Páginas

23 de outubro de 2020

ARCANJO

 Nei Duclós 


O dia já estava alto e Miguel não atendia

O telefone tocou, ele não mais existia

Partiu como um querubim, um arcanjo decidido

Colhido na mocidade com os pais ainda vivos

Que em vão o sacudia naquele final de vida

Estava de bruços, rijo, de rosto roçando o piso


A morte foi confirmada por dois especialistas

Que indiferentes levaram o corpo que estava frio


Mais tarde o sepultamos num sinistra tardinha

Em que nos despedimos sem saber o que dizíamos

O padre o encomendou falando que estava listo

Cumprira sua missão de estudos na academia

E que todos temos o mesmo duro destino


Ainda hoje me pergunto porque faço poesia

Se não serve de consolo nem gera uma epifania

Que seria sua volta numa data festiva

Dizendo que foi um sonho fruto da fantasia

E não este luto imenso que nos devora por dentro 

Este final dos tempos, obra do Apocalipse

Que só uma criatura na sua missão divina

Pode trazer esperança para a crueza infinita

Com suas asas silentes e a voz de teimosia

A nos dizer sempre é  tempo , meu pai, fique firme 


Nei Duclós 


Miguel Lobato Duclós 

29/5/1978

23/10/2015

Nenhum comentário:

Postar um comentário