Nei Duclós
Jesus não era socialista. Isso é anacronismo grosso.
Também não era operário, era filho do dono.
No caso, o dono, José, não era carpinteiro, mas empreiteiro. Ele se
encarregava das construções contratadas pelos ricos da Judeia e pelos romanos,
que dominavam a área. Eram serviços de grande responsabilidade, que incluíam os
préstimos de pedreiro, carpinteiro etc., assumidos por parentes, amigos,
agregados, mestres de ofício etc.
Jesus foi iniciado nos trabalhos do negócio paterno como colaborador e
herdeiro, da mesma forma que teve formação espiritual apurada, frequentando o
templo desde cedo.
Colocar o cristianismo no âmbito marxista é aparelhagem política
oportunista sacana, assim como colocá-lo a serviço dos reaças.
Meu Reino não é deste mundo dizia ele. Ou seja, não fazia parte dos
interesses, das celeumas, das questiúnculas políticas e religiosas. Francisco
deveria prestar atenção no que seu Mestre diz.
Ao mesmo tempo, Jesus não se negava a encarar os poderes, usando seu
domínio da palavra, seu discernimento e sabedoria. Devolver a moeda do tributo
ao cobrador do imposto, não cair na armadilha da pergunta sobre a verdade,
denunciar a exploração comercial da religião são alguns feitos famosos de sua
ação.
O Papa Francisco não tem densidade teológica e fica à mercê do vento.
Faz sucesso, mas à custa da doutrina que representa.
O Papa é falível. Contraria o dogma da infalibilidade papal.
Não pode colocar Cristo como a representação do Che Guevara, mesmo não
tendo intenção para isso. O marxismo já fez esse serviço ao destacar a
iconografia do Che como um Jesus crucificado. Pasolini também fez um Cristo revolucionário,
pardo, pobre que fez muito sucesso nos anos 60. Tão equivocados quanto as
representações medievais do Cristo loiro.
Há muita diferença em relação a João Paulo II (nome que homenageia o
papa assassinado, João Paulo I), que passou um pito no bispo de esquerda na
frente das câmaras. Precisa ter poder espiritual e temporal para isso. Não
basta ser contra o câncer, a destruição do meio ambiente, da guerra ou ser a
favor dos migrantes.
Jesus não era um desamparado. Seus pais foram para a manjedoura porque
Belém estava lotada na Páscoa. José tinha recursos para pagar uma hospedaria.
Foi um problema de lotação, não de exílio ou marginalização. Fugiu para o Egito
na perseguição, mas conseguiu ir e voltar depois, pois fazia parte das familias
abastadas.
Ele teve segurança financeira suficiente para ficar em casa até os 30
anos desenvolvendo sua doutrina. O que foi difícil, mesmo sendo filho de Deus.
Ponha-se no Seu lugar: decidir abandonar a confortável casa paterna (e negá-la
publicamente depois, no auge da pregação), reunir discípulos e doutrinar a
massa.
Parafraseando o grande frasista Vicente Mateus, incluam Jesus fora
disso. É preciso sobriedade e conhecimento para não cair na tentação de usar
Jesus politicamente.
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