal, pois muitas vezes falta no grande interior do Brasil a capacitação técnica e os recursos necessários para que se produza jornalismo de primeira qualidade. Mas na minha passagem de três dias por Uruguaiana, quando assumi publicamente o privilégio e a honra de ser patrono da Feira do Livro (que vai até o próximo domingo) tive a oportunidade de abrir o verbo em programas de TV e rádio da imprensa local, incentivado por jornalistas batalhadores, que lá naquela porta da entrada do país mantém viva a vontade de dizer e acertar, apesar das muitas limitações.
ESPORTES - Apareci primeiro, junto com o secretário de Cultura Miguel Ramos (que agora está filmando sua parte na obra O General e o Negrinho, de Tabajara Ruas) na porção regional do Jornal do Almoço, da RBS, onde, influenciado por papo primoroso com Marco Celso Viola na noite anterior, na Rodoviária de Porto Alegre, falei do movimento literário que desencadeamos no final dos anos 60 e na importância do evento. No dia seguinte à inauguração, participei do programa Vozes do Esporte, da rádio São Miguel, capitaneado por Vicente Majó da Maia, onde propus a construção de um Estádio Municipal, para que Uruguaiana possa se destacar com seu futebol, já que a cidade é celeiro de jogadores inesquecíveis (Gringo, Abeguar, Altamir, Nick, Paré, Barbosa, Nicanor, Luis Lhamby!) e de lá saiu Eurico Lara, o craque imortal que está no hino do Gremio. Falei da necessidade também de se publicar um livro sobre a vida do goleiro lendário, para que se conheça essa parte da História da Fronteira, pois Lara é a fonte dos grandes lances que levaram os arqueiros para a glória, como defender decisão com um braço quebrado, entre outros feitos. Do programa participaram ciclistas e maratonistas, todos lutando pela retomada dos eventos esportivos importantes na cidade. Lembrei o momento em que fundamos o Guarani, time que existe até hoje e foi inventado por garotos de rua. Maia falou que está em campanha para que se dê isenção do IPTU para terrenos baldios e assim se multipliquem os espaços de convivência esportiva, como tínhamos no passado. Foi emocionante ver o entusiasmo daqueles veteranos, todos imbuídos da vontade de criar novas opções para os atletas de lá, que acabam desistindo ou indo para outros lugares. Naquele momento, esqueci de citar o Gessy, cracaço do Grêmio, que era de família vizinha à minha casa.
EMOÇÃO - Atualmente existem cinco jornais na cidade: Diário da Fronteira, A Cidade (que reproduz textos do Diário da Fonte), Jornal de Uruguaiana, Hoje e o semanário Momento de Uruguaiana, de Wolmer Jardim, que também me convidou para um bate papo no seu programa dominical na rádio Charrua, onde tive a oportunidade de falar sobre literatura, memória e História. Fui acompanhado de mais duas senhoras que levaram o recado sobre isenção de imposto de renda para financiar organizações voltadas para os menores carentes. Wolmer é jornalista lutador, que correu mundo e hoje está em Uruguaiana dando o seu recado num jornal de qualidade. E no dia em que parti, fui entrevistado na praça por Everaldo Jacques, diretor de redação de A Cidade, com sua pequena Sony digital, gravação que depois seria levada ao ar num programa de canal por assinatura na TV, que também se dedica inteiramente à cidade. Nessa entrevista, fiquei emocionado ao falar sobre o que nos define naquele lugar, terra de conflito e de paz na diferença. Everaldo é um entrevistador competente e quase me fez chorar ao falar sobre minha relação com a cidade natal.
CRIATIVIDADE - Rubens Montardo Junior, assessor de imprensa da prefeitura, com seu dinamismo, é peça chave no noticiário, pois a tudo cobre sem descanso, trabalhando de segunda a segunda e levando informação para quem quiser, suando para acompanhar o ritmo do prefeito Sanchotene Felice, que aos setenta anos deixa muito assessor jovem de língua de fora. Montardo, como muitos outros, colabora com o espaço criado e mantido por Anderson Petroceli, jornalista, fotógrafo e futuro advogado, que costura toda a imprensa da cidade com seu Portal Uruguaiana. A cidade gerou jornalistas importantes, como o grande João Carlos Belmonte (pai do escritor Caco Belmonte), muitas vezes premiado como o melhor repórter de campo da Copa do Mundo, quando trabalhava na rádio Guaiba de Porto Alegre. E lembramos, no programa do Wolmer, os radialistas inesquecíveis, como Mario Pinto (tema recorrente de Chico Alves, compositor e jornalista de primeiro time) e Mario Dino Papaléo, que fizeram a glória da rádio com sua criatividade e competência. Gente de valor, que precisa de apoio. Pois quanto melhor for a imprensa que só as pessoas da região vêem, melhor seremos como nação. Os aguerridos jornalistas do interior dão lições diárias às figurinhas carimbadas e medalhadas dos grande centros. Estão cercados de dificuldades e poderiam produzir com muito mais eficiência. Mas estão lá, a postos, com o verbo solto, contribuindo para que saia do sufoco a liberdade do gigante Brasil, esse país que é muito maior do que sonha nossa vã filosofia.
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