Nei Duclós
Domingo
generoso de cinema. Revi, no Netflix, My life as a dog, de 1985, de Lasse
Hallström, e, no Telecine Cult, Vertigo,
de 1958, de Alfred Hitchcock. Rever um grande filme é como ver um filme
maravilhoso pela primeira vez. Tinha esquecido quase tudo das duas obras. Só
agora notei que a animação de um corpo que cai (título da tradução brasileira)
de Vertigo é a mesma da apresentação da série Madmen. O filme está sendo
considerado o melhor do cinema até hoje, desbancando Citzen Kane, de Orson Welles,
em alguns rankings.
Em Minha
vida de cachorro (título da tradução brasileira), é tocante o carinho com que
os suecos tratam o Brasil. Eles nos respeitavam graças à Copa de 1958, quando
ganhamos a final de lavada, depois de um início tenso. O filme sueco homenageia
a arte desenvolvida pelos brasileiros, de inteligência (a bola dominada na
mente) e criatividade (o samba nas pernas, como diz o treinador dos jovens
jogadores). Esse sim é o patrimônio
cultural do Brasil , jogado fora em favor de algumas porcarias. Mas deixa para
lá.
O filme
aborda a iniciação sexual na puberdade em meio a dramas familiares como a perda
da mãe (interpretada por Anki Linden) e do ambiente doméstico, incluindo a
separação do menino da sua casa, do seu irmão e da cadela de estimação. O
garoto Ingemar (Anton Glanzelius ) é assediado por várias mulheres, entre elas
a bela Saga (Melinda Kinnaman) , a adolescente que age como um menino para
poder jogar futebol e lutar boxe de igual para igual com os garotos e que aos
poucos revela todo o esplendor do seu gênero. Ingemar é o mesmo nome do pugilista
que ganha o campeonato mundial e a Suécia assim comemora seu título, numa
celebração da Sétima Arte absolutamente encantadora. As feridas cicatrizam com
o tempo e com o o apoio de um espírito comunitário saudável.
Vertigo mostra
o alto preço que se paga pela “cura psicológica” baseada em tratamentos
oficiais. . Sacrifica-se a vida para alguém voltar à normalidade. Demolidor. No fundo, a solidão é a verdadeira doença. O egoísmo,
o espírito anti-gregário, a fuga dos sentimentos, que explodem em momentos
terríveis,condenam os personagens à miséria espiritual. Trata-se de um filme magnífico,
de infinita fortuna crítica. Noir é Hitchcok. O clima pesado das imagens, das
sequencias de lenta perseguição de James Stewart a Kim Novak, a música
incidental, os detalhes esplendorosos, a perfeição dos diálogos nos convencem
que será muito difícil que o nível do cinema atual atinja o mesmo primor de
décadas anteriores . Hoje temos um cinema que cai.
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