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1 de setembro de 2014

OS PÁSSAROS: A EXPLOSÃO DO CATIVEIRO



Nei Duclós

O medo confina os sentimentos e os transforma em mercadoria. Esse confinamento vira uma segunda natureza na mansidão em pânico das pessoas isoladas e solitárias. Ao tentar romper o casulo, forçar a barra para dar uma chance a uma vida plena, de amor e convívio, a mulher acaba desencadeando o caos no cativeiro. O que estava aprisionado, exemplo de bom comportamento, mostra-se agressivo num primeiro momento, e pela multiplicidade inumerável, torna-se aterrorizante. É o que nos sugere Os Pássaros, de Alfred Hitchcock,  desde a princeira cena, exatamente numa loja de aves engaioladas. .

Para ser bem sucedida em sua investida de conseguir um relacionamento fora do seu circulo de mediocridades, a socialite Tippi Hedren tenta chegar anonimamente para oferecer pássaros comprados em gaiola para a irmã do seu alvo, o galã Rod Taylor. Mas é flagrada em sua investida e aí começa a sucessão de ataques de gaivotas e corvos Por ser adventícia e querer romper o equilíbrio dos relacionamentos vazios, representados pelos grandes espaços abertos do lugar, Bodega Bay, ela é identificada como a fonte da tragédia que se abate sobre a aldeia. O pânico medieval a escolhe como autora bruxa do horror que vem dos céus (o fim do mundo, segundo citação bíblica do bêbado local).

O desafio de Hedren é a futura sogra possessiva , interpretada por Jessica Tandy, que mantém o filho solteiro afastado dos relacionamentos depois que perdeu o marido, exemplo de casamento maduro, longevo, prático e satisfatório. Essa morte provoca um vazio nas pessoas ao redor, não apenas na adolescente (Veronica Cartwright) irmã do galã, mas na sua ex, a professora Suzanne Pleshette, que se separa dele mas continua por perto, numa paixão reprimida e eterna. Todo esse círculo de frustrações desencadeia o núcleo do tornado de pássaros que varre os habitantes, que ficam à mercê da fúria dos sentimentos fora do cativeiro.

A mulher que ousou romper a capa protetora da vida medíocre (que chega pela água, a sexualidade) precisa ser punida quando tenta penetrar na intimidade da casa onde pretende morar. Ela abre o sótão e vê o estrago das aves que destruíram o telhado e a atacam quase até a morte. Ao tornar-se vítima, consegue enfim a aprovação da sogra e com o resto da família se retira do lugar amaldiçoado para sempre.  Os sentimentos soltos estão agora em repouso, mas podem voltar a atacar em qualquer oportunidade. Basta tentar confiná-los e transformá-los em mercadoria.

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