USP - Sinto falta da inteligência, do conhecimento, do acervo da USP, a universidade maior. Um curso de História do Brasil com o professor István Iancsó abriu meu espírito para o dúvida permanente em relação a tudo o que aprendi sobre o país. O Brasil é com-pli-ca-do, dizia escandindo as sílabas o húngaro que nos adotou e escreveu um livro magistral sobre a revolução dos alfaiates, Na Bahia, contra o império. István nos expulsa para sempre de qualquer anacronismo, o vício de enxergar o passado com os olhos do presente. Para esta época onde a revista de História estampa a manchete de um Alexandre Magno Jovem ( no sentido da juventude inventada nos 60; Alexandre nada tinha a ver com a palavra jovem) as lições de mestre István são valiosíssimas. Comparo suas aulas à metáfora criada por Chico Buarque na contracapa do primeiro disco de Gil. Chico compara a música de Gil à serpentina, que sempre nos surpreende, pois ao cair no chão dá mais uma volta antes de parar definitivamente. Quando a gente achava que tinha entendido tudo, István nos depositava, desarmados, na praia do nosso desconhecimento. Só assim poderíamos aprender alguma coisa. O curso que fiz com ele foi também para recém chegados à faculdade. Via então os olhos de pavor da meninada (o assustador abismo das possibilidades). Dos outros professores digo só o seguinte: Nanci Leonzo é fundamental para se entender o Brasil inventado pelas Forças Armadas; Teresa Aline é decisiva quando nos ensina a ver uma imagem para decifrar a sociedade que a produziu; Ulpiano Bezerra coloca a História Antiga no lugar devido, ao nos mostrar como podemos aprender sobre os ancestrais ao analisar documentos antiqüíssimos, sintéticos, aparentemente banais. E assim por diante. É a seleção brasileira de ensino. Só que faz gol o tempo todo, jamais empata.
RADICAL - No Superman III, Richard Pryor interpreta o ladrão que programa o sistema da empresa onde trabalha para receber os centavos devidos aos funcionários (sobras de salários). É descoberto então pelo dono da firma e é encarregado a construir um robô digital para enfrentar Superman. A briga entre a velha tecnologia da liga de ferro e carbono contra o monstro camaleão, ameaçadoramente virtual, é reveladora dessa transição que está longe de se resolver. No fundo, uma revolução veio da outra e as duas se completam, pois também o que era tradicional modificou-se junto com a radicalidade que trafega nas bandas largas da vida. Sempre achei essa interpretação óbvia, mas não vi nada parecido em nenhum lugar.
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