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5 de julho de 2005
BRASIL EM TRANSE
Estamos em plena cena de Terra em Transe. Othon Bastos diz de maneira abrupta e rascante para Jardel Filho, o anti-herói dividido entre a corrupção e a revolução (Glauber sabia de tudo): "Sua irresponsabilidade política, sua irresponsabilidade política, sua irresponsabilidade política". Ao que Paulo César Pereio completa, com sua voz de Brasil profundo: "Seu anarquismo" (várias vezes). A chance de os atuais governantes encaminharem a nação para sua independência vilependiou-se numa sucessão de horrores. Trocaram o sentimento do dever cumprido pela mala preta. O que temiam? Perder a boca que tão duramente conquistaram. A festa junina da primeira dama foi o Baile da Ilha Fiscal do governo Lula. Os foguetes devem ter assustado alguns convivas. Muito longe da cena do pipocar de fogos por toda Porto Alegre às cinco da tarde de 3 de outubro de 1930. O secretário José Simplício, que assessorava o presidente do estado gaúcho, quase foi para debaixo da mesa quando a artilharia se manifestou. "Fique calmo, Simplício", disse Getúlio Vargas com um sorriso tranqüilizador, "é a Revolução, é a Revolução". Tempos de coragem e de transformação, com profundo engajamento popular (só no Rio Grande do Sul, 100 mil voluntários alistados ficaram na reserva dos combatentes). Naquela época havia um país a inventar e apenas uma chance, que parecia mínima e não custava nada, só custava a vida.
OBSCURANTISMO - A culpa da situação atual, segundo Clovis Rossi, da Folha, é, claro, de Brizola e Getúlio. Para ele, o que há é o "acaudilhamento" do PT e um "neo-pai dos pobres", Lula. Outro exemplar do obscurantismo pátrio, Arnaldo Jabor, põe a culpa em Lenin e Maquiavel (também citado pelo oportunismo de Roberto Jefferson). Como se a revolução fosse algo parecido com a tomada do poder por José Dirceu. Como se a fundação da ciência política em Maquiavel, que tirou o exercício de governar da sombra do falso moralismo e da religião, fosse reduzida a pó pela máxima "os fins justificam os meios". A direita adora colocar a política sob o manto do falso moralismo, que é onde ela trafega bem. Foi para "moralizar"a política que se fez 1964, que se inventou Collor e se elegeu Lula. Precisamos de estadistas, não de pastores. De justiça social verdadeira e de nação, para que a colcha de grotões dominada pelo coronelismo seja substituída pela União, a força federal do Brasil Soberano.
TROPAS - Tropas americanas no Paraguai, na região estratégica de Itaipu, como informa Mauro Santayana , é o resultado de 41 anos de ditadura no Brasil, que tem como objetivo principal a entrega do Brasil aos estrangeiros. Primeiro houve aquela onda de que a região da Tríplice Fronteira em Foz de Iguaçu estava cheia de terroristas (cada sacoleiro é uma bomba!). A dívida externa crescente e impagável, como notou Gilberto Vasconcellos, é pura entrega futura de território. Intervenção direta, numa região fronteira à nossa, consolida essa política, que faz dos Estados Unidos os donos do mundo. Contam como aliados não apenas a direita entronizada na manipulação da falsa democracia, mas a pseudo-esquerda brasileira, golpista também. Os movimentos estudantis de 1968, dos quais participei em Porto Alegre, foram desviados para a radicalização irresponsável, o que deu chumbo grosso para a continuidade da ditadura. Hoje Gabeira comenta o fato de que seqüestrou o embaixador americano para libertar José Dirceu. São todos farinhas do mesmo saco. O que une todos os ditadores é o ódio ao trabalhismo, força política surgida nos anos 40, contra o alinhamento com os americanos, que tornara-se obrigatório com a Guerra Fria. O trabalhismo veio de longe, do governo getulista que promoveu a harmonia entre o capital e o trabalho, ou seja, a remuneração justa aos trabalhadores e o lucro sob controle dos empregadores. Nossa revolução francesa foi a de 1930, que inventou a burguesia industrial e o operariado amparado pelas leis trabalhistas, além do voto universal, estendido às mulheres, que na ditadura da República Velha não votavam.
POVO - O povo é retratado na televisão como retardado mental, ao contrário da época do Brasil Soberano, em que o povo, amparado pelas políticas públicas na educação e na saúde, nos deu Baden Powell, Dorival Caymi, Ary Barroso, Luiz Gonzaga, Noel Rosa, entre milhares de outros. A tal de Marinetti, personagem da série A Diarista, é a mulher do povo sem especialização, preparo ou escrúpulos, disponível sempre para o sexo fácil e sem compromisso, como quer o patronato da ditadura. O povo travestido de cowboy em America é uma perversidade visual e cultural, onde as fivelas brilhantes significam a anulação da vida ativa, já que reflete o ouropel das modinhas. O analfabetismo dos personagens, a falta total de livros na vida deles, o merchandising explícito em cada cena, tudo colabora para transformar a cidadania num consumismo sem critérios, tudo pontuado pela falsidade do politicamente correto, que é o alibi da safadeza para "terceirizar" recursos públicos. Para onde foram as DLPs, Divisões de Limpeza Pública? Foram sucateadas em função da grande sacanagem que é a coleta do lixo hoje, na mão de "empresários" fajutos. Empresariar serviço básico é mole. Quero ver gerar uma empresa do nada e lutar por ela toda uma vida, como acontece com muitos brasileiros corajosos, infelizmente ainda em minoria graças ao cerco da tributação sem limites e ao ambiente oposto aos negócios honestos.
RETORNO - O Diário da Fonte, antes que a mídia descobrisse o óbvio, se manifestou algumas vezes sobre esses dois personagens nefastos, José Genoino e José Dirceu, que hoje estão sob o olhar espantado da nação. Vamos reproduzir algumas ocorrências: "A esquerda oficial, personalizada em José Genoino e José Dirceu, pegou carona e hoje se locupleta no estamento, onde dão as cartas graças aos acordos em Washington com os abutres do Império. A esquerda fez um arreglo de elites e assumiu o governo para desmoralizar o povo que votou nela. Abriram assim caminho novamente para a extrema direita, que já bate o punho na mesa exigindo voltar". (1 de maio de 2005). "Agora que todos se convenceram do que se trata o atual governo, é hora de resgatar o mais moderno conceito político do Brasil, aquele que garantiu para os trabalhadores seus direitos mínimos, sucateados pela atual fase do regime autoritário, que encontrou naquela pseudo esquerda dos 60 - tipo José Dirceu - a salvação da própria lavoura. É hora de apagar os preconceitos e apostar firme no trabalhismo, que é uma criação brasileira, apesar das acusações dos oportunistas que conseguiram provar o contrário". (22 de fevereiro de 2004). "Pior político: José Dirceu e José Genoíno. Pela arrogância, pela incompetência, pelo obscurantismo, pela traição, pela burrice". (Lista dos Piores do ano, em 30 de dezembro de 2004). "A declaração de José Genoino que quer o voto não só dos malufistas, mas do próprio Maluf, é da lógica da eleição (quanto mais voto, melhor), mas contraria a lógica do eleitorado. Os malufistas são opostos aos petistas, e declaradamente não gostam de Marta. Não votarão nem atados no PT. Serra deverá ganhar de lavada" (...). (4 de outubro de 2004).
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