Nei Duclós
O roteiro
sobre um roteiro de filme é o próprio filme em Get Shorty (O Nome do Jogo , 1995),
de Barry Sonnenfeld,com John Travolta, Gene Hackman, Rene Russo e Danny DeVito.
O gangster de Miami quer investir em cinema e sugere a ideia do roteiro baseado
em sua experiência de ir cobrar a conta devida a um agiota em Los Angeles. As
duas narrativas se confundem e tudo acaba numa cena de estúdio.
Travolta
está imbatível. Ele ensina que um personagem é criado a partir do seu andar. Seu
gangster é um apaixonado por filme noir. Seu favorito é A Marca da maldade, de e
com Orson Welles, aquele filme em que “Charlton Heston faz papel de
mexicano”, como costuma dizer às garotas. Ele sabe de cor os diálogos e os
repete na sua vida “real”. Só que não há vida real, é tudo cinema e filme sobre
cinema.
É o que
acontece em outra obra. O cenário do jogo é um estúdio de cinema que mostra
seus truques em The Sting (Golpe de Mestre, 1973), de George Roy Hill, com Paul
Newman, Robert Redford e Robert Shaw. Os jogadores são, no filme, atores, que
fingem fazer apostas. As vítimas usam tinta vermelha para sugerir sangue e
enganar o mafioso. As balas são explicitamente de festim na história que está
sendo narrada. É como no cinema: montes de gente (a plateia, representada pelos
falsos jogadores) sabem que é um golpe, um truque, só a vítima que finge que
não sabe.
A maquiagem
e as roupas servem para criar personagens falsos dentro da paródia toda. No
desfecho, os atores, principais e coadjuvantes, se safam, depois de dar um
golpe de meio milhão de dólares no meliante. O chefe do FBI é fake, como todos
os outros. A garçonete apaixonada é bandida. O speaker de jocquey é contratado
pelos golpistas. Tudo é escancaradamente falso. É um filme que diz: é só cinema,
vejam. E é ótimo.
Um filme não
é feito para as pessoas acreditarem na sua verdade, mesmo os baseados na vida
real. Em Fargo, os irmãos Cohen colocaram esse jargão no início e depois
confessaram que “baseado em fatos reais” é uma ficção como qualquer outra. Um
filme é para mostrar que tudo o que está na tela é só cinema. É o supremo
narcisismo dessa arte de individualismos. O cinema é o protagonista. O resto,
inclusive nós, é coadjuvante.
Todo filme é
sobre cinema. Cada vez me convenço mais disso.
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