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20 de dezembro de 2015

DOIS CINEMAS EM BIRDMAN



Nei Duclós

Teatro é o cinema em Birdman, de Alejandro González Iñárritu (de 2014, quatro Oscar). Não se trata de teatro filmado. A peça de teatro é o filme e seu diretor e ator principal, Rigman Thomson, interpretado por Michael Keaton, protagonista de um filme. O que aparece também como cinema, a glória passada do ator numa franquia de super-heróis, é apenas uma assombração do que foi a Sétima Arte. A notoriedade, o sucesso de um herói mascarado, ou seja, sem a identidade do artista, se contrapõe ao sofrimento do ator que procura emergir no palco com sua arte.

Há assim um filme sobre dois cinemas: o comercial, que é a memória do sucesso e serviu para sufocar o talento do intérprete; e o cinema de autor, de um talento sufocado por suas dúvidas e a necessidade de acertar. Um círculo obsessivo em direção ao comportamento suicida, em que a família destroçada interage com um elenco dividido entre egos e ódios (elenco de primeira, Edward Norton, Naomi Watts, Emma Stone). Conforme vai se aproximando a estreia teatral, o apelo do sucesso perdido aperta o cerco por meio de falas imaginárias de um alter ego, pautadas pelo remorso.

A libertação é impossível para o ex-herói que se redime na montagem que fez a partir de recordações e leituras da infância. A peça é o filme bem sucedido, obra autoral que ressurge, enquanto o personagem pássaro é a carga da morte do cinema de qualidade, que leva ao desfecho de falsa transcendência.

Iñárritu costuma assustar. Sempre consegue.


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