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22 de dezembro de 2018

ROMA: CINEMA FORA DO CINEMA


Nei Duclós


Alfonso Cuarón filma o que não faz parte do cinema, o que está no fim ou fora das sessões vespertinas dos anos 70 num bairro da cidade do México, Roma, que dá título ao seu novo lançamento, disponível na Netflix. O que não existe nos filmes clássicos vistos por casais pobres, mas existe nas rotinas domésticas de crianças e mulheres de uma casa de classe média, é o que ocupa o cineasta de Gravity, seu grande sucesso que nasceu do impacto sobre ele, criança, de 2001, de Kubrick. Ele reproduz uma cena de 2001 – a do astronauta que sai da nave para resgatar o colega morto pelo supercomputador Hal – mas com atores mexicanos. É a forma de dizer que o cinema vem de fora e impacto o interior de cada um e se refaz é adaptado ao mundo pessoal.

Cuarón filma pequenas tragédias das mulheres, a gravidez indesejada, a separação brutal, o stress de momentos terminais. Especialmente quando a empregada doméstica vai falar com o pai da criança que ela carrega ainda no ventre e este o agride com sua fúria de filme de Bruce Lee. O mesmo sujeito estúpido faz parte da polícia e participa do massacre de estudantes insurgentes.

Cuarón filma a rotina doméstica das empregadas, da dona da casa, do marido, da avó, das crianças, todos reunidos em torno de programas humorísticos de TV, que é uma representação do que o cinema também não mostrava, pois a televisão na época era marginal á Sétima Arte. O filme, em clássico preto e branco, é um achado cinematográfico desse grande diretor, que enfrenta o desafio de filmar o que o cinema omite e nos revela a grandeza das imagens aparentemente banais, mas que estão plenas de heroísmo, amor, esperança, luta e dor.


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