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7 de agosto de 2005

NO TABULEIRO DA BAIANA




Recebi a seguinte mensagem, que nos alerta sobre um tipo poderoso de exclusão e roubo no Brasil jogado no lixo: "Amigo:Estou tentando salvar a memória do meu pai, NESTOR TANGERINI, um dos maiores sonetistas satíricos da Língua Portuguesa. Mas estou sendo boicotado pela imprensa brasileira. Nestor Tangerini também foi teatrólogo, compositor, caricaturista cubista e professor de português. Ele é autor das peças NO TABULEIRO DA BAIANA, MAGNÍFICA!, ESTUPENDA!, NA DURA! e GOL!, atribuídas a Jardel Jércolis. Em suas peças trabalharam Oscarito, Grande Otelo, Dercy Gonçalves,Antônio Lago (pai de Mário Lago), Aracy Cortes, Henriqueta Brieba,Walter Dávila, Dinorah Marzullo Pêra (minha tia), entre outros. A entrevista será no dia 8/8, às 10 h da manhã na Rádio MEC AM. A imprensa quer me calar. E quer limar o nome do meu pai da História do Teatro Brasileiro. Meu pai era tio de Marília Pêra. Ajude-me. Não posso contar com minha família. Abraços, Nelson Marzullo Tangerini (neto da atriz Antônia Marzullo). Rio, 8/8/2005".

ANONIMATO - Num só pequeno texto, a quantidade enorme de informações sobre a cultura brasileira, essa obra que tem heróis tornado anônimos. Não existe geração espontânea. Quantas manifestações culturais que conhecemos não são atribuídas ao anonimato? Teve gente que compôs Teresinha de Jesus, Nesta rua tem um bosque e tantas outras obras primas. Nomes que estão perdidos, esquecidos. Enquanto isso, sobram nulidades dizendo barbaridades, principalmente na telvisão. Um exemplo é o execrável Fama, da Gobo, que é a tentativa de gerar artistas clonados, dentro do reduto manipulado da mídia. Antes, era a mídia que se alimentava dos talentos vindos do povo, hoje é contrário, é ela que dá as cartas para definir nomes, todos eles sem a mínima originalidade e sem nenhuma noção da história da cultura do país. Um cantor no Fama de ontem interpretou a música de Caetano Veloso, a canção romântica gravada por Roberto Carlos (tudo vai mal, tudo, tudo é igual quando canto e sou mudo). Ele garantiu que a música faz parte da Tropicália, o que não é verdade. Outra intérprete, que apresentou o banho de lua de Cely Campelo, misturou as décadas, dizendo que naquela época da ditadura as pessoas precisavam se manifestar. Cely Campelo é do tempo da democracia, dos anos 50 e não da ditadura. E por aí vai. Nada se sabe, mas tudo é mostrado como se soubessem.

PROGRAMA - Nos anos 40 e 50, havia programas de auditório em todas as rádios do Brasil. O modelo era a Radio Nacional. Nesses programas, se manifestavam os talentos como Elis Regina, Angela Maria, Cauby Peixoto. A Radio Nacional tocava musica brasileira de qualidade o dia inteiro, formando as mentes juvenis que depois iriam ganhar o mundo. Hoje vemos crianças imitando o pseudo-sertanejo, num retroceso abissal, como se não tivéssemos avançado até a sofisticação musical que deslumbra músicos do mundo inteiro. Caímos no chão, mas temos gente excelente fazendo música da melhor qualidade, só que jamais aparecem. Meu sonho é um programa diário de uma hora só de música brasileira, em rede nacional. Não a que aparece na mídia, mas a que se faz escondido e aquela que sumiu do mapa. Mas quem somos nós para sonhar asim? O remédio é aturdar essa choldra inominável que domina gravadoras e televisões, como se fôssemos um país consumidor de cultura, quando é exatamente o contrário. Quando nos dão uma colher de chá, que é, por exemplo, Zé Ramalho no Faustão, já serve para nos empolgar. Mas isso são migalhas. Edu Lobo continua no ostracismo, apesar de ser o maior compositor brasileiro vivo. Quero o Brasil de volta. Aquele que perdemos e continua vivo, embaixo de mil camadas de indiferença.

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