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7 de janeiro de 2015

TEMPO DEMAIS



Nei Duclós

Tempo demais nesses rabiscos
a terra indiferente não escuta
espaço que resta ainda é vida
desvinculo o ser do duro ofício

Emoção não compartilha poesia
há mais sonho fora do circuito
jardim que o ourives ludibria
sem que uma palavra seja dita

Não espere a fonte do suspiro
demiti a reação sob medida
saí na chuva, passageiro tímido
enfrento uma sombra na avenida

Hotel afastado pouso o olho
pela janela vejo o detetive
ele chama o resto da polícia
escapo com letras do tesouro

Navio em porto nordestino
me trouxe até o final da rua
escrevo sem ver, ficam as cinzas
sujas do convés do meu abrigo

É sem noção a dor ou o cinema
me transporto para o gás neón
pisco atrações, ganho por hora
tudo deixei na busca de ser livre

Nei Duclós


RETORNO - Imagem desta edição: Joseph Cotten em cena de The Third Man, de Carol Reed

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