Nei Duclós
O dia já estava alto e Miguel não atendia
O telefone tocou, ele não mais existia
Partiu como um querubim, um arcanjo decidido
Colhido na mocidade com os pais ainda vivos
Que em vão o sacudia naquele final de vida
Estava de bruços, rijo, de rosto roçando o piso
A morte foi confirmada por dois especialistas
Que indiferentes levaram o corpo que estava frio
Mais tarde o sepultamos num sinistra tardinha
Em que nos despedimos sem saber o que dizíamos
O padre o encomendou falando que estava listo
Cumprira sua missão de estudos na academia
E que todos temos o mesmo duro destino
Ainda hoje me pergunto porque faço poesia
Se não serve de consolo nem gera uma epifania
Que seria sua volta numa data festiva
Dizendo que foi um sonho fruto da fantasia
E não este luto imenso que nos devora por dentro
Este final dos tempos, obra do Apocalipse
Que só uma criatura na sua missão divina
Pode trazer esperança para a crueza infinita
Com suas asas silentes e a voz de teimosia
A nos dizer sempre é tempo , meu pai, fique firme
Nei Duclós
Miguel Lobato Duclós
29/5/1978
23/10/2015
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