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27 de setembro de 2015

LEIO TUA ARTE



Nei Duclós

Leio tua arte
que os versos transportam
como rios subterrâneos
de uma terra ignota
*
Encerras o papo agradecendo
Devias deixar em suspenso
Para a resposta ficar
À altura do assédio
*
Estás perdida. Obra das armadilhas
que encaras como profecias.
Volte ao seu aprisco, o poema límpido,
a prosa como luar e neblina, tua alma,
o mais raro diamante da profunda mina.
*
Sujas teu verbo,
talvez arrependida
do teu talento.
Fique atenta.
Não eras assim,
quando sonhada pela Lua.
*
Te escondes
Submersa
Tesouro que não acesso
Minha tragédia
*
Remota
e feminina
Torre em alto mar
Concha de vidro
*
Rosto contrito
Concentrada no dom
De ser amada
Suspenso suspiro
Aguarda meu impulso
Decisivo
*
Preciso de paz
fonte do poema
*
Deu tudo certo
Você fez manha
Te tirei do aperto
Lembrei que devia
Mil abraços
*
Era o amor, não tínhamos dúvida
Por isso choramos quando o primeiro raio de sol dourou
nosso lençol de linho
*
O poema fica com a última palavra.
Depois dele, o universo se apaga
Deus não retruca, a vida se recolhe
tudo volta à planície da aurora
antes de uma novo Gênesis
caixa de Pandora
*
Suspiras para imitar o vento.
Já levantei âncora, na espreita.
Estás no cais, perfeita.
Imã de concentrado pouso.

FRIORENTA

Cruzei a noite contigo no ombro. A Lua sentiu ciúme e da janela aberta providenciou geada. Acordaste tonta, friorenta.

Doçura extrema, amargas o exílio. Vou te buscar alimentado pela memória do teu açúcar.

Nenhum verso era para ti. O endereço estava errado.

Distribuo o verbo que a vida me entrega. Compromisso de fonte que jamais seca. Cântaro cheio por todo o deserto.

Ficaste muito tempo longe de mim. Agora lembras de algumas tardes de sol. Trechos de versos que escondi junto com o amor.

RETORNO - Imagem desta edição: A Arte e a Literatura, obra de William Bouguereau.

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