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2 de agosto de 2015

A PAISAGEM E OS PÁSSAROS



Nei Duclós
 
A paisagem e os pássaros não sobrevivem à vingança.

Sabedoria é miolo de pão para os pombos. Eles se servem, depois se refugiam nas torres do campanário. De lá arrulham cantos gregorianos.

Teu rosto de ponta cabeça. Parece um disfarce, mas a boca suprema revela a densidade do desejo.

Era um vestido de chita na pintura atirada num canto. Mas havia o olhar, geradora de neblina.

Não escreva mais para mim, disse ela. Dói a beleza do poema saindo da tua ausência

Tudo é muito simples. Depois disso, complica.

Fui eu que errei, como sempre. Acertei as horas do desfecho.

Tivemos amor mas destruíram. Fiquei com os versos devolvidos

O telhado se alimenta com a luz da lua.

Sem o amor que o sustentava o verso perdeu o sentido. É como a ruína numa praia abandonada.

Se eu dormir de chapéu meus sonhos terão um teto para morar?

Divido paisagens, que o tempo anuncia.

Pincelei a nuvem, disse o sol de saída, na tela do céu no fim do domingo

Só o amor faz sentido. O resto se esgarça sem ruído.

Fiz de conta que não vi. O coração custa a aceitar

Viver é desapaixonar-se. Olhos livres da catarse. Amar sem ressaca. Habitar-se a longo prazo.

Passagem no lugar de passado. Urgente em vez de presente. O futuro no lado de fora

Insistiu tanto que beijou seu coração. Os lábios congelaram


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