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4 de julho de 2005
CAI A MÁSCARA DA DITADURA
Comprar voto de deputado não é democracia, é golpe de estado. Superfaturar serviços prestados às estatais e ao governo implica conivência dos meios de comunicação, que se beneficiam do esquema ao pegar boa parte do butim na cobrança da veiculação. Para isso serve a publicidade: para encher a televisão de propaganda e roubar o tempo precioso da população, que deveria ter acesso à cultura, informação e arte, e tem apenas a exaustiva exposição de mensagens como a da mãe que quer despachar o filho nerd via sedex. Para que propaganda dos Correios? Quais são seus concorrentes? Para que propaganda do governo? Ele não deveria fazer nada mais do que sua obrigação? Para um objetivo muito simples: para fazer o que condenaram em Getúlio Vargas, ou seja, a propaganda maciça que mente para criar falsos mitos e gerar sobras de dinheiro que percorrem aeroportos em malas suspeitas. A crise política atual nos ensina que a ditadura civil existe e é reiterada todos os dias. Existe porque os princípios instaurados pelo golpe de 64, consolidados a partir de 1985, continuam ativos: corrupção, desprezo ao povo, entrega da soberania, manipulação do voto. E precisa ser reiterada para impor-se atrás da máscara da falsa democracia.
MERCADANTE - Por um desses acasos supremos, testemunhei o entusiasmo de Aloísio Mercadante logo depois da eleição que erradicou todas as chances de Brizola de ser o nosso presidente. Era 1989 e eu estava no aeroporto de Florianópolis esperando o meu vôo. Vi o bigodinho gesticulando e falando alto, com um desplante absoluto e à vontade nos assuntos mais altos da República. Nunca o tinha visto antes ou ouvido falar. Sou um péssimo leitor de jornais e o noticiário da TV há tempos me provoca bocejos. Prestei então atenção na conversa (que era gritada para quem quisesse ouvir). Mercadante contava para uma pequena roda o encontro que teve com Leonel Brizola logo depois do resultado da eleição, quando Lula, apoiado por gigantescas mentiras cevadas na universidade e na mídia, como o populismo e outras asneiras, conseguiu vencer Brizola (o atual presidente Lula Lábia estava pronto para perder no segundo turno para Collor). Brizola, segundo Mercadante e seu linguajar de botequim, "estava puto dentro das calças" e recebeu a comitiva petista furioso. Assim mesmo, conseguiram arrancar dele o apoio para o próximo passo eleitoral (sinal que Brizola era um estadista, que respeitava o voto popular). O tom era de deboche. Estavam felizes, pois cumpriam o seu papel: o de enganar o povo em relação ao trabalhismo, acabar com as pretensões de retomarmos o processo interrompido em 1964 (o golpe contra o trabalhismo) e assim aplainar o caminho para o poder, ou seja, o acesso ao butim. Mas havia antes Collor e toda a direita tucana para usufruir das benesses. O PT só seria laureado muito tempo depois, quando chegaria a sua vez de usar a ditadura civil em seu proveito.
RISADINHAS - Roberto Jefferson participou do Canal Livre, da Rede Bandeirantes, e expôs novamente sua contundência, um discurso articulado pela sua liberdade e que ainda não mostrou inteiramente a que veio, pois ficamos imaginando o que prepara em direção a Lula, atualmente preservado por ele. Talvez Jefferson coloque Lula no limbo para poder acabar primeiro com seu inimigo, José Dirceu. O que virá depois? Perdemos a confiança nos políticos há muito tempo, quando eles implantaram no país a noção de que tudo não passa de uma malandragem só, ao atirarem-se pedras uns nos outros. Na educação, os estudantes são bombardeados com falsas versões sobre nosso passado histórico. Colocar todo o período do Brasil Soberano (1930-1964) sob suspeita é um erro crasso de profundas repercussões no imaginário nacional. Desmontar o heroísmo dos principais protagonistas é outro. Desvincular a nação da ética é um suicídio coletivo que expõe agora na mídia suas vísceras. O noticiário seleciona o que quer. Quando teremos qualquer idéia sobre o que ocorre na veiculação de tão gigantesca massa de dinheiro na publicidade? Por enquanto os analistas podem mostrar suas risadinhas cínicas como ostentação de independência jornalística. Mas sabemos que não existe independência. Existe interesses. Ou interésses, como dizia nosso guerreiro Leonel Brizola, o primeiro a tirar o apoio a este governo que acabou com as esperanças de qualquer mudança e que devolveu à direita o carisma que perdera em décadas de ditadura. Dói ver o neto do ACM assumindo as investigações.
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