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1 de dezembro de 2005

O PIB E O JORNALISMO ECONÔMICO



É uma desfaçatez que alguns números imponham a percepção sobre a situação econômica no Brasil. Foi um escândalo a divulgação de índices negativos de crescimento do PIB, por exemplo. Para saber se há recessão, não é preciso fazer pesquisa, basta abrir a janela da sua casa, olhar em torno, pegar um ônibus, andar pelas calçadas pôdres, as ruas esburacadas, os bairros imundos. Para saber se há miséria, nem precisa olhar as crianças aos andrajos, a violência sem limites. Basta chegar na padaria no domingo à noite e ver filas de pessoas com moedinhas na mão para comprar a janta, ou seja, meia dúzia de pãezinhos cheios de bromato, a substância proibida que faz o pão ficar maior. É uma desfaçatez porque o jornalismo econômico vive levando a sério as fontes que nos enrolam com suas análises, como se fôssemos um bando de zumbis que nada sabe sobre o que nos rodeia. Bem fornidos economistas e pesquisadores falam sobre o crescimento do consumo ou do emprego com carteira assinada, enquanto o presidente, até alguns dias atrás, colocava os dois dedinhos para cima para sacudi-los veementemente, como a repisar o acerto de sua política econômica, tocada por esse portento do Paloccci, que nos faz andar para trás enquanto o mundo todo cresce. Como ele, os presidentes anteriores, desde 64, justificam a tunga do país em favor de uma pirataria explícita e eterna.

BLINDAGEM - O problema é que há vergonha de assumir o óbvio. A política econômica é o rei nu que usa a roupa invisível confeccionada por escroques mentirosos e não há uma criança que grite a denúncia, a não ser falsos opositores que no fim fazem salamaleques para a monstruosidade. É um escárnio para quem trabalha a vida toda e vê-se na miséria com sua aposentadoria. Ou para quem não consegue furar o bloqueio do desemprego e completa trinta anos sem jamais ter um empregador ou um negócio próprio. Ou para quem rola pelas calçadas e esquinas, vítima do capitalismo de farol, em que se vende o tempo e a alma em troca da indiferença dos passantes. O que existe é muita pose, gente com bom salário que é paga para mentir ou veicular mentiras, o que dá no mesmo. Somos uma economia atrelada aos interesses do Império e às negociatas do Estamento nativo, formado pelos poderes políticos e financeiros. Independente de origem social, os maganos sugam o suor da nação e cospem fora o bagaço. Depois ficam explicando que o PIB caiu porque se comprou menos celulares ou porque a crise política influiu na economia. Ué, até há pouco tempo o troço não estava blindado e todos rezavam para esse luminar que é o Palocci, sobre o qual chovem denúncias de corrupção na sua gestão municipal em Ribeirão Preto, não caisse jamais para que possamos ficar sempre iludidos que não temos inflação, que estamos crescendo, pois compramos televisões, fogões e geladeiras e outras coisas da indústria da linha branca, dominada por multinacionais que usam o Brasil como ponta de lança de seus faturamentos gigantescos? O que ficou blindada foi a vergonha na cara. Antes, você batia e fazia som de madeira, agora faz som de sino. É muita cara de metal, barulho da grana que os bancos levam às gargalhadas do país desarmado diante de tanto achincalhe.

CONCERTO - Quer dizer que essa coisinha de Jesus que é a Daniela Mercury está sendo defendida porque foi vetada por esse grande Império do Mal que é a Igreja Católica? Daniela Mercury, uma das inúmeras cantrizes que enxergam a interpretação musical como expressão das vibrações dos seus países baixos (coisa que pegou no Brasil à mercê do mundo sedento de sexo fácil e disponível) prometeu que iria levar camisinha para o Papa. É um deboche, pois a abstinência sexual dos sacerdotes é o que existe de mais explícito no catolicismo. Não se leva para o Vaticano o rebolar em forma de voz. Pegue qualquer outro país. Existem inúmeras cantoras que apenas cantam. Aqui, não. É preciso mostrar explicitamente que a intérprete sente o maior tesão, precisa demonstrar que é uma pessoa cool, por dentro, demolidora de preconceitos. É o que ficou da revolução: no concerto internacional das nações, entramos com o rabo. Ou a carne. Mas não diga isso para ninguém. Todos são príncipes da Revolução. Na época braba, quando desceram a lenha sobre nós, todos esses príncipes ou nem existiam ou ficaram bem recolhidos no canto. Ficamos sós, diante dos verdugos. Isso não nos inocenta de nada. Precisamos ter o espírito livre todos os dias. Mesmo que seja para denunciar o anacronismo, esse vício de olhar o passado com os olhos do presente, que é um crime de lesa conhecimento. É proibido defender a Igreja Católica porque um dia houve a Inquisição. "Não conheço ninguém que tenha levado porrada", disse Fernando Pesssoa (ou Álvaro de Campos). "Todos são campeões em tudo. E eu, tantas vezes vil..." O Papa João Paulo II já pediu perdão pelos crimes da Inquisição. Erros do passado não abrem as comportas para o acinte. Nem coloca todo mundo sob o mesmo jugo das novas inquisições.

RETORNO - Hoje, 1º de dezembro, será lançado às 20 horas na Feira do Livro de Uruguaiana a obra de estréia de Maria da Graça Lisboa Pereira, " Nos Caminhos do Mundo". Diz a autora, em mensagem no Portal Uruguaiana: "Para aqueles que nunca viajaram e gostam de viajar através da leitura,venham para diferentes lugares e curtir causos de viagem. Na verdade vocês terão uma aula de História e Geografia. Não percam".

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