Nei Duclós
Ergues o futuro, com tuas mãos trêmulas
do susto que a viagem impôs à tua família
a criança é o emblema, no convés flutua
enquanto sorris, esperança de virtudes
Cortaste vínculos, só resta tua linguagem
pois a terra se foi, tragada por tormentas
o horizonte apaga as pistas ainda no berço
aguardas que o barco cumpra a sua agenda
Chegas molhado, pai de nova estirpe
mostras documentos, feridas sob a pele
entras na fila em fronteira de triagem
quando acabará a dor, nome do exílio?
Balbucias orações na voz que pede auxílio
tua fala desarmada é o rude passaporte
te acolhem numa pátria, enigma prometido
tens um coração e ele pulsa como um filho
A tribo que acompanha o risco da passagem
é idêntica a ti, personagem sem mácula
a inocência se ausenta na roda de conflitos
mas não há culpa entre os teus guardados
Alguém diz bem-vindo, os dentes cerrados
compartilhas o desejo de ter novas raízes
o balido infantil é o som de um realejo
tiras a sorte com a paz fechada a chave
RETORNO - Imagem desta edição: foto jornal Publico
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