Nei Duclós
Leio a biografia de Julio Cesar na obra de Plutarco e noto
que as sacanagens políticas (que chamam de "estratégias") se repetem
ao longo dos séculos. Ou os modernos leram Plutarco e imitam as ações dos caras
que assumem o poder absoluto se servindo do voto e da propina, ou a humanidade
obedece a uma estrutura rígida de comportamento, seja a época que for.
Comprar o voto do povo e ao assumir cargos usando-os para
amealhar mais fortuna é uma das sacanagens. Aparentemente unir adversários
poderosos para se tornar o tertius viável para assumir o poder, que se torna
total aos poucos, é outro.
Burlar a lei por meio do convencimento e da oratória e da
distribuição de benesses também. Mandar matar adversários, usar os laços
familiares para ocupar espaços no poder (os casamentos de ocasião), contrariar
a lógica dos fatos seduzindo a opinião pública com palavras e gestos,
conquistar terras estrangeiras cevando a dissolução e as divisões internas,
suspeitar de tudo e de todos, expressar virtudes e abrir mão de tesouros em
favor da glória de reinar sobre o mundo inteiro, eis os expedientes marotos que
vemos nas páginas do grande historiador e cronista romano.
Plutarco, ao historiar a vida paralela a César, a de
Alexandre Magno, dá detalhes sinistros sobre os bastidores e as crueldades do
poder, o mesmo tempo que faz hagiografias dos dois potentados. É um fascínio
pelos personagens, sem poupar nada de suas fraquezas e violências, exaltando a coragem
e a destreza nos combates, a genialidade no exercício do poder, a dureza no
trato com o ato de reinar. Plutarco é um autor moderno, não poupa as
contradições e nos dá um amplo cenário sobre esses momentos decisivos da
História, o da conquista do mundo pelo menino prodígio Alexandre e, em Cesar, a
expansão do Império Romano e a ruína de seu sistema de governo, que da
República passou à tirania pura e simples. Tudo a ver conosco.
RETORNO - Imagem: obra de Lionel Royer
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