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28 de janeiro de 2022

JOGO

 Nei Duclos 


Se estiveres voando 

Não se impressione

Eh só cinema


Se estiveres chorando

Não eh contigo

Eh só um romance


Se estiveres pensando

Não se esqueça

Vem de outra fonte 


Se estiveres criando

Não amoleça

Deus esta vendo

22 de janeiro de 2022

FIM DO MUNDO

 Nei Duclós 


O mundo então calou-se

Por não ter o que dizer

Fechou-se em copas

Como as plantas carnivoras

Depois de devorar os últimos insetos. 


O poema mudou-se

Para planetas mais doces

Onde possa sobreviver


O colecionador de sementes

Navega sem porto no mar ignoto

Que bate nos contrafortes

Das serras do amanhecer


Nei Duclós

17 de janeiro de 2022

PERFUME

 Nei Duclós 


Se agora estou vivo

Ainda há esperança 

Mesmo que a dança do extermínio

Se encha de confiança

E imponha o ritmo do funeral na consciência

E o coração esteja tão vazio

Como o rio Uruguai na seca


Agora estou vivo

E todas as memórias  se completam

Povoamos o paraíso de  conflitos

Mas colhemos a flor do fruto ainda por vir

O jeito de resistir 

Imaginando um futuro  com o perfume de conquista



15 de janeiro de 2022

QUATRO ESTAÇÕES

 Nei Duclós 


O que fiz está feito

Não mudarei o entorno da torta árvore 

O corpo é  o que ofereço à eternidade


Os versos são datados

Folhas secas de um outono raro

Véspera do inverno do esquecimento 

Grudado ao verão que o 

anunciou amargo


Fiz por gosto e contingência 

Não fosse o amor

Não teria feito

O melhor de mim

Primavera tardia mas a tempo




14 de janeiro de 2022

COMEÇO

 Nei Duclós 


Aqui, Uruguaiana, onde o Brasil começa

Onde o rio rumo ao Prata abraça o pampa

Somos o sinal de alerta de um país soberano 

A paz da sesta, a pressa do Minuano


Lutamos pelo chão,  

encharados de sangue

Terra de pescadores, de plantas e rebanho


Em tuas ruas largas mora a memória 

Em teu coração montei minha casa de barro 

Meus cavalos de sonho, querencia a céu aberto


Aqui, Uruguaiana

Onde sopra a grandeza

De sermos conterrâneos 



8 de janeiro de 2022

NAVALHA

 Nei Duclós 


Arrisco na oficina

Já gasta de tanto ofício

Duvido que reaviva

A chispa que alimente a trilha


Noto o fio cego da mavalha

Na longa noite de metais sujos

A mão que iluminou maravilhas

Apenas se pergunta 


Serei ainda o ogro do verbo claro

Ou viciei na lavoura do deserto?


Crie o que pinta, disse assim o anjo 

Exausto dessa minha rotina

De morar no céu a inventar o mundo

E não saber ainda qual o meu destino


Acredite, disse ele

Eu só existo porque és exímio

Em produzir o sonho no universo cinza

A revelar o verbo oculto em bruta mina

Mesmo que negues ser o escolhido 


Nei Duclós

2 de janeiro de 2022

A RAINHA DO MAR

 A RAINHA DO MAR


Os versos nascem livres

E cedo aprendem a voar

Pousam em jardins inacessíveis

Onde jamais serão recolhidos para formar uma obra


A poesia sobra 

Ave soberana do oceano


Nei Duclós

NÁUFRAGOS

 NÁUFRAGOS 

Treinei contigo o amor impossível 
Caímos de boca na liberdade virtual
Cada palavra com sabor de verdade
O desejo embrulhado no sonho
O corpo jogado num temporal

Depois acordamos
Como náufragos na praia do real

Nei Duclós